Testemunho dos cristãos iraquianos é um tesouro para toda a Igreja, diz núncio
Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano
Realizou-se nestes dias 13 e 14 de setembro no Auditório João Paulo II da Pontifícia Universidade Urbaniana - promovido pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral – um encontro sobre a crise humanitária na Síria e Iraque.
Participaram 50 organismos de caridade católicos, representantes dos episcopados locais, instituições eclesiais e Congregações religiosas que atuam não somente nestes dois países, mas também nos países limítrofes, além dos núncios apostólicos na Síria, Iraque, Líbano e Turquia.
Na manhã desta sexta-feira, os participantes do encontro foram recebidos em audiência pelo Papa Francisco na Sala do Consistório, no Vaticano.
Cardeal Parolin: valorizar premissas positivas para o difícil recomeço
Durante o encontro na Urbaniana, o cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, disse que o Papa Francisco continuará a repetir seus apelos, pois “estamos convencidos de que somente escolhendo o caminho do diálogo e da negociação se poderá chegar a uma solução pacífica e duradoura”.
“A situação na Síria após tantos anos de guerra – acrescentou – está tão deteriorada, que não é fácil recomeçar, mas existem também premissas positivas e estas devem ser valorizadas em vista de uma solução negociada e pacífica de uma reconstrução”.
O secretário de Estado disse também que “na Síria, se assiste ainda a um complexo processo político-militar, cujos êxitos permanecem incertos”. “Fomos testemunhas de violências nunca vistas e de uma crise humanitária sem precedentes”.
“A Santa Sé continua a preocupar-se com o aumento de tensão entre os atores regionais e internacionais que fizeram da Síria território de conflito de uma guerra por procuração”.
“Na ausência de perspectivas de paz e de esperança para o futuro, na ausência de um processo de justiça e reconciliação, na ausência de um esforço de cicatrização de feridas que envolva todos os componentes das respectivas sociedades, se corre o risco de reacender cedo ou tarde o fogo que se mantém aceso sob as cinzas”.
Núncio no Iraque: cristãos iraquianos sustentados pela fé
O processo de reconstrução na Síria e no Iraque, ainda que lento, já começou. Neste último país, uma nova esperança também é alimentada pelo retorno dos cristãos aos seus povoados na planície de Nínive.
O núncio apostólico no Iraque e na Jordânia, Dom Alberto Ortega Martín, salienta ao Vatican News que estas pessoas são sustentadas pela fé. "O testemunho desses cristãos iraquianos é um tesouro para toda a Igreja". "Nós podemos aprender com essa fé".
No ano passado, a situação no Iraque melhorou. Uma visita do Papa Francisco ao país - disse o prelado - seria um grande apoio para a Igreja e para a paz no Oriente Médio.
R. - Graças a Deus, a situação no Iraque melhorou, especialmente a partir do ano passado, quando foi declarada a vitória militar contra o chamado Estado Islâmico. Muitos cristãos estão retornando aos seus povoados de origem e isso é um fato que encoraja a todos e que nos dá uma grande esperança: por exemplo, na cidade de Qaraqosh, a principal cidade cristã no Iraque, mais de 5.600 famílias já retornaram. E também em outros vilarejos e pequenas cidades existem outras famílias que agora retornaram. De qualquer forma, trata-se de quase metade das famílias que estavam lá antes. Este é um dado muito positivo. Há muito a ser feito, as condições ainda são um pouco precárias, mas é muito encorajador que tenham retornado.
Como a Igreja acompanha e promove esse retorno tão importante e vital também para o futuro do Iraque?
R. - Esta é certamente uma boa notícia não somente para a Igreja, mas para toda a sociedade, uma vez que os cristãos são chamados a desempenhar um papel de grande importância como artífices de paz, de reconciliação e também de desenvolvimento. A Igreja procura ajudá-los materialmente e apoiá-los espiritualmente. E é muito bonito que é a fé que move essas pessoas: pela fé muitos perderam tudo e pela fé agora eles retornam, mesmo que não tenham todas as garantias. Esse retorno é um direito. É um direito que aqueles que foram expulsos pela fé possam agora retornar aos seus povoados de origem.
Muitas dessas pessoas também passaram pelo inferno da perseguição. Mas a fé toca verdadeiramente os corações e nunca desvanece ...
R. - Por isso, sempre digo que o testemunho desses cristãos iraquianos é um tesouro para toda a Igreja. Eles testemunharam para nós o valor da fé, o valor do Senhor por quem eles perderam tudo. E podemos aprender com essa fé. Uma fé que agora os encoraja a retornar e continuar a construir a sociedade junto com todos os seus irmãos de diferentes grupos.
Essas pessoas que voltam para suas casas depois de terem sofrido muito também sentem a proximidade da Igreja universal, do Papa, do Vigário de Cristo ...
R. - Sim, as palavras do Papa - em um Angelus ou no final de uma audiência - têm efeitos muito positivo. Também o fato, por exemplo, de que o Papa tenha recentemente criado cardeal o Patriarca de Babilônia dos Caldeus, o principal representante da Igreja no Iraque, foi visto por todos os cristãos iraquianos como um apoio para eles. E até os muçulmanos estavam felizes, porque é sempre um gesto de proximidade com os cristãos iraquianos e com todo o país, que tem necessidade de mais paz e estabilidade.
O Santo Padre expressou diversas vezes o desejo de visitar o Iraque: há alguma esperança de que, finalmente, seja possível realizar essa visita no futuro próximo?
R. - Vejamos um pouco ... Até agora tem sido muito difícil por causa da situação: havia o Estado Islâmico, uma situação de guerra no país. Agora se poderia começar a pensar. Vamos ver como estão as condições e também a agenda do Papa: o Papa tem um grande coração e manifestou publicamente esse desejo. Isso, naturalmente, seria um grande apoio para a Igreja e para a paz no Oriente Médio.
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