Igreja-casa, pilar do pão
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“A Eucaristia, presença salvífica de Jesus na comunidade dos fiéis e seu alimento espiritual, é o que de mais precioso pode ter a Igreja no seu caminho ao longo da história”. A Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, de São João Paulo II, inspira a reflexão do padre Gerson Schmidt* no programa quarta-feira, quando nos fala sobre “Igreja-casa, pilar do Pão”. No documento publicado em 2003, o Pontífice polonês observa que embora o Concílio Vaticano II não tenha publicado qualquer documento específico sobre o mistério eucarístico, “todavia ilustra os seus vários aspectos no conjunto dos documentos, especialmente na Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen gentium e na Constituição sobre a sagrada Liturgia Sacrosanctum concilium":
"As orientações atuais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), usam essa imagem da Igreja como casa que já exploramos com insistência aqui em nossa abordagem sobre a Constituição Dogmática Lumen Gentium. Segundo as novas diretrizes da CNBB essa casa é construída a partir de quatro pilares, que fazem parte dos fundamentos sólidos e constitutivos da Igreja de Cristo: pilar da Palavra, pilar do Pão, pilar da Caridade e pilar da Missão. Já aprofundamos o pilar da Palavra, também com apontamentos atuais do Papa Francisco.
Aprofundemos agora o pilar do pão, que é um dos fundamentos da Igreja como casa. O Pilar do Pão aqui se refere à Eucaristia, a liturgia e a espiritualidade. A fração do pão estava entre os ritos fundamentais da celebração na Igreja primitiva. Os quatro relatos sobre a instituição da Eucaristia descrevem o gesto de Jesus. Esse rito se tornou prática concreta nas primeiras comunidades. Os Atos dos Apóstolos identificam os cristãos de Jerusalém como “assíduos, perseverantes (...) na fração do pão” (At 2,42), recordando uma prática ligada às casas (At 2,46). O documento número 109 das Diretrizes gerais da CNBB dizem assim com precisão: “A liturgia é o coração da comunidade. Ela remete ao mistério e, a partir deste, ao compromisso fraterno e missionário” (DGAE, 160). As Diretrizes propõem a valorização do Domingo, dia do Senhor e do encontro com Cristo, de toda a família (DGAE, 161). É necessário promover uma liturgia essencial que possibilite o verdadeiro encontro com Jesus Cristo, evitando-se ações litúrgicas frias ou demasiadamente subjetivistas e emotivas. As celebrações devem ter os pés firmados na realidade da vida das pessoas levando-as a mergulhar no mistério de Deus, possibilitando a comunidade beber da riqueza da Reforma Litúrgica (DGAE, 162). Em tempos de individualismo extremo, em que o eu parece ser o centro de tudo, é preciso dar um salto para uma espiritualidade comunitária. É preciso evitar a separação entre o culto e a misericórdia, liturgia e ética, celebração e serviço aos irmãos (DGAE,163).
São João Paulo II, no ano de 2003 editou a Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, onde reflete sobre a centralidade da Eucaristia na vida da Igreja, e afirma que: “A eucaristia faz a Igreja, e a Igreja faz a Eucaristia”.
O Concílio Vaticano II justamente afirmou que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã”. Com efeito, « na santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo ». Por isso, o olhar da Igreja volta-se continuamente para o seu Senhor, presente no sacramento do Altar, onde descobre a plena manifestação do seu imenso amor.
Afirmava assim o Papa João Paulo II: “A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: “Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28, 20); mas, na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. Desde o Pentecostes, quando a Igreja, povo da nova aliança, iniciou a sua peregrinação para a pátria celeste, este sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de consoladora esperança”[1]. Do mistério pascal nasce a Igreja. Por isso mesmo a Eucaristia, que é o sacramento por excelência do mistério pascal, está colocada no centro da vida eclesial[2]."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] CARTA ENCÍCLICA ECCLESIA DE EUCHARISTIA DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II, n.01
[2] Idem, 3.
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