Briefing Sínodo: Floresta amazônica à beira do colapso e Eucaristia em primeiro lugar
Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano
O grito de alarme da ciência, que através do prêmio Nobel da Paz 2007 Carlos Alfonso Nobre recorda que estamos muito próximos de um colapso da Floresta amazônica, e o grito da Igreja, representada pelo bispo emérito da Prelazia do Xingu – PA, dom Erwin Kräutler, que denuncia que a central hidroelétrica de Belo Monte, a terceira maior do mundo, é uma agressão a todo o ecossistema, ressoaram com força na Sala de Imprensa da Santa Sé durante a 3ª coletiva do Sínodo dos Bispos para a Amazônia.
Pouco antes, sintetizando os trabalhos da 5ª Congregação Geral, realizada na manhã desta quarta-feira (09/10), o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, ressaltou que alguns padres sinodais falaram de “ecocídio” e de pecados ecológicos contra a criação e sobre a harmonia da Criação, que deveriam ser reconhecidos e confessados, porque “pecados contra Deus, contra o próximo e as futuras gerações”.
Kräutler, a Eucaristia é uma obrigação
O octogenário bispo Erwin Kräutler, originário da Áustria, que vive na Floresta amazônica desde quando tinha 26 anos, e há 30 anos vive com a proteção de guarda-costas porque apoia os indígenas e defende a floresta, recordou que o Papa, ao anunciar o Sínodo, “pediu uma atenção especial para com os povos indígenas, que estão em risco”.
Perguntado sobre a proposta da ordenação de homens casados, dom Kräutler ressaltou que milhares de comunidades, na Amazônia, recebem a Eucaristia uma ou duas vezes por ano “e a Eucaristia é fundamental para o cristão”.
“Queremos que estes irmãos não tenham somente a Palavra, mas também a Eucaristia, prosseguiu o bispo. Há o risco de se colocar o celibato acima da Eucaristia. Mas o Senhor, na Última Ceia, disse: ‘Fazei isso em minha memória’. Portanto, a Eucaristia é uma obrigação para nós.”
É preciso presença estável nas comunidades isoladas
Recordemos, acrescentou, que “dois terços destas comunidades cristãs sem sacerdotes são coordenadas por mulheres! Fala-se tanto na valorização da mulher, mas precisamos de coisas concretas. Estamos pensando no diaconato feminino, por que não? – e esse é um tema do Sínodo”.
A emigração rural provocou um inchaço nas cidades de modo antinatural, comentou dom Kräutler respondendo a outra pergunta, “e hoje para a Igreja o desafio é conseguir alcançar todo esse povo. As Igrejas pentecostais chegaram antes de nós, e nós não estamos presentes devido a falta de sacerdotes, ou de religiosos e religiosas. Não basta visitar uma comunidade, a Igreja deve estar sempre presente, com a celebração da Eucaristia e a administração dos sacramentos”.
Nobre: a floresta próxima do ponto de não-retorno
Antes dele, o brasileiro Carlos Alfonso Nobre, prêmio Nobel da Paz 2007, climatologista, um dos maiores especialistas em aquecimento global, que estuda a Amazônia há 40 anos, sintetizou os temas de um documento realizado exclusivamente para o Sínodo.
Ele recordou que a Amazônia é o coração ecológico do planeta, com uma sócio e biodiversidade imensa. Mas, denunciou, “estamos muito próximos do colapso da Floresta amazônica, a ciência diz isso com rigor absoluto. Como diz a Laudato si’, a Casa Comum está perto de desmoronar”.
Se se chegar a destruir 20-25% da floresta, foi o alarme de Nobre, “pouco depois a savana cobrirá 60% da área. A floresta está hoje destruída em 15%. Estamos próximos do ponto de não-retorno”.
A ajuda pode vir da tecnologia e da bioeconomia
O que fazer? Perguntou-se o cientista brasileiro. “As tecnologias podem ajudar a encontrar soluções, se não forem utilizadas para a exploração indiscriminada dos recursos naturais”, explicou.
A tecnologia pode dar mais poder às populações, “graças à bioeconomia, a um novo modelo de economia sustentável, descentrada, auxiliada por energia proveniente de fontes renováveis, que respeitem a qualidade de vida das comunidades. Para que a Amazônia possa continuar sendo a floresta que é há 30 milhões de anos”.
Irmã Celia Vieira: respeitar povos que escolhem viver isolados
Também Irmã Celia Guimarães Vieira, ecologista brasileira membro da Comissão nacional para o Meio-ambiente – Conama –, no Sínodo na qualidade de especialista, que há 30 anos estuda a biodiversidade da Amazônia, falou na Sala de Imprensa da Santa Sé. Ela abordou a questão dos povos isolados.
“É importante assegurar o território a estes povos e respeitar o tipo de isolamento que escolheram. Há 114 povos isolados no Brasil já reconhecidos e 28 confirmados”, ressaltou a religiosa. E agradeceu ao Papa e aos padres sinodais por terem colocado no centro dos trabalhos o tema da ecologia integral, “muito apreciado por nós brasileiros”, disse.
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