Dom Ayuso Guixot: cristãos e taoístas em busca de ética global
Cidade do Vaticano
“A busca de uma ética global é inseparável da experiência de transformação interior, que comporta o afastamento dos males pessoais e estruturais. Visto que essa busca diz respeito a todos, são indispensáveis o conhecimento recíproco e a partilha sem preconceitos entre diferentes culturas e religiões.”
Foi o que disse, nesta segunda-feira (05/11), o secretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, dom Miguel Ángel Ayuso Guixot, no encontro internacional entre cristãos e taoístas, que se conclui, nesta quarta-feira (07/11), em Cingapura.
Valores morais comuns
O prelado encontra-se na Ásia para uma missão que o levará a Bangcoc, Tailândia, no próximo dia 9, para as comemorações do 230º aniversário do templo budista de Chetupon.
Em Cingapura, os participantes do encontro debatem sobre as respostas taoístas e cristãs na crise ética atual, a transformação das instituições sociais e a necessidade de um crescimento espiritual, a interdependência de todos os seres humanos, e a promoção de uma sociedade unida e harmoniosa.
“Não obstante as diferentes visões de mundo e percursos espirituais diversos, tanto o cristianismo quanto o taoísmo partilham um patrimônio de valores morais comuns”, disse dom Ayuso.
Formar civilizações e culturas
Segundo o prelado, “a sabedoria religiosa e filosófica das duas tradições ajudaram a formar civilizações e culturas. O seu patrimônio comum moral vem da lei natural, inerente à natureza humana e eticamente vinculante a todos os seres humanos, independentemente das convicções filosóficas ou crenças religiosas”.
A esse propósito, o secretário do organismo vaticano evidenciou que a Comissão Teológica Internacional católica afirma que “o cristianismo não tem o monopólio da lei natural”.
Depois de ilustrar o papel do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso instituído, em 1964, e recordar os princípios éticos do taoísmo expostos por Lao-Tzu no Tao Te Ching, Livro do caminho e da virtude, dom Ayuso falou da importância do diálogo, hoje, entre essas duas realidades, destacando que dentre os desafios, em particular, para as gerações mais pobres e futuras, estão as mudanças climáticas, falta de oportunidades econômicas e desemprego, terrorismo, falta de instrução, uso de droga e tráfico, segurança alimentar e hídrica, corrupção, ameaças de terrorismo e fundamentalismo, violência religiosa, migração, e desenvolvimento de biotecnologias nocivas, como a manipulação genética e clonagem.
Ética global que reúna valores e normas universais
“Todos esses problemas ultrapassam os confins nacionais e não podem ser resolvidos por nenhum país, se age sozinho. As pessoas se tornaram conscientes da responsabilidade ética e moral de ter de intervir sem demora para enfrentar essa situação”, frisou.
O prelado reconheceu a necessidade “de uma ética global que reúna os valores e as normas universais que moldaram o patrimônio da experiência humana durante séculos”. Concluiu, afirmando que “no coração desse patrimônio ético comum está a regra de ouro: não faça ao outro o que você não gostaria que fizesse a você”.
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