Os bastidores das cerimônias do Papa: entrevista com Mons. Marini
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
Mons. Guido Marini é uma presença discreta, mas constante ao lado do Papa Francisco. Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, o genovês de 53 anos é o responsável por organizar as missas presididas pelo Santo Padre dentro e fora do Vaticano – função que exerce desde outubro de 2007, quando foi nomeado por Bento XVI.
Conhecido por ter pronunciado a célebre frase “Extra Omnes” (Todos Fora) no último Conclave que elegeu Francisco, Mons. Marini concedeu com exclusividade uma entrevista ao Vatican News, em que fala da “graça” de trabalhar ao lado do Santo Padre e do significado da liturgia.
Mons. Marini, o que há por trás de uma cerimônia presidida pelo Santo Padre?
Por trás de uma celebração papal certamente há uma grande e também longa preparação, que envolve o Departamento das Celebrações, mas também muitas outras realidades da Santa Sé. Pode-se dizer que a preparação de uma celebração do Papa é um trabalho de equipe e de colaboração entre muitas realidades. Como acontece, vê-se sempre “o produto final”, mas esse produto final é o fruto do empenho, da paixão, do trabalho de muitas pessoas. Há muitas pessoas “insuspeitáveis” que fazem parte deste trabalho e eu penso sobretudo àqueles que devem, por exemplo, adobar a Basílica ou a Praça, pensando nas cadeiras, nos cordões de isolamento: são todos trabalhos muito silenciosos que são feitos longe das câmeras, mas são trabalhos preciosíssimos, indispensáveis para o êxito de cada celebração, para o acolhimento dos fiéis. Portanto, são muito importantes.
Como o senhor definiria este trabalho?
Vem-me uma palavra, que é graça. Porque penso que viver ao lado do Santo Padre e servir e colaborar com Ele seja já uma grande graça. Além disso, se acrescenta o fato de estar perto dele no momento mais sublime da vida da Igreja, que é a celebração litúrgica, a oração, a súplica feita ao Senhor. Por isso, parece-me poder dizer isso: realizar esta tarefa é antes de tudo um dom e uma graça, à qual segue certamente também a responsabilidade e o empenho.
Liturgia e redes sociais: o Papa Francisco nos recordava que devemos ter “corações ao alto” e não “celulares ao alto”. A sacralidade do gesto ainda tem uma relevância para os fiéis?
Penso que sim. No fundo, há uma grande busca, uma sede pela sacralidade do gesto, do sagrado como local do encontro com o Senhor. Devemos estar todos atentos a preservar este sagrado e a fazer de modo que as pessoas possam fazer esta experiência. Porque se realmente o sagrado é espaço de Deus no mundo, deste espaço existe absoluta necessidade, sobretudo neste período, quando talvez o risco é relegá-lo ao segundo plano. E a liturgia é este espaço sagrado no tempo, na história, porque é o espaço em que Deus se faz presente, atua por nós e por isso é tão importante preservá-lo com cuidado.
As celebrações papais não são somente no Vaticano, na Praça S. Pedro e na Basílica Vaticana, mas também pelo mundo. Como conjugar a liturgia local com a tradição vaticana?
Creio que como nos ensinou o Concílio Vaticano II, a liturgia tem essa riqueza de ser uma, mas também capaz de acolher as diferentes realidades, as variadas expressões culturais e as diferentes modalidades de expressar a própria religiosidade. E obviamente, a liturgia papal busca o mais possível, de modo exemplar, colocar isso em prática. De um lado, portanto, a liturgia do Papa nos países no exterior, nas viagens, é a liturgia do Papa, portanto a liturgia que se celebra aqui no Vaticano, mas é também uma liturgia que busca tornar presente os aspectos particulares, específicos, próprios de uma cultura, de um país, de uma expressão religiosa. Isso é sentido, vivido mais em alguns países em que as particularidades são mais vistosas, penso por exemplo na África, em alguns países da Ásia, e me parece que esta seja uma grande riqueza, que nos faz entender como a oração da Igreja tenha esta capacidade de unir na comunhão tantas realidades diferentes e tantos modos diferentes de viver a própria relação com o Senhor.
O senhor faz este trabalho há mais de dez anos: começou com Bento XVI e agora temos o Papa Francisco. Há diferenças no modo de celebrar?
Parece-me que seja normal que seja assim. A liturgia, claro, é a mesma, a liturgia da Igreja, mas cada Pontífice a vive com o próprio estilo, também com características pessoais, e isso é evidente. Se compararmos a liturgia vivida pelo Papa Francisco, pelo Papa Bento, por São João Paulo II e assim por diante, pensando em todos os Papas que se sucederam, também isso faz parte da riqueza em que, certamente, há uma objetividade da liturgia, pela qual a liturgia é esta, mas tem uma participação pessoal, que é capaz de introduzir e inserir aspectos específicos que a enriquecem com a contribuição de cada um.
Nestes dez anos, qual foi o momento mais especial?
Na verdade, foram muitos os momentos especiais. Porém, certamente, um dos momentos mais especiais que vivi nesses anos foi o período do Conclave. Desde o início, quando o Papa Bento anunciou sua renúncia, os dias próprios do Conclave e o momento da eleição do novo Pontífice. Penso que aqueles dias, aquele período, aquilo que vivi ficarão realmente bem presentes por toda a minha vida não somente nas lembranças, mas também e sobretudo no coração.
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