Mais de 50 agências católicas fazem um balanço da crise na Síria e Iraque
Da Sala de Imprensa da Santa Sé
“Qualquer esforço - pequeno ou grande - feito para favorecer o processo de paz é como colocar um tijolo na construção de uma sociedade justa, que se abra ao acolhimento e onde todos possam encontrar um lugar para viver em paz”.
Este é o encorajamento que o Papa Francisco dirigiu, em mensagem de vídeo, aos participantes do encontro sobre a crise humanitária na Síria e no Iraque, promovido pelo Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. O encontro, realizado na modalidade online na tarde de quinta-feira, 11, em linha com as recomendações sanitárias para a pandemia Covid-19, contou com a participação de cerca de cinquenta organismos católicos, representantes de episcopados locais e de instituições eclesiais e Congregações religiosas que atuam na Síria, Iraque e países vizinhos, bem como os núncios apostólicos da região.
O quarto encontro das agências católicas foi aberto por Dom Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, que leu o discurso do cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, impossibilitado de participar pessoalmente.
No discurso introdutório, o cardeal Pietro Parolin reconhece que a situação geral da região é "caracterizada pela crise econômica, agravada pelo bloqueio político ou mesmo pela crise institucional e, mais recentemente, pela pandemia Covid-19".
Diante desta situação “de absoluta gravidade”, que “suscita sérias preocupações”, o purpurado encoraja a todos a dar prosseguimento “aos projetos no Iraque, na Jordânia e na Turquia”, mas pede um empenho particular na Síria e no Líbano.
É sobretudo a Síria, devastada por quase dez anos de conflito, que concentra as reflexões do secretário de Estado. “Hoje, mais do que nunca - insiste - não devemos diminuir a atenção para as necessidades da população, devemos renovar como Igreja o nosso compromisso caritativo junto aos mais frágeis e necessitados, também promovendo ações inovadoras, sem esquecer a formação dos nossos operadores, quer profissional como espiritual".
Mas o é também o Líbano, "atingido pelo colapso do sistema financeiro, pela crise socioeconômica e pela explosão do porto de Beirute", onde se faz urgente "um forte compromisso não só para a reconstrução, mas também para o sustento das escolas católicas e dos hospitais, dois pilares da presença cristã no país e em toda a região”.
As quatro sessões do encontro - situação político-diplomática; a Igreja na Síria e no Iraque; a questão do retorno e dos migrantes e pessoas deslocadas; e agências católicas: da emergência ao desenvolvimento - foram pontuadas por intervenções e debates.
A primeira foi aberta pelo arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, que traçou um resumo da situação sócio-política no Oriente Médio, em particular no que diz respeito ao Iraque, Síria, Líbano, Turquia e Jordânia. Diante das "tensões e conflitos" que atravessam a Região, o prelado manifestou a esperança de que os "recentes acordos de Abraão" possam favorecer "uma maior estabilidade"; e que os vários desafios no terreno, "desde os humanitários até os políticos", sejam "enfrentados com sinceridade e coragem".
“Cada vez que as dioceses, as paróquias, as associações, os voluntários ou simples indivíduos trabalham para apoiar os abandonados ou necessitados - concluiu Dom Paul Richard Gallagher, assegurando o constante empenho da Santa Sé pela paz - o Evangelho adquire uma nova força de atração".
Neste contexto, o cardeal Mario Zenari, núncio Apostólico na Síria, ofereceu, mais uma vez, o seu testemunho pessoal sobre as consequências humanas e materiais da crise no país, um drama que, segundo fontes das Nações Unidas, ainda atinge 11 milhões. pessoas que necessitam de assistência.
A situação das comunidades cristãs residentes nos países afetados pela guerra esteve no centro do pronunciamento do cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais. Diante da "ferida" da emigração, que atinge sobretudo os jovens, o purpurado fez votos que seja feito todo o possível para evitar um "Oriente Médio monocromático que em nada refletiria sua rica realidade humana e histórica". Nesta vasta região existem homens e mulheres que desejam “regressar à própria terra” para “reconstruir seus sonhos”, também aproveitando as possíveis oportunidades da crise existente.
“Os cristãos são chamados, como todos os cidadãos - acrescentou o cardeal Leonardo Sandri - a contribuir para o nascimento de uma nova Síria, um novo Iraque, de acordo com a própria identidade consagrada nos princípios da não violência, do diálogo, do respeito pela dignidade humana, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, pluralismo, democracia, cidadania, Estado de direito, separação entre religião e Estado”.
A questão dos migrantes e pessoas deslocadas foi abordada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi.
A concluir o encontro, refletindo sobre o papel das agências católicas e como elas podem promover a transição da fase de emergência para a do desenvolvimento integral, o cardeal Peter K.A. Turkson, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, e o secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John.
O purpurado sublinhou como “é necessário dar às pessoas um sinal de esperança concreta, para permitir a elas que regressem aos seus respectivos países e poder viver em segurança”. O secretário-geral da Caritas Internationalis, por sua vez, descreveu a ajuda material que a Organização oferece "para apoiar, acompanhar e defender" as "vítimas inocentes" dos conflitos, especialmente um "grande número de minorias cristãs que são as mais vulneráveis". Um compromisso que não se limita a uma simples resposta diante da emergência, mas é também um acompanhamento para o futuro, para a autonomia e para uma vida digna.
São três as propostas da Caritas Internationalis: a revogação imediata das sanções, para aliviar o sofrimento da população local e permitir que as organizações humanitárias respondam às necessidades urgentes relacionadas com a aproximação do inverno e a pandemia de Covid-19; um aumento dos recursos financeiros a serem alocados para programas de ajuda para reconstruir o tecido social e responder às necessidades das comunidades locais; um maior apoio aos programas de organizações da sociedade civil que visam fornecer ajuda humanitária e promover a reabilitação e o desenvolvimento.
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