Mons. Dario Viganò: o cinema e o sentido da vida
Silvonei José - Cidade do Vaticano
Nos dias 04, 05 e 06 de setembro de 2018 a Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUC-PR, por meio de seu Instituto Ciência e Fé, realizará a 3ª edição do projeto Átrio dos Gentios.
A primeira edição foi sobre o tema “Deus, Cosmos, Humanidade: um diálogo de fronteiras, em 2016 com a presença do Cardeal Gianfranco Ravasi. A 2º edição em 2017 teve como tema “Por uma cultura da hospitalidade e da coexistência: o desafio e as possibilidades de vivermos juntos”.
Neste ano de 2018 o tema será “Sentido da Vida”. Nesta 3ª edição foi convidado a participar Mons. Edoardo Viganò, Assessor do Dicastério para a Comunicação, que tratará do tema do cinema: o cinema e o sentido da vida. Mons. Viganò conversou com Silvonei José sobre o encontro do qual vai participar na PUC do Paraná.
P. – Mons. Viganò, o encontro é no Brasil. O senhor estará presente na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba para participar do encontro "Átrio dos Gentios". O senhor leva o tema do cinema, sendo um especialista na área. Qual cinema o senhor está levando aos brasileiros?
R. - A idéia é a de falar um pouco sobre a narração cinematográfica, do cinema não exclusivamente lúdico, de diversão, mas também sobre o cinema que sabe contar as dobras do humano. Porque é precisamente no humano que encontramos os espaços para as grandes questões do homem, que muitas vezes são questões que têm o sabor que antecipam o Evangelho.
P. - O cinema pode ser também um instrumento verdadeiramente válido para a Igreja ...
R. - Acho que sim, pelo menos olhando a história; porque não devemos esquecer que nos anos cinquenta, por exemplo, muitos missionários, precisamente para fazer catequeses em lugares de missão, mostravam pequenos filmes que eles mesmos filmavam com atores improvisados. Então, digamos que certamente pode ser um útil instrumento. Também porque não devemos esquecer que é uma narrativa, e a narrativa não é um escrito crítico, não é uma discussão, não é uma demonstração: a narração pertence àquele gênero pelo qual o narrador é uma testemunha, está envolvido. Pense nas narrativas no Evangelho.
P. - Na Igreja há ainda espaço para, não digo explorar, mas utilizar o cinema para a evangelização?
R. - Acho que sim, pelo menos em dois níveis. Em primeiro lugar, existe, por exemplo, a possibilidade de produzir documentários. O documentário tem um custo decididamente mais baixo, muito inferior à produção de um filme. Muito frequentemente, os documentários são também uma oportunidade reunir em um projeto diferentes sujeitos que podem também investir economicamente. E isso eu acho que seja muito útil, porque há aspectos da religiosidade popular, da cultura e da arte cristã, que talvez não se tornam sujeitos de grande interesse para as produções cinematográficas, mas podem se tornar sujeitos para uma divulgação cultural e religiosa por parte da Igreja. Uma segunda maneira de valorizar o cinema e usá-lo em chave-pastoral, é abrir espaços - aqueles que outrora se chamavam de "cineclube" - ou seja, encontrar alguns filmes que possam de alguma forma ajudar a entender o que são as grandes parábolas do Evangelho. Refiro-me, por exemplo, e apresentarei breves filmes aparentemente muito distante do mundo católico – penso especialmente nos filmes de Ken Loach, dos irmãos Dardenne - onde, no entanto, que capta a sensibilidade desses diretores de entrar nas dobras e feridas humanas . E alí começa uma história que é uma história de proximidade, de partilha. Certamente é uma partilha humana, mas é uma partilha que provavelmente repousa sobre um mistério maior do que nós, que é precisamente a grande condescendência de Deus para com o homem.
P. - Jesus Cristo também foi protagonista de muitos filmes, fez época porque também criou o "Jesus Cristo super star" ...
R. - Claro, é verdade: há muitos filmes - acredito que quase 150 - sobre Jesus, produzidos desde o começo. Não nos esqueçamos de que, quando o cinema nasce, o que vai muito do ponto de vista religioso é o que chamamos de "as sacras representações". Assim, o cinema, quando nasceu em 1895, faz esse raciocínio: todos conhecem a história de Cristo, então podemos começar a contar essa história e retomam as sacras representações. Até mesmo na França nasce uma casa especializada sobre um momento da vida de Jesus "As paixões". E há a la “passion pathé” o caminho da paixão, isto é, a Pathé torna-se uma casa cinematográfica francesa que se especializa precisamente nesses pequenos filmes sobre a paixão de Jesus. Depois, no espaço da história, o cinema se desenvolveu muito e também ali temos um cinema sobre Jesus que é o cinema estadunidense, que, em comparação com o italiano, por exemplo, é bem diferente, a cinebiografia americana, até chegar a histórias que são histórias inquietas - penso em Scorsese, "A última tentação" - ou em alguns filmes que de alguma forma se aproximam da fantasia como "Os Jardins do Éden" que procura imaginar aqueles que são os anos que não são contados pelo Evangelho, até os últimos filmes que conhecemos - Mel Gibson ... - ou outros filmes mais recentes.
D. - Qual é o futuro do cinema – do alto de seu conhecimento ...
R. - Espero que enquanto houver a capacidade de contar, o cinema existirá. Certamente hoje é importante, por exemplo, como Igreja, investir nos jovens, em jovens que saibam escrever roteiros, porque o segredo de um filme, é claro, é o diretor que sabe filmar bem, que tem um olhar particularmente interessante, mas é o modo como se escrevem as histórias. Creio que talvez um bom investimento seria dar algumas bolsas de estudos para jovens, moços e rapazes, aos mais merecedores de escolas de cinema que possam frequentar grandes estúdios e, em geral os grandes masters, e as grandes escolas de cinema estão nos Estados Unidos: aprender bem a arte sabendo que dentro dessa arte existe o coração dos crentes e isso seria muito importante para as próximas gerações.
P. - Um pensamento aos nossos brasileiros que estarão na Pontifícia Universidade Católica do Paraná…
R. - Creio que o Brasil tem muitas boas universidades, eu já estive na Pontifícia Universidade do Paraná, em Curitiba e parece-me que ali há uma grande paixão: paixão pelo quê? Por uma inteligência que saiba perceber o gosto do Evangelho nas várias disciplinas e, portanto, não devemos pensar que a ciência seja uma gaveta e a fé seja outra gaveta, mas devemos pensar que um homem e uma mulher façam pesquisa com a própria inteligência. E quando essa inteligência é uma inteligência verdadeira e não a serviço de ideologias, ela só poderá levar à experiência de Deus.
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