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O arcebispo Dom Paul Richard Gallagher O arcebispo Dom Paul Richard Gallagher  

Dom Gallagher: a diplomacia dos valores para o encontro dos povos

Em seu discurso no encontro "A diplomacia dos valores e o desenvolvimento", organizado em Roma pela associação "Carità Politica", o Secretário das Relações com os Estados do Vaticano sublinhou que diante dos desafios comuns que exigem soluções partilhadas, "a diplomacia dos valores visa promover o bem da família humana além de qualquer interesse particular"

Marco Bellizi

Nas relações entre Estados, para enfrentar os desafios globais de hoje, "é necessário ir além da normalidade ou da simples repetição de clichês e fórmulas pré-estabelecidas, cuja eficácia a praxe internacional causa muitas dúvidas e reservas". Por esta razão, "precisamos permanecer em mar aberto, navegando no horizonte da mais ampla caridade". Em seu discurso por ocasião encontro "A diplomacia dos valores e o desenvolvimento", organizado pela associação "Carità politica" na Aula Pio XI do Palácio San Calisto em Roma, o Arcebispo Paul Richard Gallagher, Secretário da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados, resumiu desta forma o sentido e a perspectiva das relações internacionais no contexto atual, que é sem precedentes em sua complexidade e, portanto, requer novos instrumentos e modelos. Ou renovados.

O evento

O evento promovido pela Associação de Direito Pontifício e entidade moral reconhecida pelo Estado italiano contou com a presença de 35 embaixadores e representantes diplomáticos. Trata-se de uma comunidade, que se reúne periodicamente e é formada com o louvável compromisso, da Caridade Política, fundada na partilha dos valores de respeito mútuo, diálogo religioso, desenvolvimento justo e sustentável. É uma comunidade que de Roma e da Cidade do Vaticano olha para o mundo.

Diplomacia dos valores

"A diplomacia dos valores pode realente inspirar a ação dos governos”, afirmou o arcebispo Gallagher em seu discurso. “De fato, diante dos desafios comuns que exigem que a comunidade internacional encontre soluções compartilhadas, a diplomacia dos valores com o objetivo de promover o bem da família humana além de qualquer interesse particular é particularmente adequada para promover o estilo multilateral que tem caracterizado as relações internacionais desde o final da Segunda Guerra Mundial e que se tornou essencial nos dias de hoje". A diplomacia pontifícia, recordou Dom Gallagher, procura "recolocar situações concretas na perspectiva realista do bem comum e do humanismo". O objetivo da ação consequente deve, portanto, necessariamente visar os valores que favorecem concretamente o desenvolvimento humano integral. Para ser assim, o prelado recordou, citando a Populorum Progressio, ela deve ser "destinada à promoção de cada homem e de todo o homem". Hoje, porém, com relação aos direitos que a Declaração Universal de 1948 queria que fossem válidos sempre, em cada época, lugar e cultura, "nota-se - explicou o prelado - um distanciamento", "quase como se o profundo significado dos direitos humanos fosse contextualizado".

A cultura do cancelamento

De fato, "a tentação moderna e pós-moderna" é considerar os direitos humanos "negando sua conexão com toda a humanidade sobre a qual são fundados, colocando-os em uma perspectiva subjetivista", de modo que acabam se tornando uma simples expressão de grupos de interesse especial. “Este fenômeno", explicou o arcebispo, "é claramente perceptível à luz das reivindicações cada vez mais insistentes de grupos radicais que emergem de ideologias ligadas à chamada Cultura do Cancelamento" e que "muitas vezes se apresentam como porta-vozes das vítimas de certas formas específicas de discriminação", "trancando-se em uma defesa total de sua própria identidade, em última análise intolerante a qualquer outro pensamento".

O valor como ser humano é mais importante que qualquer grupo menor

Trata-se de tendências estão na raiz da "colonização ideológica" da qual fala o Papa Francisco, que em vez disso, na Fratelli tutti, insiste em uma "sociedade na qual o valor como ser humano é sem dúvida mais importante que qualquer grupo menor, seja a família, a nação, a etnia ou a cultura". É, explicou o prelado, o sentido da "dimensão principalmente social e relacional da pessoa humana". E a família "é o primeiro lugar onde a pessoa humana aprende a descobrir e a viver sua dimensão social". A insistência sobre "a dimensão social do desenvolvimento, que geralmente se refere à solidariedade, ressoa de maneira particular quando o Papa nos propõe até mesmo o conceito de fraternidade como um modelo social universal", continuou Gallagher, chamando assim de "política internacional a uma abordagem integral que inclua um diálogo interdisciplinar, com a premissa de que todos são cidadãos do mundo com direitos e deveres iguais".

Solidariedade e fraternidade

Mas, afirma o Papa, "enquanto a solidariedade é o princípio do planejamento social que permite que os desiguais se tornem iguais, a fraternidade é o que permite que os iguais sejam pessoas diferentes". A contribuição da diplomacia dos valores é então também a de "promover uma ação mais ampla e eficaz para o encontro dos povos, para a cooperação de acordo com suas livres e autênticas sensibilidades nacionais", pois, como diz o Papa Francisco, "a justiça exige que reconheçamos e respeitemos não somente os direitos individuais, mas também os direitos sociais e os direitos dos povos".  

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21 janeiro 2022, 09:10