Ravasi: breviário e Comédia de Dante, sempre comigo
Antonella Palermo/Mariangela Jaguraba – Vatican News
Vinte e cinco de março é o dia em que os estudiosos reconhecem o início da viagem literária de Dante no além: em toda a Itália e em muitas cidades no exterior, organizações, instituições, universidades, escolas, associações estão ativas há pelo menos um ano para se preparar para a celebração do sétimo centenário da morte do grande poeta Dante Alighieri.
As exposições com a Biblioteca Apostólica e os Museus Vaticanos
Por ocasião da publicação da Carta Apostólica Candor Lucis Aeternae, foi apresentada a primeira edição da mostra virtual "Viajar com Dante", aos cuidados da Biblioteca Apostólica Vaticana e promovida pelo Comitê Científico Organizador Dante e pelo Pátios dos Gentios.
A exposição permitirá que as pessoas tenham acesso pela primeira vez, diretamente de seus computadores, a manuscritos, livros antigos, gravuras, medalhas sobre o tema de Dante, cobrindo um período de tempo que vai do final do século XIII até o século XIX. Os Museus Vaticanos recordarão sucessivamente o grande poeta através do projeto didático virtual "Dante nos Museus Vaticanos", no qual serão destacadas todas as obras dos Museus que se referem à figura e obra do grande poeta.
Leituras da Comédia nas Catacumbas
Em meados de junho, o "Pátio dos Gentios", em colaboração com a Pontifícia Comissão de Arqueologia Sagrada, organizará um evento cultural evocativo (apenas por convite) nas Catacumbas de São Calisto: será uma verdadeira viagem através da Comédia de Dante, que quatro atores conhecidos (Carlo Verdone, Margherita Buy, Alessandro Haber e Nancy Brilli) irão reler e interpretar, escolhendo algumas das passagens e personagens mais significativos.
Conferências sobre Dante
Em 28 de maio, o cardeal Ravasi, presidente do Comitê Científico Organizador, realizará uma conferência em Florença, na Basílica de Santa Cruz, intitulada "A letterno dal tempo" (Paradiso XXXI, 38): a teologia de Dante. Outra conferência, também dada por Ravasi, está programada para 12 de setembro, em Ravenna, no final das comemorações do Ano Dante. De 25 a 26 de novembro de 2021, o Comitê Dante organizará uma conferência científica na Universidade de Roma Tre, enfocando a figura de Dante e as grandes questões escatológicas por ele propostas. Participarão especialistas e estudiosos da obra do poeta florentino.
O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e da Comissão Dante criada no Vaticano para celebrar o aniversário de Alighieri, comenta nos microfones do Vatican News a Carta Apostólica Candor Lucis Aeternae.
Por que Dante ainda nos fala hoje?
Cardeal Ravasi: Temos em mente a sua figura sobretudo nas representações que encontramos dentro dos espaços vaticanos, no Palácio Apostólico onde Rafael o representou duas vezes com um perfil bastante rijo e austero. Ele o representou primeiro entre os teólogos, na chamada Stanza della Segnatura, e depois novamente numa cena daquela sala, O Parnaso, entre os poetas. Dante foi capaz de entrelaçar estas duas dimensões, atravessando toda a história do Ocidente: acima de tudo como um grande poeta, mas também como um grande fiel. Ele sempre permaneceu no cume da fé e da arte, no cume da história e da transcendência, do mistério, do eterno. Esta foi um pouco a sua grandeza que ainda hoje pode de alguma forma incidir em nossa história atual através de um testemunho de esperança num "além" a partir da lama do Inferno.
Reler a Divina Comédia é, portanto, uma espécie de injeção de esperança?
Cardeal Ravasi: Sim, na verdade temos como definição ideal da figura de Dante uma expressão que também é cara à tradição e que também está presente na Carta do Papa Francisco: a de ter sido um profeta de esperança. Sabemos que ele tinha uma relação dialética e tensa com a Igreja e o mundo, com sua cultura e sua sociedade. Sem hesitação, ele coloca um Papa ainda vivo, Bonifácio VIII, numa confusão infernal com uma polêmica bastante severa; por outro lado, vemos que ele chama os florentinos de "vilões". Denota que ele tinha uma relação atormentada com a realidade na qual estava inserido, mas ao mesmo tempo aponta ininterruptamente seu olhar para um além e para um Outro, o além do Paraíso, por exemplo, ou seja, da nossa meta extrema, e também um Outro que tem um rosto humano, mas transfigurado. Isto é uma coisa verdadeiramente sugestiva: dentro da Divina Comédia, no canto XXXII, quando ele representa a Trindade - nos famosos três círculos de cores diferentes, as três pessoas que no entanto têm um único "conteúdo", como ele diz, ou seja, um único espaço - temos, no centro, a surpresa de encontrar "nossa efígie", diz ele, porque o rosto de Cristo é um rosto de homem com as características da humanidade e é por isso que nos encontramos dentro do divino, depois de termos passado pela amargura da história, que também pode ser a história como aquela em que estamos inseridos agora.
Dante usa a "linguagem de todos", o Papa Francisco o compara ao Santo de Assis. Este aspecto da universalidade significa trabalhar também hoje para promover uma acessibilidade cada vez maior ao conteúdo cultural?
Cardeal Ravasi: É uma grande lição que acredito que Dante ofereça a todos nós: saber unir, e este é evidentemente o fruto de sua genialidade. Por um lado, ele tem a extrema capacidade de traduzir na linguagem comum, o vulgar de fato, o desejo de fazer com que todos se sobressaiam de alguma forma não mais através da nobreza do latim, a linguagem da aristocracia intelectual. Por outro lado, há a sequência de imagens. Dante é, em muitos aspectos, verdadeiramente uma figura multimídia porque é capaz: em todos os 14.223 hendecassílabos dos 100 cantos pode-se dizer que existe uma imagem que brilha. Ele não fala somente através de palavras ou de uma sofisticada reflexão teórica. Ele fala ininterruptamente, mostrando cenas e fazendo com que quem lê o texto veja com precisão essas imagens, como se estivesse olhando para uma tela de computador ou de televisão. Além de sua extrema habilidade de ser "popular", há a grandeza de sua reflexão. Dante é um grande poeta, mas é também um grande teólogo e um grande cientista devido a sua visão cosmológica, é um grande filósofo. Poucos sabem ficar num cume onde, por um lado, temos uma visão na luz, transparente, imediata, um horizonte que todos podem perceber e perseguir e, por outro, um lado escuro, no qual se deve entrar com dificuldade. É realmente uma espécie de harmonia admirável entre pura poesia e refinada especulação.
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