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Padre Hans Zollner, presidente do Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores Padre Hans Zollner, presidente do Centro para a Proteção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores 

Pe Zollner: encontro de fevereiro já inicia agora, com fase de consultas

O sacerdote jesuíta Hans Zollner é o referencial do Comitê de organização do encontro que terá lugar no Vaticano de 21 a 24 de fevereiro de 2019, e que reunirá lideranças da Igreja de todo o mundo para tratar do tema de abusos de menores na Igreja.

Cidade do Vaticano

O Santo Padre instituiu nesta sexta-feira (23), uma Comissão para organizar o Encontro sobre a “Proteção dos Menores na Igreja”, que se realizará no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro de 2019. Entre seus membros, o Papa nomeou o sacerdote jesuíta, Padre Hans Zollner, pessoa de referência da Comissão.

Padre Hans Zollner é Presidente do Centro para a Tutela dos Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e membro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores.

Nesta fase de consulta, em vista do Encontro no Vaticano sobre a “Tutela dos Menores na Igreja”, a Vatican News e o jornal l’Osservatore Romano, fizeram uma entrevista ao Padre Hans Zollner, ao qual perguntaram:

Qual a finalidade desta Comissão?

Tudo deve ser preparado! Para que as coisas sejam bem preparadas é preciso de alguém que se encarregue deste acontecimento. O encontro de fevereiro é um evento importante, aliás, muito importante para a Igreja. Por isso, é preciso ser bem preparado, envolvendo imediatamente todas as Conferências Episcopais. É preciso compartilhar logo as informações, as reflexões, o espírito de oração e penitência e as propostas de novas ações concretas. É necessário também compartilhar a ideia de um caminho sinodal “cum Petro et sub Petro”. Temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, como o Santo Padre disse na “Carta ao Povo de Deus”: “Criar uma cultura capaz de evitar que tais situações, não só não aconteçam de novo, mas que não encontrem espaço para serem cobertas e perpetradas”. Assim, uma boa organização do encontro poderá ajudar a manter, juntos, a análise, a consciência, a vergonha, o arrependimento, a oração e o discernimento sobre as decisões a serem tomadas na justiça e na verdade. Por isso, serão importantes também as consultas que teremos com as vítimas, com grupos de especialistas, leigos, homens e mulheres de cultura. Este trabalho realizar-se-á em união com a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, da qual eu faço parte, sob a presidência do Cardeal O'Malley.

O que será feito, concretamente, nestes meses que precedem o encontro de fevereiro?

Concretamente, a Comissão vai preparar o encontro do mês de fevereiro, tanto em termos de logística quanto de conteúdo, segundo as orientações do Santo Padre. Por isso, enviaremos também um questionário aos que forem convidados a participar. É necessária uma partilha de experiências, dificuldades e possíveis soluções para enfrentar este terrível escândalo. Este modo de agir pode exprimir também a dimensão sinodal, tantas vezes recordada pelo Papa Francisco.

Qual será a estrutura do encontro de fevereiro?

A estrutura prevê um confronto que deverá ser o mais livre e frutuoso possível. Ao mesmo tempo, deverá ser de oração e reflexão, de análise e proposta. Mas, para que o encontro seja frutuoso, - como já disse - achamos muito importante a fase de consulta, que iniciaremos imediatamente. O Santo Padre prometeu estar presente nas sessões de trabalho, que, de qualquer forma, retomará a experiência sinodal.

Haverá material preparatório?

Certamente. Uma das tarefas da Comissão é a de preparar uma documentação básica para os participantes, para que o encontro de fevereiro percorra o caminho trilhado até agora.

Qual o papel da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores nesta Comissão?

Será de estreita colaboração. O fato de eu, como membro da Pontifícia Comissão, ter sido escolhido para coordenar as atividades da Comissão organizativa, demonstra precisamente o que destaquei, por parte do Santo Padre: o reconhecimento do trabalho realizado até agora pela Pontifícia Comissão. Além do mais, ela vai se valer da Comissão na fase consultiva, - como disse antes, - essencial para uma preparação adequada do encontro de fevereiro.

Alguns falam de expectativas audaciosas deste encontro de fevereiro. Na sua opinião, o que o Papa espera realmente deste encontro?

Sabemos que as expectativas são audaciosas, mas é compreensível, por causa da gravidade deste escândalo, que chocou e feriu tantas pessoas, cristãos ou não, em muitos países. Como o Santo Padre escreveu em sua “Carta ao Povo de Deus”, “devemos sentir vergonha quando percebemos que nosso modo de agir negou e nega o que pregamos em alta voz. Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, devemos admitir que não nos comportamos como tais e não agimos em tempo, reconhecendo a dimensão e gravidade do prejuízo que estávamos causando a tantas vidas”.

A Santa Sé afirmou claramente: "Tanto os abusos quanto o seu acobertamento não podem ser mais tolerados e o seu tratamento diferente, por parte dos Bispos, que os cometeram ou os acobertaram, representa, na verdade, uma forma de clericalismo não mais aceitável".

Com uma decisão inédita, o Santo Padre convocou este encontro de fevereiro porque está bem ciente de que a tutela dos menores é uma prioridade fundamental para a Igreja, para sua própria missão e não apenas para a sua credibilidade. Por isso, o confronto dos Presidentes das Conferências Episcopais com os outros participantes do encontro deve ser espontâneo, não condicionado, alimentado pela oração por aquele espírito de franqueza que lhes é próprio.

Muitas Conferências Episcopais reuniram-se, neste interim, em suas plenárias para buscar medidas contra tais abusos. Qual o lugar que ocuparão no encontro de fevereiro?

Ocuparão um lugar fundamental. Como falamos, a fase consultiva começa precisamente agora e servirá para reunir e conciliar, do melhor modo possível, as experiências das Conferências Episcopais. Se o Papa convocou os Presidentes das Conferências Episcopais é exatamente para reiterar o quanto ele acredita no valor da Comunhão apostólica entre o Bispo de Roma e seus irmãos no Episcopado. O Santo Padre está ciente de que esta chaga de abusos ou "sacrilégio", - como ele repetiu tantas vezes, - é um problema que não diz respeito a um só país e não apenas a países ocidentais. Envolve todos os países! Este não é um problema só da Igreja, mas de várias realidades, como a escola, o esporte, a família, que requer uma resposta enérgica e universal, nas especificidades dos contextos e culturas. Este problema coloca-nos, como fiéis, diante do mistério do mal e da necessidade de combatê-lo até o fim, sem hesitação. "Se um membro sofre, todos os membros também sofrem": estas palavras de São Paulo aos Coríntios, citadas no início da “Carta ao Povo de Deus”, levam-nos a compreender o espírito que animaram o Papa a convocar este encontro de fevereiro. Sofremos juntos e, juntos, com a ajuda do Senhor, devemos encontrar a cura: "O único modo para enfrentarmos este mal, que envolveu tantas vidas, é vivê-lo como uma tarefa que cabe a nós e engloba todo o Povo de Deus. O fato de sentir-nos parte de um povo e de uma história comum nos permite reconhecer os nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de deixar-se renovar a partir do nosso interior” (20 de agosto de 2018)

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23 novembro 2018, 14:25