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Editorial: Forma concreta de amor ao próximo

Francisco recorda que ser católico comprometido na política não significa ser um recruta de algum grupo, organização ou partido, mas viver dentro de uma comunidade.

Silvonei José – Cidade do Vaticano

Iniciamos no último dia 06 de março, quarta-feira de Cinzas, o tempo da Quaresma, um tempo, como disse o Papa Francisco celebrando a missa na Basílica de Santa Sabina, em Roma, que nos convida “a olhar para dentro de nós mesmos, com o jejum, que liberta do apego às coisas, do mundanismo que anestesia o coração. Oração, caridade, jejum: três investimentos num tesouro que dura”.

Também na quarta-feira de Cinzas, como já é tradição no Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou oficialmente a Campanha da Fraternidade (CF). Neste ano de 2019 o tema é “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27).

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A Igreja Católica quer chamar a atenção dos cristãos para o tema das políticas públicas, ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que são previstos na Constituição Federal e em outras leis.  Com a Campanha, como destaca a CNBB, a Igreja no Brasil pretende estimular a participação dos cristãos em políticas públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais da fraternidade. 

Francisco enviou uma mensagem na qual afirma que os cristãos “devem buscar uma participação mais ativa na sociedade como forma concreta de amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no direito e na justiça”. Citando o Documento de Aparecida, recorda que “são os leigos de nosso continente, conscientes de sua chamada à santidade em virtude de sua vocação batismal, os que têm de atuar à maneira de um fermento na massa para construir uma cidade temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus”.

Quem se dedica formalmente à política deve viver com paixão “o seu serviço aos povos, vibrando com as fibras íntimas do seu etos e da sua cultura, solidários com os seus sofrimentos e esperanças”.

Neste mesmo tema, o Papa Francisco recebendo nesta semana em audiência, no Vaticano, os participantes de um Programa de pós-graduação em Doutrina Social da Igreja e compromisso político na América Latina, recordou da necessidade de “uma nova presença de católicos na política na América Latina”.

O Santo Padre recordou que ser católico comprometido na política não significa ser um recruta de algum grupo, organização ou partido, mas viver dentro de uma comunidade.

“A política – chamou mais uma vez a atenção Francisco - não é a mera arte de administrar o poder, os recursos ou as crises. A política é uma vocação de serviço”. Na América Latina e em todo o mundo vive-se uma verdadeira “mudança de época”, que exige renovar linguagens, símbolos e métodos.

A dimensão política da vida cristã é a "construção do bem comum", que nasce do novo olhar sobre a realidade que Jesus nos dá. E citando São Oscar Romero, acrescentou o Papa: "O verdadeiro cristão deve preferir a sua fé e demostrar que a sua luta pela justiça é para a justiça do Reino de Deus, e não para outra justiça.

Para o Papa, três as realidades emblemáticas que mostram uma "mudança epocal" na América Latina e que fortaleceria a construção de um projeto para o futuro: as mulheres, porque "a esperança na América Latina tem um rosto feminino; os jovens", porque neles vive o anti-conformismo e a rebelião necessárias para promover mudanças reais e não apenas estéticas; e, finalmente, os mais pobres e marginalizados porque na relação privilegiada com eles, “a Igreja manifesta a sua fidelidade como esposa de Cristo".

O Papa pediu uma nova presença de católicos na vida política, não no sentido de apresentar novos rostos, mas novas alternativas que deem voz aos movimentos populares e que "exprimam as suas autênticas lutas". E ele afirmou com força que "a própria fé cristã pode levar a compromissos diferentes. A partir daqui, o convite de Francisco para viver a fé com grande liberdade e a "jamais acreditar que há apenas uma forma de compromisso político para os católicos”.

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09 março 2019, 08:00