Gallagher: nos arquivos de Pio XII toda a sua grandiosidade

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Está tudo pronto para a abertura dos Arquivos da Santa Sé relativos ao pontificado de Pio XII. Entre os documentos que estarão a disposição dos estudiosos estão os do Arquivo Histórico da Seção para as Relações com os Estados da Secretaria de Estado. Falamos sobre isso com o arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados.

Com a abertura do Arquivo Histórico da Seção para as Relações com os Estados que tipo de documentos poderão ser consultados?

O Arquivo Histórico da Seção para as Relações com os Estados é o arquivo de uma Instituição ainda existente e de origem bem recente, ou seja de 1814. O Arquivo Histórico da Secretaria de Estado (Seção das Relações com os Estados) está ligado com a ação da entidade que o produziu. A sua fisionomia espelha o desenvolvimento e a ação da Secretaria de Estado em escala internacional, a diplomacia do Papa em defesa da paz e da justiça pelos povos. Os documentos que pertenciam à Sagrada Congregação das Relações Eclesiásticas Extraordinárias (AA.EE.SS.) e, mais tarde nos anos 1960, ao Conselho para as Relações Públicas da Igreja (AA.PP.) estão todos conservados na nossa Seção. Além disso, se conservam as Sessões de Reuniões dos Cardeais da Sagrada Congregação dos AA.EE.SS; o fundo Caprano e as cartas do cardeal Agostino Casaroli.

Qual é o conteúdo do Arquivo Histórico da Secretaria de Estado sobre o pontificado de Pio XII? Quantos seriam os documentos?

O pontificado de Pio XII (1939-1958) atravessou um período decisivo da história do século XX, da Segunda Guerra Mundial à Guerra Fria. O material que pertencia ao pontificado de Pio XII, é de cerca de 2 milhões de documentos, equivalente a aproximadamente 323 metros lineares. Os papéis descrevem a ação da Santa Sé durante o conflito mundial, as relações diplomáticas, as questões da concordata, tratados, ratificações, obras humanitárias e de assistência; as relações periódicas sobre as situações político-religiosas; as questões escolares; as questões que se referem ao Estado Vaticano, a ação de alguns protagonistas como o cardeal Maglione, Dom Tardini e Dom Montini, etc.

Uma das peculiaridade deste Arquivo é a digitalização dos documentos. Quais são as vantagens para os estudiosos?

No dia 2 de março mais de 1 milhão e 300 mil documentos acompanhados por um inventário serão colocados a disposição dos estudiosos. Os primeiros dez anos do pontificado do Papa Pacelli (1939-1948) de todas as séries estão totalmente prontos. A partir da segunda metade, depois de 1948, estamos providenciando gradativamente para completar todas as séries. A digitalização tem muitas vantagens: para a conservação, o método da digitalização garante uma melhor conservação para estes documentos que são únicos no mundo, eliminando o desgaste natural que deriva das consultas no papel. Também tem a vantagem para a consulta: A Sala de Consulta tem capacidade de 20+2 pessoas. Todo estudioso poderá acessar, de cada um dos lugares, todos os documentos disponíveis. Todos os estudiosos admitidos poderão consultar contemporaneamente com outros todos os documentos a disposição. Não se perde mais tempo na espera e a pesquisa é totalmente livre. Também a velocidade das pesquisas e da consulta será, provavelmente, muito apreciada. Uma outra vantagem da digitalização será a possibilidade de solicitar em tempo real a cópia do documento que pode ser levado consigo. Pedidos e cópias dos documentos serão feitas automaticamente. A nova sala de Consultas Pio XII na Torre Bórgia, foi equipada com os terminais necessários para todo este trabalho.

O senhor pode citar alguma série ou fundo particular?

Com exceção das séries tradicionais do fundo AA.EE.SS. que correspondem em grande parte às nações com as quais a Santa Sé mantém relações diplomáticas, posso mencionar os livros do S.A.R.E., Serviço de Audiência das Rádios Estrangeiras. Desde maio de 1944 até o fim da guerra um grupo de religiosas responsáveis pela audiência das principais rádios escutavam e transcreviam os programas dedicados à guerra com notícias sobre o conflito, informando em tempo real os Superiores da Secretaria de Estado. Tratava-se de várias emissoras em várias nações, em vários continentes. Também “O trabalho da Santa Sé para a salvação de Roma 1939-1944” merece ser mencionado. Também há uma grande novidade: uma grande quantidade de papéis de fundo multilaterais (quase 100 mil documentos digitalizados) que poderá ser de grande interesse.

A partir do cuidadoso trabalho de catalogação e digitalização, o que se pode dizer sobre a figura de Pio XII durante a guerra?

A figura do Papa expressa-se em toda a sua grandiosidade, como defensor da humanidade e como autêntico pastor universal. O Papa Pacelli foi um corajoso diplomata. Como Papa demonstrou uma caridade ilimitada, nem sempre compreendida e nem mesmo compartilhada dentro dos muros vaticanos. De seus documentos evidencia-se os esforços feitos para tentar responder aos pedidos de ajuda para a salvação dos perseguidos e dos necessitados em perigo de vida. Certamente poderemos constatar também o ódio do nazismo contra a Igreja Católica e pelo próprio Papa.

O Arquivo Histórico relativo ao pontificado de Pio XII oferecerá pontos interessantes sobre o período inicial da Guerra Fria. O que podemos esperar? É verdade que Pio XII pode ser considerado de algum modo um percurso na Ostpolitik?

Não é minha função dar pareceres ou julgamentos, mas certamente serão evidenciadas cartas inesperadas que oferecerão nova luz sobre muitas questões. Recentes estudos indicam que foi imediatamente no pós-guerra, que houve uma grande atividade de religiosos enviados pelo Papa para tentar negociar com autoridades soviéticas. As fontes à disposição citam que Pio XII queria encontrar um “modus vivendi”, palavra chave da chamada Ostpolitik (aproximação do mundo ocidental para distensão com a União Soviética). Talvez logo se encontre a confirmação.