Juntos pela fraternidade humana, sikhs e cristãos em diálogo
Cidade do Vaticano
"Uma importante contribuição para aprofundar o conhecimento recíproco, que leva à valorização das riquezas das diferentes tradições" de fé. Este é o resultado alcançado pelos participantes da Conferência inter-religiosa sobre o tema "A fraternidade humana pela paz e a harmonia”, realizada em Roma na terça-feira, 22 de outubro, por ocasião do 550º aniversário do nascimento de Sri Guru Nanak Dev Ji, fundador do sikhismo, uma religião de origem indiana.
Nos trabalhos - organizados pela Sikhi Sewa Society na Itália, em colaboração com o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso e o Escritório Nacional para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da Conferência Episcopal Italiana – pronunciaram-se autoridades civis e institucionais, líderes religiosos, acadêmicos e seguidores de diferentes religiões, que fizeram questão de participar da Audiência Geral com o Papa Francisco na manhã desta quarta-feira, 23, na Praça de São Pedro.
Precisamente no ano em que o Pontífice e o Grão Imame de al-Azhar assinaram a Documento Conjunto sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, dirigido não somente aos muçulmanos e aos cristãos, mas a "todas as pessoas que trazem em seus corações fé em Deus ", os participantes da conferência ouviram e compartilharam experiências pessoais e comunitárias, fazendo memória aos ensinamentos de Sri Guru Nanak, homem de paz e construtor de harmonia social, reformador social e religioso, que viveu em um contexto histórico difícil para as relações entre os seguidores de diferentes credos.
Ao final, foi divulgada uma declaração conjunta onde é enfatizado como "em uma época como a atual, onde as religiões são cada vez mais usadas como formas de discriminação e conflito", é necessário "reconhecer a centralidade da" fraternidade", como um valor comum e, portanto, terreno de encontro e de diálogo para construir harmonia e paz entre todos os homens e mulheres que compõem a família humana".
Os signatários consideram, de fato, "que precisamente a fraternidade pode representar o caminho privilegiado" para construir "uma coexistência pacífica entre todos os grupos e comunidades sociais, culturais e religiosas".
Aplicação da regra de ouro
Inspirando-se em experiências de vida e nos testemunhos que foram compartilhados durante o trabalho, o texto faz votos de um esforço concreto e compartilhado "para difundir o espírito de fraternidade como é expresso nas religiões de pertença e como é sintetizado pela regra de ouro que convida "a fazer aos outros o quanto gostaríamos que a nós fosse feito" e "a não fazer aos outros o quanto não gostaríamos que fizessem a nós". Na convicção, concluem os autores documento, de que "essa será a nossa contribuição para a construção de um mundo mais justo e mais harmonioso onde a paz, verdadeiro dom de Deus, possa reinar no coração de todo homem e toda mulher".
O dia de trabalhos foi aberto com o discurso inaugural proferido pelo cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do dicastério vaticano para o diálogo que - recordou - apoia todos aqueles "esforços voltados a promover relações cordiais e cooperação entre os católicos e pessoas de outras religiões, encorajando as Igrejas locais a estreitar laços de amizade com todos os crentes e com as pessoas de boa vontade”.
Portanto, em uma era "na qual muitas pessoas se tornam cada vez mais cegas às necessidades dos outros, acostumadas ao sofrimento dos pobres, e anseiam a superioridade e a determinação em um modelo de bem-estar material, com crescentes instâncias de tensões, conflitos e violência, infelizmente e deplorávelmente, também em nome das religiões”, o cardeal relançou" os ensinamentos sagrados do fundador do sikhismo", que" são de importância vital e atestam, sem ambiguidade, a ameaça representada pela sobrevivência da humanidade pela perda ou pela destruição de fraternidade universal”.
Fraternidade humana, nova oportunidade que bate à nossa porta
Além disso, explicou o purpurado, "se não nos comprometemos com urgência, o perigo que corremos é enorme, e se não conseguirmos encontrar uma maneira e os meios para construir conscientemente pontes de relações entre os povos, corremos o risco de ser acusados de acelerar um colossal fracasso da humanidade".
Aqui, então, apontou o presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, que "a fraternidade humana é uma nova oportunidade que bate à nossa porta para reconstruir o nosso mundo partindo das bases morais ou espirituais, orientando em direção a esta meta o sentido de nosso desenvolvimento".
Reconhecer o direito do outro
No entanto, alertou, "ela pode ter início e ser fortalecida somente por meio do reconhecimento do direito do outro de viver com dignidade e ser tratado com respeito. Falo explicitamente de "respeito" - precisou - porque alguns tendem a usar esse termo como sinônimo de "tolerância"."
Enquanto isso só pode acontecer em um clima de solidariedade que favorece a convivência, de forma que todos os necessitados possam estar certos de que toda a humanidade evocará no outro o dever de oferecer socorro ao próprio irmão ou irmã. De fato, aqueles de nós que professam a paternidade de Deus, também professam a "fraternidade" dos seres humanos e a prática do amor de Deus e do amor do outro como prova irrefutável de nossa fé".
Disto o convite, "hoje mais do que nunca", para "sair da escuridão da suspeita, da desconfiança, do ódio e da violência, para entrar na maravilhosa luz da fraternidade, amizade e comunhão".
Manipulação do ponto de vista religioso ou político para obter vantagens egoístas
A exortação do cardeal Ayuso Guixot foi clara: "embora hoje em muitas partes do mundo se propaguem sentimentos de ódio entre as pessoas, e em particular entre os seguidores de diferentes tradições religiosas, e algumas culpem as religiões", é urgente esclarecer "sobre o fato de que as religiões não são e não podem ser a causa de problemas, mas fazem parte das soluções.
O problema - observou - está nos crentes, em cada um de nós, que não conseguimos e, às vezes, também nos recusamos em viver a fé por causa de nossos interesses ou daqueles que querem nos manipular do ponto de vista religioso ou político para obter vantagens egoístas".
Preservar e fazer progredir o que é verdadeiro e santo
Ao concluir, o palestrante identificou quatro imperativos: "viver autenticamente os ensinamentos de nossas religiões; adquirir delas o conhecimento para reconhecer, preservar e fazer progredir o que é verdadeiro e santo nelas; garantir a cada um espaço legítimo para praticar e propagar a própria religião sem medos nem favoritismo; construir pontes para dar esperança em quaisquer situação de dificuldades”.
(L’Osservatore Romano)
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