Cardeal Stella: Deus nos chama a viver esta Páscoa em família
Marie Duhamel/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano
As celebrações litúrgicas do Tríduo Pascal serão realizadas sem a presença dos fiéis “por causa da atual emergência de saúde internacional”. O anúncio foi dado, no domingo, 15 de março, pela Prefeitura da Casa Pontifícia que distribui aos fiéis os bilhetes para as celebrações e as audiências gerais, no Vaticano.
A Sala de Imprensa da Santa Sé informou que estão sendo estudadas maneiras de execução que respeitem as medidas de segurança, mas ainda é difícil imaginar a bênção Urbi et Orbi sem a multidão tradicional na Praça São Pedro. Para o prefeito da Congregação para o Clero, cardeal Beniamino Stella, essa é, apesar da tristeza, “uma oportunidade de fé”.
Cardeal Stella: Estava lembrando neste fim de semana de uma bela expressão que encontramos na obra “Os noivos” (I promessi sposi) de Manzoni, que fala sobre a peste em seu tempo. No final do romance, ele escreve que “Deus nunca perturba a alegria de seus filhos, a não ser para enviar uma alegria maior”. Achei essa expressão realmente consoladora para a nossa vida. Creio que, na ausência de ritos, de participação física, devemos encontrar nessas circunstâncias uma maneira profunda, de grande intimidade com o Senhor para comunicar com a Igreja, com os sacramentos. Acredito que o Espírito Santo não faltará e nos fará viver uma bela Semana Santa, profunda, não obstante a tristeza do luto, das doenças e do drama que não conhecemos a dimensão e a duração.
O Santo Padre falou de um tempo propício para o aprofundamento do valor da comunhão. Como caminhar até a Páscoa juntos?
Cardeal Stella: Acredito que existe a possibilidade, todos os dias, de se comunicar com a missa do Papa, com a oração mariana do Terço, sobretudo nas famílias. Penso que os momentos vividos juntos são muito importantes para sentir que a família também é uma pequena igreja doméstica, e descobrir o significado da oração em família. Hoje, existem possibilidades de transformar esse drama numa oportunidade de fé. As provações de Deus são sempre um contexto em que Deus nos convida à conversão do coração e a um retorno à casa, no sentido da bela parábola do Pai misericordioso.
O que dizer hoje a todos os fiéis que se preparavam para ir a Roma participar das celebrações da Páscoa?
Cardeal Stella: Devemos dizer-lhes que permaneçam em suas famílias, que podem se comunicar de alguma forma com seus sacerdotes, com suas igrejas locais. Acredito que hoje a tecnologia realmente permite viver uma comunhão que se diria virtual, mas, na verdade, não é apenas virtual, porque acredito que o Espírito Santo também passa por essas novidades do mundo de hoje e fala aos corações, fala às consciências, fala às crianças e aos adultos. Creio que todos esses peregrinos que iam a Roma ou aos santuários deveriam pensar que sua Páscoa e seu chamado à conversão devem ocorrer na família, em seu pequeno ambiente, onde o Senhor os chama a viver neste momento o mistério da Páscoa.
Hoje, nos pedem um esforço coletivo diante de um mal que é invisível e que causa muito medo. Como o senhor vive essa Quaresma particular em seu coração?
Cardeal Stella: Sim, eu também tive que inventar momentos de silêncio, de oração, de adoração e reflexão. Mas é preciso também ser ativos, inventar. Por exemplo, usar o celular com as pessoas, ligar para elas, comunicar-se com elas, dizer uma palavra. Eu faço isso e também recomendei aos familiares e pessoas amigas a fim de criar uma rede bonita que nos une neste momento. Eu também disse aos sacerdotes, aos párocos: “Inventem alguma coisa para se comunicar com seus fiéis. Transforma em oportunidade, um momento de provação, de grande preocupação e crise".
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