Briefing sobre o Sínodo: responsabilidade de todos pela Casa comum
Debora Donnini/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano
Os sofrimentos dos povos amazônicos e os riscos para o Planeta estiveram no centro da coletiva, desta terça-feira (22/10), realizada na Sala de Imprensa da Santa Sé. Hoje, foi “o último dia dos Círculos Menores” que trabalham no rascunho do documento final: “Um trabalho que exige um confronto e propostas de soluções”, disse pe. Giacomo Costa, secretário da Comissão para a Informação. Depois, tudo isso será confiado aos encarregados pela redação do documento, ao relator geral, aos secretários especiais com a ajuda dos peritos e da Comissão para a redação do documento. Segundo pe. Costa, essas pessoas, a partir desta quarta-feira, trabalharão para oferecer a versão final do documento que depois será votada.
A coordenadora nacional do Movimento das Vítimas de Barragens, Judite da Rocha, proveniente do Brasil, falou sobre o impacto da chegada das usinas hidrelétricas nas regiões amazônicas. Ela pediu para não pensar que essas usinas produzam energia “limpa”, pois é preciso pensar nos prejuízos causados às populações locais, aos rios, à natureza. Primeiro, chega a usina hidrelétrica, depois a extração de minério e as indústrias. Ela falou também das consequências para as populações nativas: as comunidades tradicionais são dispersadas. “Não existimos, não somos indenizados depois dos acontecimentos”, disse ela. Depois, somam-se ainda doenças mentais, depressões e suicídios. Às vezes, se reconhecem os direitos das populações indígenas, outras vezes não, mesmo que se trate da mesma companhia. Para as mulheres, fala-se de uma violência dupla: o seu trabalho não é levado em consideração. Pensemos nas donas de casa ou em quem procura plantas para fazer remédios, além dos problemas de moléstias sexuais.
"As cidades também sofrem com o impacto das construções dessas barragens. Há regiões em que existem praias nos rios e tudo isso é eliminado quando se constrói uma usina hidrelétrica. Depois, surge o problema de onde viver, pois estamos falando de populações que sempre viveram ao longo dos rios", sublinhou.
A natureza, o ser humano e o papel da Igreja são as três palavras-chaves do pronunciamento do Arcebispo de Trujillo, dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, presidente da Conferência Episcopal Peruana e presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM). O prelado chamou a atenção para o amor de São Francisco de Assis pela natureza, retomado também pelo Papa Francisco na Laudato si, e exortou a refletir sobre a dignidade do ser humano. “Não precisa falar”, recordou, “desses temas como se dissesse respeito somente à Amazônia. Trata-se de um chamado a uma fraternidade universal”. Respondendo a uma pergunta, manifestou a intenção de que seja criado um organismo eclesial específico para colocar em prática as decisões tomadas no Sínodo, para abordar os temas da região amazônica. Recordou também o trabalho que está sendo feito para reestruturar o CELAM e se deteve também na emergência ambiental e nas mudanças climáticas, sublinhando “o atraso” da Comunidade internacional em aplicar o Acordo de Paris. Foi mencionada também a Cop 25 que se realizará em dezembro próximo, no Chile, onde será importante insistir no compromisso pela Casa comum.
O Bispo de Paramaribo, Suriname, dom Karel Martinus Choennie, centrou-se no problema das mudanças climáticas. Em seu país, vivem milhões de autóctones e descendentes de escravos, uma das nações mais “verdes”: 92% do território é formado pela floresta originária. “Se o desmatamento na Amazônia aumentar apenas 5%, haverá um efeito devastador e irreversível”, afirmou, invocando “mudanças nos estilos de vida, como por exemplo, no consumo de carne e na busca de uma economia solidária, porque”, disse ele, “as riquezas chegam ao Ocidente, abandonam o nosso país e não o tornam melhor. Portanto, precisamos de criatividade no âmbito político para encontrar soluções".
“A Amazônia se parece muito com a bacia do Congo", disse no briefing o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa, representando aquela parte da África que tem muitas semelhanças com as regiões amazônicas. O purpurado chamou todos em causa: “Todos somos responsáveis pela nossa Casa comum” e “ninguém pode dizer: ‘não tenho nada a ver com isso'”, sublinhou, lembrando que "a falta de ação significa colaborar com o perigo". "Mas os governantes dos países ocidentais também são responsáveis, sem se esquecer da China", disse ele, referindo-se às grandes empresas de mineração. "A Igreja faz o que pode, mas tem problemas devido à falta de pessoas", continuou o cardeal, abrindo horizontes de esperança e exortando as pessoas a ousar. "No Congo", disse ele, foi feita uma inculturação do Evangelho e a Eucaristia é vivida como “uma festa autêntica”.
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