Vaticano: o compromisso da Igreja para erradicar o trabalho infantil
Claudia Di Lorenzi/Raimundo de Lima – Vatican News
"Despertar as consciências, expressar solidariedade às crianças e às famílias afetadas pelo trabalho infantil, mas também construir confiança e sinergias entre os que estão comprometidos em acabar com a exploração do trabalho infantil." O prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Peter Appiah Turkson, ilustrou assim os objetivos da Conferência Internacional "Erradicar o Trabalho Infantil, construir um futuro melhor", promovida pela Comissão Covid-19 do Dicastério, juntamente com a Missão permanente da Santa Sé junto à FAO, IFAD e PAM, realizada sexta-feira (19/11) na sede do Dicastério vaticano, e aprofundou as causas, implicações e estratégias para combater o trabalho infantil.
Escravidões modernas
Reiterando as palavras do Papa Francisco, que, na audiência da manhã de sexta-feira reservada aos participantes do encontro, observou que "a forma como nos relacionamos com as crianças, o quanto respeitamos sua dignidade humana inata e seus direitos fundamentais, expressam que tipo de adultos somos e queremos ser e que tipo de sociedade queremos construir", o cardeal ganense definiu como escandaloso o fato de que "o estilo de vida opulento de uma parte da humanidade é muitas vezes alcançado à custa da dignidade dos membros mais frágeis da família humana, ou seja, as crianças", que são expostas, apesar de "numa época em que a humanidade fez enormes progressos em termos de riqueza, conhecimento científico, tecnologia e comunicação", "a formas de exploração que, em alguns casos, equivalem a formas contemporâneas de escravidão".
Acabar com todas as formas de trabalho infantil
Citando novamente o Papa, o cardeal Turkson disse que na luta contra aquela economia que "mata", ninguém pode "ficar indiferente às violações da dignidade das crianças", porque "somos todos membros da mesma família humana, estamos todos interligados e interdependentes, todos no mesmo barco". Tendo isto em mente, o chefe do Dicastério observou que "a Santa Sé acolhe com esperança" o compromisso da comunidade internacional de pôr fim ao trabalho infantil em todas as suas formas, incluindo o recrutamento de crianças soldados: uma das Metas de Desenvolvimento Sustentável da Agenda das Nações Unidas para 2030.
Intervenções políticas
Em sua mensagem em nome do diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, Qu Dongyu, o economista-chefe da FAO Maximo Torero falou da necessidade de "atacar" as causas fundamentais do trabalho infantil. Pobreza, fome, vulnerabilidades econômicas e mudanças climáticas são os fatores "alvo" para esta ação, que também exige o reconhecimento do valor da educação. A necessidade de coordenação e cooperação entre governos, organizações internacionais, ONGs e organizações de base foi enfatizada por Chetra Khieu, diretor executivo da Damnok Toek, organização que auxilia crianças vulneráveis e suas famílias no Camboja, o qual observou que o trabalho infantil no país asiático é um problema estrutural com raízes socioeconômicas que requer intervenções políticas, antes que culturais.
O peso da pandemia
Por sua vez, a Irmã Catherine Mutindi da República Democrática do Congo, falou do trabalho das crianças nas minas de cobalto como "um grande risco, uma injustiça e um mal", com muitas delas doentes, feridas e órfãs. Philip Goldman, fundador e presidente da Maestral International, consultor da Comissão Covid-19, evidenciou que a pandemia agravou o problema do trabalho infantil: "As crianças que perdem um dos pais ou uma pessoa que cuida delas correm alto risco de perda de renda familiar ou de aumento da pobreza, levando à redução do consumo familiar e a uma nutrição mais deficiente, a uma diminuição de matrículas e da participação escolar, a problemas de saúde mental e traumas, ao abuso físico e sexual e à separação da família. Estes, é claro, são todos fatores-chave do trabalho infantil". Olhando para o futuro, Goldman enfatizou a urgência da distribuição equitativa de vacinas porque "enquanto a Covid-19 se espalhar, há um risco de aumento da pobreza infantil e familiar e da vulnerabilidade multidimensional, levando a um aumento ainda maior do trabalho infantil".
Os direitos e a serenidade dos menores
Em suas observações finais, o observador permanente da Santa Sé junto à FAO, IFAD e PAM, monsenhor Fernando Chica Arellano, também falou do futuro. Segundo o prelado, "erradicar o trabalho infantil significa construir um futuro melhor", porque "libertando as crianças da exploração delas no trabalho, permitimos que todas as suas capacidades germinem frutuosamente no tempo" e porque "sem exploração, alcançaremos um futuro melhor para toda a sociedade, pois as crianças e os jovens de hoje serão nossos governantes de amanhã, os futuros administradores da nossa casa comum". Em seguida, monsenhor Chica Arellano observou: "Se quisermos dizer que progredimos, não devemos olhar apenas para o progresso científico ou o desenvolvimento técnico. Devemos pensar antes de tudo em nossa estatura ética, que caminha de mãos dadas com a defesa dos direitos fundamentais das crianças e sua serenidade e felicidade".
O tuíter conta @Pontifex
O Papa, pela manhã, tinha oferecido a moldura de significado: "Tenhamos sempre em mente as palavras de Jesus no Evangelho: 'Tudo aquilo fizestes a um só destes pequeninos, a mim o fizestes'" (Mt 25:40)". Na parte da tarde, em sua conta @Pontifex, escreveu: "O trabalho infantil é a exploração de crianças. É a negação de seus direitos à saúde, à educação, ao crescimento harmonioso, ao brincar, ao sonho. Significa roubar o futuro das crianças e, portanto, a própria humanidade".
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