“A identidade da Igreja a partir da encarnação de Cristo”
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Depois de ter aprofundado o tema das diferentes imagens da Igreja apresentadas na Constituição Dogmática Lumen Gentium, à qual seguiram-se diversos programas sobre a Esponsalidade de Cristo com a Igreja, padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre “A identidade da Igreja a partir da encarnação de Cristo”:
“Todas as imagens e figuras da Igreja descritas no Documento da Lumen Gentium, visam redescobrir a verdadeira identidade, a essência e a missão da Igreja recebida por Jesus Cristo.
O Papa Francisco, no número 26 da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, relembra o pensamento do Papa Paulo VI, por ocasião do Concílio, convidando a alargar o apelo à renovação de modo que ressalte, com força, essa iniciativa, não se dirigindo apenas aos indivíduos, mas à Igreja inteira. Lembremos este texto memorável, que não perdeu a sua força interpeladora: «A Igreja deve aprofundar a consciência de si mesma, meditar sobre o seu próprio mistério (...). Desta consciência esclarecida e operante deriva espontaneamente um desejo de comparar a imagem ideal da Igreja, tal como Cristo a viu, quis e amou, ou seja, como sua Esposa santa e imaculada (Ef 5, 27), com o rosto real que a Igreja apresenta hoje. (…) Em consequência disso, surge uma necessidade generosa e quase impaciente de renovação, isto é, de emenda dos defeitos, que aquela consciência denuncia e rejeita, como se fosse um exame interior ao espelho do modelo que Cristo nos deixou de Si mesmo»[1].
Continua o Papa Francisco dizendo: “O Concílio Vaticano II apresentou a conversão eclesial como a abertura a uma reforma permanente de si mesma por fidelidade a Jesus Cristo: «Toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à própria vocação. (…) A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma»[2]. Há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador; de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo.
A Igreja precisa sempre redescobrir sua identidade missionária. “O Papa Francisco convida toda a Igreja a redescobrir e a tornar vivíveis uma vez mais os fundamentos da fé cristã. Se a Igreja se entrever a levar a cabo uma saída missionária, primeiro deve se perguntar a partir de que compreensão de si ela atua. Pois somente uma Igreja que sabe de onde vem, para onde vai e para que está no mundo poderá atuar eficazmente de maneira missionária”[3].
Se quisermos entender adequadamente a Igreja será preciso vê-la em analogia com o mistério da encarnação de Cristo. Assim diz a Lumen Gentium, no número 8: “...a Igreja terrestre e a Igreja ornada com os dons celestes não se devem considerar como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino. Apresenta por esta razão uma grande analogia com ó mistério do Verbo encarnado. Pois, assim como a natureza assumida serve ao Verbo divino de instrumento vivo de salvação, a Ele indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para o crescimento do corpo (cfr. Ef. 4,16)” (LG, 8). A missão da Igreja não pode ser vista fora da missão de Cristo. É na encarnação e missão de Cristo que a Igreja encontra sua identidade e missão.”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Carta enc. Ecclesiam suam (6 de Agosto de 1964), 10-12: AAS 56 (1964), 611-612.
[2] Conc. Ecum. Vat.II, Decr. sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 6.
[3] AUGUSTIN, George. Por uma Igreja “em saída”. Impulsos da Exortação Evangelii Gaudium, Vozes, 2018, p. 77.
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