Cardeal Silvestrini e a política vaticana com a Europa do Leste
Giancarlo La Vella – Vatican News
Ao comemorar os 45 anos da Conferência de Helsinque que determinou um acordo de segurança e cooperação na Europa, o Secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, lembrou da figura do cardeal Achille Silvestrini (1923-2019). Silvestrini foi um dos protagonistas da Ostpolitik Vaticana, a política diplomática para com as nações da Europa do Leste e dos primeiros contatos com as martirizadas comunidades europeias nos anos 60. Uma atividade impulsionada pelo Papa Paulo VI, que, na Encíclica Ecclesiam Suam de 1967, escrevia: “Não perdemos a esperança de que aqueles regimes venham um dia a entabular com a Igreja um colóquio positivo”. O próprio Silvestrini - lembra Parolin - disse que "esta foi a chave para a Ostpolitik de Paulo VI, que determinou sua ação para não desistir de possíveis tentativas mesmo com sucesso reduzido e mesmo quando elas se revelaram infrutíferas". Palavras proféticas, embora ainda havia muito a ser feito. Mas a Conferência de Helsinque foi um bom começo para pôr um fim, quase 50 anos atrás, a anos de contrastes entre a União Soviética e os Estados Unidos. O Cardeal Sivestrini - salientou Parolin - aplicou sua sensibilidade humana e cristã na realização de uma tarefa diplomática muito delicada.
Um diálogo que vem de longe
A partir da análise do que ele nos deixou - disse o cardeal Parolin - podemos compreender com precisão as passagens históricas que levaram a Igreja a se colocar na cena internacional de uma maneira nova em comparação com a era do "grande esmagamento" nos países com regimes marxistas e estalinistas. Ele lembra que os primeiros passos da Ostpolilik são antecedentes e se baseiam em certos gestos possibilitados pela atenuação da perseguição nos países comunistas: o envio de delegados da Igreja Ortodoxa Russa para assistir ao Concílio Ecumênico Vaticano II, a audiência papal ao casal Adjubei (a filha de Khrushchov), as primeiras visitas de Dom Agostino Casaroli à Hungria e à Tchecoslováquia em maio de 1963. Tratava-se de aberturas iniciadas por João XXIII que, nas palavras de Agostino Casaroli, "parecia ter conseguido derreter uma barreira de gelo". Neste contexto, a Conferência de Helsinque "representou uma experiência única em seu valor". Foi a primeira vez, após o Congresso de Viena em 1815, que a Santa Sé participou como membro pleno de um Congresso de Estados". E, sobretudo, foi "um sinal concreto da concepção da paz entre as nações como um valor moral, mesmo antes de ser uma questão política, e uma oportunidade de reivindicar a liberdade religiosa como uma das liberdades fundamentais de cada pessoa e como um valor e uma correlação nas relações entre os povos".
O martírio da paciência
O Cardeal Parolin então refez as etapas desse cenário, que remonta ao início dos anos 60, e que é o da devastação, da perseguição, da tentativa de aniquilar a presença religiosa e as Igrejas. "Após as prisões, condenações ou destituição da maioria dos bispos católicos nos anos após 1945 e em primeiro lugar de Dom Stepinac, Cardeal Mindsdzenty, Dom Beran, Dom Wyszyński e a quebra das relações diplomáticas - citações de Parolin - desceu um pesado manto de gelo nas relações entre os países comunistas da Europa Central e do Leste e a Santa Sé". Neste contexto, lembra o Secretário de Estado, começou o "martírio de paciência" que levou a Igreja a aproveitar cada pequena luz de abertura, levando Casaroli e Silvestrini a essa dolorosa peregrinação a alguns países da Europa do Leste como Hungria, Tchecoslováquia, Polônia, e que resultou na aceitação da perspectiva de uma Conferência a ser realizada em Helsinque, no âmbito de um país neutro.
O diálogo: arma mais poderosa para construir a paz
A Conferência de Helsinque, aponta o cardeal Parolin, representou realmente uma grande mudança. A partir daquele momento, o caminho para a aplicação da liberdade religiosa e dos direitos fundamentais tornou-se mais rápido e aumentou progressivamente até a queda do comunismo em 1989. A Santa Sé sentiu-se, em base aos princípios sancionados em Helsinque, como o "mediador direto dos pedidos em matéria de consciência religiosa". Parece evidente, concluiu o cardeal Parolin, como a Conferência de Helsinque foi um daqueles momentos da história em que, para usar uma expressão cara ao Papa Francisco, os protagonistas estavam mais preocupados em iniciar processos do que em ocupar espaço.
A Conferência garantiu a passagem de uma tímida, quase temerosa relação internacional, para um corajoso compromisso com a paz e a consolidação dos direitos humanos universais em todos os países europeus. Mostrou que o diálogo, quando sincero e animado pela boa vontade, é verdadeiramente a "arma" mais poderosa para construir uma paz que não seja meramente uma ausência de conflito, mas antes de tudo uma afirmação da dignidade transcendente de todo ser humano, e estas conquistas devem ser creditadas ao Cardeal Silvestrini.
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