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Padre Federico Lombardi SJ, atual diretor da Fundação Joseph Ratzinger-Bento XVI Padre Federico Lombardi SJ, atual diretor da Fundação Joseph Ratzinger-Bento XVI 

Padre Lombardi e sua missão de comunicar o bem ao mundo

O grande comunicador João Paulo II, o pensamento ordenado e coerente do Papa Bento XVI, as palavras e os gestos do Papa Francisco, mas também a experiência da Rádio Vaticano, do Centro Televisivo Vaticano e da Sala de Imprensa. Em um livro publicado pela Ancora-La Civiltà Cattolica, o Padre Federico Lombardi relata seu serviço no campo da comunicação vaticana.

Luca Collodi - Cidade do Vaticano

“A comunicação com os outros é uma dimensão da vida, de todos nós”. Assim foi para mim, diz o padre Federico Lombardi, jesuíta, ex-escritor e vice-diretor de La Civiltà Cattolica, provincial dos Jesuítas, diretor da Rádio Vaticano, do Centro Televisivo Vaticano e da Sala de Imprensa, agora presidente da Fundação vaticana Joseph Ratzinger.

“Em todos estes anos - escreve ele na introdução do livro 'Papas, Vaticano, Comunicação. Experiências e reflexões' - fui convidado a dar palestras sobre tópicos específicos da vida da Igreja ou do ensino dos Papas. No 90º aniversário de nascimento da Rádio Vaticano, a instituição que mais tempo serviu em sua experiência de comunicador, o padre Lombardi recolheu e ordenou reflexões e pensamentos sobre sua experiência na comunicação vaticana”.

“Várias vezes – lê-se - me disseram que eu teria muito a dizer ou contar sobre 30 anos de trabalho no Vaticano na comunicação. Na realidade fiz vários pronunciamentos, mas todas de caráter episódico. Foi-me pedido às vezes para falar sobre um Papa, um acontecimento atual, sobre conselhos que poderia dar aos comunicadores da Igreja, aos responsáveis ​​pelas assessorias de imprensa. Fiz tantos pronunciamentos diferentes ao longo de algumas décadas, mas não de forma sistemática. Agora que a situação mudou muito, também no mundo das comunicações com as novas tecnologias, não é que pensasse que fosse mais útil repetir essas intervenções, que foram feitas em lugares e situações muito específicas. Porém, quando a Rádio Vaticano completou 90 anos, eu retomei essas intervenções, dizendo-me que talvez fosse o momento certo para escolher alguém, tentando colocá-los em ordem para ter um fio condutor e propô-los de novo um pouco como a memória de uma experiência, mais do que como uma intervenção sobre os problemas das comunicações neste momento. Este é o significado deste livro."

Padre Lombardi, o senhor serviu três Papas na comunicação, três personalidades, três formas de comunicação muito diferentes ...

Sim. A personalidade de João Paulo II, a de Bento XVI e agora a de Francisco são personalidades diferentes. Porém eu estava ao seu serviço e portanto devia aprender e tentar entender qual era a sua melhor forma de comunicar, qual era a sua característica em servir o Evangelho com a sua habilidade de comunicador, para colaborar neste serviço ao Evangelho, difundindo-o com as ferramentas pelas quais fui responsável, o rádio, o Centro Televisivo e o encontro com jornalistas de diversas línguas e nações. Portanto, um serviço a seu serviço. Sempre concebi o meu trabalho na comunicação vaticana como um serviço ao Papa, que é servo do povo de Deus e da humanidade.

No entanto, o senhor nunca se definiu como o porta-voz do Papa ...

Não, porque eu acredito que os Papas falavam eles mesmos e falavam, mesmo muito, diretamente ao povo de Deus. Portanto, não eram pessoas escondidas a quem se devia dar voz, mas eram vozes altas, fortes e muito expressivas. E ainda o são, se pensarmos em Francisco. Por isso não achava a definição de porta-voz adequada ao tipo de trabalho que fazia, que era um pouco um serviço auxiliar desta grande voz que é a voz do Papa. Navarro viveu mais, encarnou mais o tema de porta-voz do Papa, no sentido de que ele colaborou muito diretamente, por muitos anos, com João Paulo II e, portanto, em certo sentido, ele foi um intérprete dele. É por isso que acho que a definição de porta-voz para ele foi bastante pertinente. Para mim, não era exatamente aquela que Navarro desenvolveu de forma magistral. Sempre preferi me qualificar como diretor da Sala de Imprensa. E depois se alguém quiser dizer que eu era porta-voz do Vaticano, do Papa, pode fazê-lo tranquilamente, mas não senti exatamente isso como meu serviço.

Como o senhor tentou interpretar os estilos comunicativos dos Papas em relação às suas personalidades?

Certamente são estilos diferentes. João Paulo II era uma personalidade muito forte, entusiasta também do ponto de vista da comunicação. Teve um pontificado de extensão ilimitada, tinha modos de se comunicar por meio de viagens em situações e lugares extremamente diversos. Ele também tinha o dom do gesto expressivo, uma capacidade de uso da palavra com uma experiência que vinha do teatro, portanto, uma habilidade expressiva modulada muito importante. Todas características que eram valorizadas e apresentadas, quer com a imagem quanto com o áudio. Bento XVI, como todos sabemos, era mais um teólogo, um homem de profunda cultura e de expressão de pensamento com grande clareza e de forma articulada, com o desejo de poder desenvolver um raciocínio, apresentar uma ideia sem ser interrompido, por exemplo, no diálogo com a multidão. Um estilo, digamos mais como uma pessoa de cultura e mais da palavra e também da palavra escrita, antes que do gesto. Francisco, todos o conhecemos com sua incrível capacidade de uma linguagem, que expressa sua proximidade com as pessoas, com a experiência, com a vida vivida, tanto com uma palavra simples como também com gestos expressivos cuja característica, eu diria, é justamente a proximidade, participação na vida das pessoas.

Padre Lombardi, o senhor trabalhou para a Rádio Vaticano durante 27 anos, primeiro como diretor de programação, depois como diretor geral. Depois, a experiência de diretor da Sala de Imprensa e do Centro Televisivo Vaticano. Tarefas que às vezes se sobrepunham, mas que permitiam que o senhor tivesse uma visão ampla da comunicação do Vaticano ...

Antes de tudo tratava-se de instituições que tinham uma missão comum. Visavam todas o mesmo fim que era o serviço ao Evangelho, em particular por meio do serviço do Papa ao Evangelho. Portanto, digamos que não sejam missões dispersivas. A finalidade das instituições era sempre, mais ou menos, a mesma. Depois, as instituições eram local e fisicamente próximas. Não era preciso viajar  para ir de uma a outra. Em poucos minutos, a pé, chegava e pegava um pouco ar. Depois, havia excelentes colaboradores em todas as três instituições onde servi. Portanto, era fácil e espontâneo distribuir a responsabilidade com eles. Não é que eu tinha que fazer tudo. Com certeza, não era possível, nem era desejável, não é nada que eu já tenha pensado. Portanto, uma comunidade de missão, proximidade e colaboração. Entre outras coisas, são instituições que sempre estiveram acostumadas a colaborar umas com as outras, embora estivéssemos em uma época em que os diferentes meios de comunicação ainda contavam com ferramentas e linguagens diferentes. Mas, de fato, eram todos pessoas que se conheciam muito bem e, quando necessário, sabiam muito bem colaborar para a missão comum. Vivi isso em particular durante as passagens de Pontificado que eram de certa forma o ponto alto do empenho comunicativo de todos nós, com milhares de jornalistas e com toda a atenção do mundo. Nessas ocasiões era espontâneo, para todos aqueles que trabalhavam em todas estas diferentes situações, eu conhecia três deles, mas também havia outros, de se unir para realizar este serviço comum à comunicação deste momento intenso da vida dos Igreja e do sentido que vivíamos. Para mim foram também momentos muito bonitos, de vivência, de colaboração, diria que me lembro deles não tanto como um momento de fadiga, mas como um momento de gostar de trabalhar juntos, mesmo se naturalmente, com o passar do tempo e com a convergência no mundo digital, se entendia que poderia ser necessária e natural uma maior convergência, que não era somente a unidade na mesma pessoa que dirigia diferentes instituições. Mas algo mais orgânico e profundo do que dizemos significava a unidade desta missão.

Existe uma história de bastidores da comunicação do Vaticano?

Eu diria que não. Mesmo como pessoa, sempre tentei dizer as mesmas coisas em público e de forma privada. Teria vivido como uma divisão da personalidade, como algo que me teria confundido até psicologicamente, o fato de ter que ter comportamentos diferentes de um lado e de outro. O fato é que se está a serviço de uma instituição que tem diversos níveis e também diferentes níveis de responsabilidade. Portanto, se age em colaboração e de qualquer forma em relação, por exemplo, com a Secretaria de Estado que naturalmente também tem responsabilidades diplomáticas nas relações com os Estados, ou com a nomeação de pessoas em colaboração com o Papa, que têm sua própria dimensão de confidencialidade que se deve saber respeitar e assumir no seu significado e nas suas razões. Portanto, para mim havia continuamente também o exercício de entender o que deve ser comunicado e quando, para realizar bem o serviço. Porque, qualquer pessoa com certa experiência entende isso, pode haver coisas, decisões, problemas que estão amadurecendo, que ainda não devem ser comunicados ou divulgados para evitar confusão.

Padre Lombardi, o senhor dirigiu muitos eventos como comunicador. Dois em particular são eventos históricos: a morte de João Paulo II e a renúncia de Bento XVI....

Via a atenção do mundo e sentia que tínhamos que nos preparar para ajudar a mídia do mundo a passar a mensagem corretamente, a informação objetiva sobre o que aconteceu e o que estava acontecendo, além de ler os significados para a vida da Igreja e da humanidade, que existem nestes grandes momentos de escolha para a Igreja Católica. Isso devia ser vivido com um grande senso de responsabilidade e colaboração. Devo dizer que admirei o empenho, a dedicação de todos, de todas as pessoas com quem tive de colaborar, tanto nas instituições pelas quais fui responsável, como nas demais, para que fosse oferecido o serviço e a mensagem mais correta por parte da Igreja. Vivi a morte de João Paulo II em particular como diretor do Centro Televisivo Vaticano. Lembro-me da transmissão ao vivo de uma semana inteira organizada com meus colaboradores técnicos para acompanhar este rio de gente noite e dia, sabendo que as imagens que nós gerávamos eram acompanhadas com grande intensidade pelos olhos de todo o planeta, para o qual fornecíamos as imagens deste extraordinário evento de participação e oração.

O livro conclui com algumas notas que o senhor publicou ...

Sim, 5 notas. Digamos que a partir do momento que o livro tem a função de colocar à disposição a minha experiência, se ela pode ser útil ou interessante para alguém, recordo que durante os anos em que era contemporaneamente diretor da Sala de Imprensa e da Rádio Vaticano, havia usado esta fórmula para eventos empenhativos, que por vezes apresentavam alguma dificuldade de interpretação, para tentar dar uma explicação bastante clara, formulada por escrito, de forma a não dar margem a mal-entendidos e que estivesse ao alcance de todos para interpretar o significado de um evento. Lembro-me de ter feito isso em algumas ocasiões. Escolhi 5 eventos que me pareceram os mais significativos deste tipo de serviço. A primeira nota diz respeito a uma declaração da Doutrina da Fé sobre o padre Sobrino e a teologia da libertação. Outra, por outro lado, dizia respeito a um fato que causou grande sensação, o batismo de Magdi Allàm pelo Papa na noite de Páscoa, depois a declaração das virtudes heroicas de Pio XII. Por fim, outro momento de crise na comunicação, devido ao vazamento de notícias que é a nota em que utilizei pela primeira vez, em certo sentido, o termo 'Vatileaks', que depois teve sua  história própria.

Padre Lombardi, com base na sua experiência, qual será o futuro da comunicação católica?

A comunicação está imersa na história, na história da Igreja no mundo, da fé no nosso tempo e a comunicação reflete esta evolução das situações, tenta lê-la, interpretá-la e fazer isso em diálogo com as pessoas do mundo hoje. Num mundo, entre outras coisas, em que a comunicação é cada vez mais interativa, portanto com uma forma de diálogo com o tempo em que vivemos que se torna e tem se tornado, nos últimos anos, cada vez mais intensa. Às vezes com sérios problemas, com equívocos e, portanto, sempre com a necessidade de interpretação de leitura, de esclarecimento, para poder comunicar a mensagem que nos interessa: a do Evangelho, do Evangelho vivido no nosso tempo de uma forma correta, positiva. Esta é a missão da Igreja na dimensão da comunicação e da relação com todas as pessoas que nos rodeiam, com quem nos encontramos e com quem dialogamos todos os dias. As fórmulas mudam porque as formas de comunicação no mundo mudam.

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06 novembro 2021, 09:22