Jornalista Valentina Alazraki: Igreja deve ficar ao lado dos vulneráveis
Jane Nogara - Cidade do Vaticano
Dentro da programação do Encontro no Vaticano sobre "A proteção dos menores na Igreja" (21-24 fevereiro), o tema central do dia é “transparência”. O último discurso no sábado foi o da jornalista mexicana Valentina Alazraki - correspondente da televisão mexicana “desde o final do pontificado de São Paulo VI”, como ela mesma esclareceu - com o tema “Comunicação: para todas as pessoas”.
A jornalista esclareceu que sobre o seu tema “como a comunicação transparente seja indispensável para combater os abusos sexuais contra menores por parte dos homens da Igreja”, falaria não apenas como jornalista, mas como mãe de família, como representante da sociedade civil.
Ao lado dos vulneráveis
Como ponto de partida, a maternidade: como a Igreja deveria comunicar o tema dos abusos. Recordando aos presentes o relacionamento entre irmãos disse: “Recordemos de nossas mães, mesmo nos amando do mesmo modo, dedicava-se especialmente aos filhos mais frágeis, mais fracos”, para uma mãe, prosseguiu “há filhos mais fortes e filhos mais vulneráveis”. O mesmo acontece com a Igreja, todos são amados do mesmo modo. Nenhum cardeal ou bispo é mais importante do que a vítima de um abuso.
Para isso, o único caminho é denunciar estes crimes: “Há outro caminho senão o de estar ao lado das vítimas e não do carnífice? Quem é o filho mais fraco, mais vulnerável? O sacerdote que abusou ou o bispo que abusou ou encobriu a vítima? A jornalista continua: “estejam certos que para os jornalistas, a sociedade civil, as mães e famílias o abuso contra menores é um dos principais motivos de angústia. Nós escolhemos ao lado de quem ficaremos e vocês?”
Aliados ou inimigos
Em seguida Veronica Alazraki afirmou: “Se vocês são contra os que cometem abusos ou os encobrem, então estamos do mesmo lado. Podemos ser aliados, não inimigos”. A jornalista continuou dizendo que ouviu falar várias vezes que o escândalo dos abusos é “culpa da imprensa”, “complô” etc., reconhecendo que as informações são rigorosas por vários motivos, “não se pode culpar a imprensa por ter revelado sobre abusos. Os abusos contra os menores não são fofocas ou boatos”. Depois recorda as palavras de Bento XVI: “a maior perseguição à Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado dentro de si mesma”.
A falta de comunicação, um outro abuso
Dirigindo-se aos participantes diz: “Creio que vocês deveriam tomar consciência de que: quanto mais vocês encobrirem, quanto menos informarem a imprensa os fiéis e a opinião pública, maior será o escândalo” exortou, completando que “comunicar é um dever fundamental, porque se não o fizerem, vocês se tornarão automaticamente cúmplices dos que cometem abusos”.
Sempre no mesmo tema a jornalista continuou:
Tomem a iniciativa
“Acredito”, continuou ela, “que seria muito mais positivo e mais útil se a Igreja fosse a primeira a dar informação, de modo proativo e não reativo, como acontece normalmente”. Recordando que na época que vivemos é impossível esconder alguma coisa. “O primeiro a se beneficiar com a transparência é a instituição porque se focaliza no culpado”.
Aprender com os erros
Os erros do passado ajudam, conhece-se vários casos nos quais se tivesse tido uma comunicação transparente muitos abusos poderiam ter sido evitados. Para exemplificar com clareza, a jornalista cita o caso de Marcial Maciel, fundador mexicano dos Legionários de Cristo, que por motivo de acobertamento do caso, continuou abusando por décadas.
Evitem os segredos, abracem a transparência
A jornalista recorda, que
e observa que dentro da Igreja ainda "há muita resistência em reconhecer que existeo problema dos abusos".
Três conselhos práticos
Vítimas em primeiro plano: Falando sobre a informação direta para conhecer, recordou que os homens da Igreja devem escutar as vítimas, como pediu o Papa Francisco, pois “não são números nem dados estatísticos são pessoas que tem suas vidas destruídas”, e completou, “É difícil informar e comunicar algo que não se tem um conhecimento direto”. “Nos casos de abusos é ainda mais evidente: “Não se pode falar deste tema se não se ouviu as vítimas, se não foi compartilhada sua dor, se não foram tocadas as feridas que os abusos causaram não só no corpo como na alma e na fé”. Enfim advertiu:
Outro ponto sugerido é que aceitem conselhos, e que a Igreja deveria assumir especialistas em comunicação, pois “é sempre mais conveniente informar do que calar ou mesmo mentir. O silêncio custa mais caro do que enfrentar a realidade e torná-la pública”, afirma a senhora Alazraki. E consequentemente a comunicação deve ser feita de forma mais transparente e melhorada: “Pode ser incompleta por falta de investigação mais aprofundada, mas a resposta não pode ser o silêncio ou o no comment, porque, deste modo pergunta-se a outros, e portanto as informações virão de fonte não oficial”.
A jornalista se detem neste ponto afirmando, “O silêncio dá a sensação de que as acusações – sejam estas verdadeiras ou falsas, verdadeiras em parte e falsas em outras – sejam todas verdadeiras e que se teme a resposta que possa ser imediatamente desmentida”.
Investir na comunicação é investir a longo prazo, conclui a jornalista.
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