Gallagher no Sudão do Sul: trabalha-se para visita do Papa em 2022
Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano
Provavelmente nunca haverá "um momento perfeito", mas não está excluído que o Papa visite o Sudão do Sul no próximo ano. Desejo este já expresso várias vezes pelo próprio Francisco e que recebe "grande apoio" das autoridades e da população do país africano para que se concretize. A afirmação é do secretário para as Relações com os Estados, arcebispo Paul Richard Gallagher, durante visita de três dias a Juba - de 21 a 23 de dezembro - durante a qual se encontrou com líderes políticos e religiosos locais.
Há "um grande apoio para uma visita do Santo Padre", explicou o arcebispo ao microfone de Mbikoyezu, John Gbemboyo, colaborador da redação inglês-África do Vatican News: "Mesmo que, como para todas essas coisas, não haja um momento perfeito. Devemos avançar em todo o processo de discernimento”.
O desejo do Papa
Esta visita antes do Natal do secretário para as Relações com os Estados ao Sudão do Sul estava planejada há vários meses, coordenada com o Palácio de Lambeth, residência oficial do arcebispo de Canterbury.
Precisamente ao lado do primaz anglicano Justin Welby, o Francisco havia expresso em 2017 seu desejo de realizar uma missão ecumênica no Sudão do Sul. Encontrando a comunidade anglicana na Igreja de Todos os Santos em Roma, o Papa revelou sua intenção: “Meus colaboradores estão estudando a possibilidade de uma viagem ao Sudão do Sul. Mas por que? Porque os bispos anglicanos, presbiterianos e católicos vieram me dizer: 'Por favor, venha para o Sudão do Sul, mesmo que um único dia. Mas não venha sozinho, venha com Justin Welby'. Deles, Igreja jovem, veio isso, e estamos pensando, a situação lá é muito ruim, mas eles querem a paz, juntos trabalhamos pela paz”.
Já em outubro daquele ano parecia que a visita poderia se realizar, mas o agravamento do contexto político e a intensificação dos confrontos em várias áreas do país - o que havia provocado um rompimento no "cessar-fogo" e uma grave crise humanitária - adiou a iniciativa.
O encontro com líderes sul-sudaneses no Vaticano
Em abril de 2019, Francisco havia reiterado seu desejo de viajar por ocasião do retiro espiritual no Vaticano das mais altas autoridades religiosas e políticas do Sudão do Sul. Encontro concebido pelo arcebispo de Cantuária, com a presença do presidente Salva Kiir e dos vice-presidentes designados, incluindo Rebecca Nyandeng De Mabior, viúva do líder sul-sudanês John Garang, e Riek Machar, líder da oposição.
De joelhos, Francisco havia beijado seus pés, tornando visível e concreto o apelo expresso pouco antes em seu discurso sobre o dom da paz para um povo desfigurado por cerca de seis anos de guerra civil. Esse gesto inesperado e simbólico foi recordado por Gallagher: “O retiro no Vaticano teve muita atenção, especialmente pelo gesto extremo do Santo Padre que implorou aos líderes do Sudão do Sul para levarem a cabo o processo de paz para o bem do povo. Então, trabalhamos nisso ”durante os dias de visita.
Ouvir as pessoas e os líderes
Uma visita que, explica Gallagher, “foi indiretamente influenciada pela Covid-19, mas no final decidimos que nunca haveria um momento perfeito para realizá-la. Decidimos vir agora. Viemos com o objetivo de ouvir as pessoas, ouvir os líderes, quer políticos como da Igreja, para ver como está a situação aqui e que contribuição tanto a Santa Sé, em particular o Papa Francisco, como o arcebispo de Cantuária podem dar para a realização deste processo de paz”.
Os encontros
Chegando a Juba no início da tarde de 21 de dezembro, acompanhado por Monsenhor Andrea Piccioni da Seção de Relações com os Estados, Gallagher foi recebido pelo Núncio no Sudão do Sul, residente em Nairóbi, Dom Hubertus Matheus Maria van Megen, por Dom Ionuţ Paul Strejac, encarregado de Assuntos a.i. residente em Juba, pelo arcebispo de Juba e pelos bispos de Malakal e Wau, bem como por uma representação dos religiosos que servem no país.
No aeroporto, manteve um colóquio privado com o ministro das Relações Exteriores, Mayiik Ayii Deng. À tarde, na Nunciatura, encontrou-se com o bispo anglicano Precious Omuku e Martha Jarvis, representantes do Lambeth Palace, e alguns diplomatas, com os quais discutiu a atual situação política, econômica e social do Sudão do Sul. Seguiu-se um encontro com os bispos do Sudão do Sul, que expressaram sua gratidão ao Papa "por sua paterna proximidade" e renovaram "o compromisso da Igreja local em favor do país".
Em conversa com o presidente Salva Kiir
Na manhã do dia 22 de dezembro, Gallagher, juntamente com as delegações da Santa Sé e do Lambeth Palace, foi recebido pelo presidente Salva Kiir Mayardit em sua residência. Uma conversa cordial, durante a qual foi reiterado o apoio do Vaticano ao processo de paz e a possibilidade de o Papa, Welby e o Moderador da Igreja Presbiteriana da Escócia visitarem o Sudão do Sul no próximo ano. Uma proposta acolhida com grande satisfação pelo Chefe de Estado, que reafirmou o compromisso do governo com a implementação da paz, agradecendo ao Papa e ao arcebispo de Cantuária por promoverem a unidade e a estabilidade do Sudão do Sul. Salva Kiir, em particular, agradeceu a Francisco pela ajuda humanitária oferecida às populações afetadas pelas recentes inundações, especialmente na Diocese de Malakal.
A viagem de Gallagher continuou com um encontro com alguns representantes do Conselho Ecumênico das Igrejas do Sudão do Sul e com expoentes da sociedade civil. Na manhã do dia 23 de dezembro, o arcebispo presidiu uma Missa na Catedral de Juba - na presença do terceiro vice-presidente, Taban Deng Gai-, durante a qual encorajou os fiéis a viverem o mistério do Natal, na busca constante da unidade, da caridade e do perdão. Após a celebração, o prelado encontrou-se com religiosos e religiosas do Sudão do Sul e visitou o orfanato St. Claire House for Children em Juba, para o qual anunciou um presente do Papa Francisco.
Um povo otimista de grande fé
No final da viagem, o secretário para as Relações com os Estados disse estar "otimista" em relação à África, apesar dos inúmeros desafios que o continente tem de enfrentar: da insegurança à pobreza constante, até à devastação provocada pelas cheias: "Reconheço os muitos problemas, mas penso que também há muita energia e otimismo. Há um talento que vai levar em frente o povo africano, inclusive o povo do Sudão do Sul”.
Disto, um pensamento para o Natal: “Este é um país de grande fé, com uma grande tradição cristã. E o Natal é uma época em que Jesus Cristo, na sua fragilidade, vem entre nós. Deus escolhe a humanidade. Há, portanto, uma grande mensagem de esperança, uma mensagem de perseverança”.
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