Cardeal Ouellet ao CELAM: escute os leigos e valorize as mulheres
Roberta Gisotti/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano
“O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do Terceiro Milênio.” Estas são as palavras proferidas pelo prefeito da Congregação para os Bispos, cardeal Marc Ouellet, na 37ª Assembleia Geral Ordinária do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), em andamento na capital hondurenha, Tegucigalpa, até o próximo sábado (18/05). O purpurado iniciou a sua alocução aos bispos latino-americanos, partindo de um trecho do discurso do Papa Francisco para os 50 anos do Sínodo dos Bispos, celebrados em outubro de 2015.
Um percurso de reflexão teológica e pastoral, oferecido pelo cardeal Ouellet, a fim de solicitar uma tomada de consciência sobre a urgência para a Igreja de sentir e viver a sinodalidade “na lógica da fé no chamado de Deus ao seu povo”.
Sinodalidade é comunhão com Deus
“A sinodalidade não significa organização, mas comunhão íntima com Deus que se traduz no testemunho visível de uma escolha que não é apenas de estilo mas de essência”, que pede a toda a Igreja “uma conversão missionária, envolvendo todos no testemunho do Evangelho”. “Obviamente”, explicou ainda o cardeal Ouellet, “os bispos permanecem no centro da Igreja sinodal, mas são solicitados a fazerem um esforço de transformar a atividade pastoral em chave sinodal”.
Dinamismo evangelizador
“Não se trata apenas de consultar adequadamente o Povo de Deus, mas reconhecê-lo habitado pela presença do Espírito”, frisou o purpurado, pertencente ao Corpo de Cristo. “A dimensão operacional da sinodalildade” torna-se “significativa na medida em que se caminha na fé, seguindo o Evangelho, indo ao encontro de outras culturas com um dinamismo evangelizador, sem ser homologado pela mentalidade e ideologias do mundo”.
Sinodalidade e colegialidade
O purpurado se deteve na “ligação profunda” entre o conceito de sinodalidade e colegialidade. A sinodalidade eclesial se manifesta e se realiza através do ministério dos bispos. A Igreja universal não é a soma nem a federação das Igrejas particulares, nem o resultado de sua comunhão, mas uma realidade que precede. Do mesmo modo, o Colégio episcopal não é a soma dos bispos responsáveis pelas Igrejas particulares, nem o resultado de sua comunhão, mas o elemento essencial na Igreja universal que precede cada Igreja particular.
Superar uma cultura eclesiástica voltada para si mesma
Olhando em particular ao contexto latino-americano, o cardeal Ouellet convidou os bispos a superar alguns paradigmas ainda “presentes na cultura eclesiástica”, conforme lamentado pela Comissão Teológica Internacional num estudo sobre a sinodalidade na vida e na missão da Igreja, publicado em março de 2018, que aponta o dedo contra: “a concentração da responsabilidade da missão no ministério dos pastores, a valorização insuficiente da vida consagrada e dos dons carismáticos, a escassa valorização da contribuição específica e qualificada dos fiéis leigos, dentre os quais as mulheres”.
Consultar e formar líderes engajados na vida pública
O purpurado deseja um “envolvimento mais decidido e significativo dos leigos na vida pública”, levando adiante “com determinação o diálogo entre pastores e políticos, através de encontros e diálogos em vários níveis”, que possam oferecer uma formação adequada aos cristãos engajados na vida pública. “É legítimo acolher a iniciativa de uma formação de líderes católicos que está se difundindo com entusiasmo na América Latina depois de um encontro, em Roma, com uma ampla e qualificada participação de homens e mulheres.”
Combater a mentalidade machista e abusos das mulheres
“A América Latina precisa de uma sinodalidade com as mulheres, ou seja, de uma revisão radical da situação da mulher na região a fim de mudar a mentalidade machista que combata a violência sofrida pelas mulheres, a exploração, a pobreza, os abusos e o abandono”, frisou.
“Esta prioridade é necessária. Não obstante as mulheres hoje possuam uma melhor formação em relação o passado e sejam os pilares das comunidades paroquias, muitas vezes elas sofrem por causa da mentalidade clerical dos pastores. O acesso que tiveram ao ensino superior é um fato cultural de enorme importância, que não mais justifica a sua relegação a papéis marginais e exclusão nos processos de tomada de decisão. A vitalidade de uma Igreja sinodal na América Latina dependerá da conversão cultural, que pressupõe a promoção autêntica e urgente das mulheres na região.”
A Igreja precisa da fé dos jovens
Por fim, o cardeal Ouellet pediu para não transcurar os jovens: “A Igreja precisa de seu entusiasmo, de suas intuições de fé, como Francisco escreve na Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus vivit.”
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