A atualidade da reforma litúrgica
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Em nosso Espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a falar sobre “Liturgia”.
Liturgia, um tema sempre apaixonante. Por ela, “especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção», contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos. A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito, até à medida da idade da plenitude de Cristo, robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor.” [1]
No programa de hoje, padre Gerson Schmidt nos fala sobre “a atualidade da reforma litúrgica”:
“Falamos na ocasião anterior da importância fundamental de Monsenhor Annibale Bugnini, que foi um dos peritos do Concilio Vaticano II. Há quem afirme que sem ele não teria acontecido a Reforma Litúrgica e há quem arisque dizer que sem Bugnini, e lógico sem o Papa Paulo VI, não teria havido nem mesmo a Constituição Sacrossanctum Concilium nos moldes que ela foi proclamada. No seu túmulo, depois de ter sofrido muita perseguição e sido caluniado, foi escrito assim: “Annibale Bugnini, bispo, cultivador e amante da liturgia, serviu a Igreja”.
A Reforma litúrgica realmente sofreu muitos ataques desde seus inícios, mas, apesar disso, mostrou-se cada vez mais como um dos legados do Concilio Vaticano II, que fez recentemente o Papa Francisco dizer assim: “O Vaticano II foi uma releitura do Evangelho à luz da cultura contemporânea. Produziu um movimento de renovação que simplesmente vem do próprio Evangelho. Os frutos são enormes. Basta recordar a liturgia. O trabalho da reforma litúrgica foi um serviço ao povo como releitura do Evangelho a partir de uma situação histórica concreta. Sim, há linha de hermenêutica de continuidade e descontinuidade, todavia, uma coisa é clara: a dinâmica de leitura do Evangelho atualizada no hoje, e que é própria do Concílio, é absolutamente irreversível”[2].
O Papa Francisco disse que a Reforma da Liturgia não pode retroceder[3]. No discurso do Papa Francisco na 68ª SEMANA LITÚRGICA NACIONAL, por ocasião do aniversário de 50 anos da Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, ao grupo de liturgia da Conferência Episcopal da Itália, na Sala Paulo VI, Francisco foi bem claro, usando novamente a palavra “irreversível”:
“E hoje ainda é preciso trabalhar neste sentido, em particular redescobrindo os motivos das decisões tomadas com a Reforma Litúrgica, superando leituras infundadas e superficiais, recepções parciais e práticas que a desfiguram. Não se trata de reconsiderar a reforma revendo as suas escolhas, mas de conhecer melhor as razões subjacentes, inclusive através da documentação histórica, assim como interiorizar os seus princípios inspiradores e de observar a disciplina que a regula”.
Conclui dizendo ainda: “Depois deste magistério e, após este longo caminho podemos afirmar com certeza e com autoridade magisterial que a reforma litúrgica é irreversível”. Portanto, se há grupos que querem retroceder e engessar a liturgia, é preciso saber que o magistério da Igreja pensa diferente.
Há uma irreversibilidade na reforma da liturgia o que fazia Dom Clemente Isnard, bispo brasileiro, falar da atualidade e necessidade da reforma usando um imagem de um pé na porta daqueles que querem impedir a reforma litúrgica. Muitos desejariam voltar atrás e trancar a porta aberta pelo Concílio, mas não se pode mais fechar a porta. Doravante essa só poderá ser aberta sempre mais, mas claro, respeitando a índole própria da liturgia"[4].
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[1] N.2 do Proêmio da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia
[2] Papa Francisco. Entrevista ao Diretor da Revista La Cività Cattolica, n.3918(19.09.2013), p. 467.
[3] Discurso do Papa Francisco na 68ª SEMANA LITÚRGICA NACIONAL, por ocasião do aniversário de 50 anos da Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, ao grupo de liturgia da Conferência Episcopal da Itália, na Sala Paulo VI, 24 de agosto de 2017.
[4] Essa imagem foi usada Originalmente por Pe. Josef Andreas Jungmann. In: Gabriel Frade, Prefácio à Edição Brasileira. De Annibale Bugnini, “A reforma Litúrgica(1948-1975)”, tradução de Paulo F. Valério, 2ª Edição, Editoras Paulus, Paulinas e Loyola, SP, 2018, p. 21.
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