Com a liturgia, construir a unidade na diversidade
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre o tema: “com a liturgia construir a unidade na diversidade”.
A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos realizou de 12 a 15 de fevereiro em Roma sua Assembleia Plenária, que teve por tema, “Formação Litúrgica do Povo de Deus”. O ponto alto foi o encontro com o Papa Francisco no Vaticano, que na ocasião ressaltou que o ponto de partida “é reconhecer a realidade da sagrada liturgia, tesouro vivo que não pode ser reduzido a gostos, receitas e correntes, mas deve ser acolhido com docilidade e promovido com amor, enquanto alimento insubstituível para o crescimento orgânico do Povo de Deus”.
Passados 50 anos da Constituição Sacrosanctum Concilium, ainda há um longo caminho a ser percorrido e uma tensão a ser superada entre o desejo de “voltar-se a um passado que não existe mais ou de fugir para um futuro presumido como tal”, como disse o Papa.
Ao final da Assembleia Plenária, conversamos com Dom José Manuel Cordeiro, bispo de Bragança-Miranda (Portugal), que destacou a importância de que todos assumam os princípios fundamentais da reforma litúrgica, assim como a formação permanente, antes de tudo dos sacerdotes, mas também de todo o Povo de Deus:
“O caminho se faz caminhando, e é próprio da Igreja, tão alargada, e por isso é católica e universal, nas várias expressões, que haja os vários ritmos da recepção de um Concílio, e concordamos nisso que acabavas de dizer citando o Papa Francisco, então estamos neste caminho. Mas o importante, é aquilo que são os princípios fundamentais da reforma litúrgica, sejam assumidos por todos, porque há depósito da fé, não é uma coisa pessoal, nem desta comunidade, nem deste país, nem sequer deste continente. É toda a Igreja, porque a liturgia é uma obra da Trindade, nós rezamos ao Pai pelo Filho, no Espirito Santo. E nesses princípios fundamentais às vezes há esse cansaço, ou um certo saudosismo, ou querer avançar demais, mas o valor e a dignidade da Palavra de Deus na Assembleia, a presença de Cristo nas ações litúrgicas, todo este espírito da liturgia, requer uma profunda formação, e o caminho é mesmo este, o da formação, e poderia ser um refrão: formação, formação, formação. E o Papa repetiu várias vezes, que é uma formação permanente. Não pode ser pontual, nem circunstancial, e chegou mesmo a afirmar - e isso é motivador para nós - que deve ser dado primeiro lugar à formação permanente à liturgia ao clero, antes de mais nada, mas a todo o povo santo de Deus. Mas todo o povo é guiado na oração, por aqueles que Deus escolhe, a Igreja confirma na sua mediação, como pastores, como os primeiros responsáveis, não como donos, mas como servidores da Palavra, servidores do mistério, servidores da liturgia, que é patrimônio de todos. E então encontrar esta harmonia e este equilíbrio para toda a Igreja é o desafio destes tempos. E o Papa também com o Motu Proprio Magnum principium, vai ao encontro disto, e o transferir maiores competências e mais competências para as conferências episcopais, a ajudar a que na diversidade nós continuemos a construir a unidade e a liturgia também pede isso, de modo especial na celebração da Eucaristia nós rezamos sempre pela unidade, pela paz, a começar por aqueles que partilham a mesma presença do mistério de Cristo na celebração da Eucaristia, para sermos esta presença credível no mundo em que vivemos. E às vezes estas tendências, e às vezes alguns extremismos, então se devem ao fato de perceber que existe mais mundo na Igreja do que Igreja no mundo. Nós temos que ser fermento no mundo, e não sermos levedados, fermentados pelo mundanismo espiritual, como também diz o Papa Francisco. E por isso que a liturgia é um lugar decisivo neste encontro pessoal e comunitário, vivido na alegria, na simplicidade, na autenticidade, na beleza da ação litúrgica”.
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