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"Dentro da própria Vida Consagrada e das comunidades temos que entrar no processo da sinodalidade", disse ele "Dentro da própria Vida Consagrada e das comunidades temos que entrar no processo da sinodalidade", disse ele 

Dom João sobre "Fratelli tutti": se alguém quer ser o maior, tem que ser o menor

O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, dom João Braz de Aviz, em entrevista ao Vatican News, analisou o contexto mundial – de crises e polarizações – que vai ganhar a nova encíclica do Papa Francisco sobre a fraternidade e a amizade social. O cardeal brasileiro acredita que o documento vai apresentar diretrizes que tocam, inclusive, os ministros da Igreja que devem seguir uma postura de serviço, não de poder.

Silvonei José, Andressa Collet - Vatican News

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Já estamos em véspera de assinatura na nova encíclica do Papa Francisco, “Fratelli tutti”, que acontece no próximo sábado (3), em Assis, com a divulgação marcada para o dia de São Francisco (1182-1226), em 4 de outubro. Um documento que pretende revelar, em oito capítulos, a essência do carisma franciscano inserida no próprio subtítulo “sobre a fraternidade e a amizade social”.

A urgência de misericórdia

Junto aos desafios impostos ao mundo para enfrentar a pandemia de Covid-19, o contexto de crises mundiais tem delineado contrastes marcantes de polarizações. O prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, card. João Braz de Aviz, lembra as palavras do Papa durante o Sínodo Amazônico de 2019. Diante de vários testemunhos conflitantes, sem uma busca pela convergência, o Pontífice disse na ocasião que faltava “um transbordamento da misericórdia”, uma capacidade de formar a unidade do povo superando contradições, inclusive, nas próprias diferenças.

Essa é uma questão urgente, enalteceu o cardeal, porque “não podemos ficar nesse modo conflitivo de ver a realidade: eu jogo o lado bom, do meu lado, e condeno o lado errado, do outro lado. Eu preciso passar por esse limite que foi criado e perceber o que há realmente de positivo e de bom do outro lado”. Dom João afirmou, inclusive em se tratando da polarização latente vivida no Brasil e seguida com atenção pelo Papa Francisco, que “em todas as pessoas há sempre um lado bom e que é profundo e vantajoso pra todos” e é isso que “nós precisamos redescobrir na nossa história, ideias e, sobretudo, olhando aos ideais maiores”.

“O Papa Francisco não segue só o Brasil, ele segue o mundo inteiro e todas as realidades da Igreja. Eu não sei como é que ele faz. Eu acho que um pouco é a graça do próprio ministério que ele tem de Papa. Ele segue com inteligência, com escolhas lúcidas. Por exemplo, eu vejo nele um equilíbrio grande entre a saúde física e a saúde psíquica. O Papa não tem essas contradições de posições. Ele tem um conjunto de caminho sustentado por esta fé profunda e pela capacidade de discernir que ele tem. Eu acho que agora, neste momento, não poderia ter sido um Papa melhor do que o que nós temos: porque fala a nossa linguagem, porque é entendido até pelas crianças, porque fala para quem é da Igreja e para quem é fora da Igreja, não tem medo, não oprime ninguém, vai à frente propondo, mas propondo processos de mudança, sabendo esperar, não condenando, mas sugerindo caminhos. Acho que é que nós precisamos porque Deus teve tanta paciência com o povo no Antigo Testamento, anos e anos. Jesus teve tanta paciência com os apóstolos, inclusive deixando que eles crescessem devagar na sua formação de discípulos, conforme a possibilidade deles. Eu acho que a mesma coisa o Papa faz conosco, mas está nos dando sempre diretivas muito boas.”

O processo da fraternidade e da amizade social

Mais uma dessas diretivas virá com a terceira e nova encíclica do Papa Francisco. Inspirado no Santo de Assis, “Fratelli tutti” deve indicar o caminho para se percorrer a fraternidade, não somente em palavras, mas na ação, afinal, recorda dom João, “se alguém quer ser o maior, tem que ser o menor”, deve entender isso e agir assim:

“Há esquemas nos quais a Igreja mesmo entrou que, digamos, ou destruíram ou atrasaram esse processo da fraternidade. Nós temos coisas que, na própria espiritualidade, favoreceram isso. Às vezes, por exemplo, esse acreditar que uma pessoa detém toda a luz do Espírito Santo e, sendo superior, ele é aquele que sabe todos os caminhos, e os outros são feitos para seguir só atrás dele. Isso, por exemplo, não tem mais lugar: não existe alguém superior e alguém inferior no Evangelho. E é uma questão séria essa porque toca a nós, que somos ministros da Igreja, e que Jesus deixou sempre muito claro que a nossa não é uma postura de poder, mas é uma postura de serviço. Se alguém quer ser o maior tem que ser o menor, mas deve entender isso, agir assim, não ter medo de deixar as coisas acontecerem na fraternidade. Eu acho que a encíclica vai acentuar muito isso. A questão da obediência: uma obediência que nunca diz nada, que só sofre as consequências do que é mandado, de que não consegue se exprimir, que não pode dar uma participação - essa obediência é uma obediência doentia, que machuca a pessoa, que destrói a criatividade. Isso não é próprio do Evangelho. Então, dentro da própria Vida Consagrada e da vida cristã, nas comunidades, nós temos que entrar dentro desse grande processo que o Papa fala da sinodalidade, que é uma fraternidade. Não é que se perde o ponto de referência, não se perde, não é também uma democracia de qualquer jeito como muitos dizem, não. É um entrar no mistério de Deus que mantém unido porque é Mãe da vida não por outra razão.”

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29 setembro 2020, 14:37