Ouellet: redescobrir o horizonte sacerdotal obscurecido por abusos
Federico Piana e Eugenio Bonanata – Vatican News
"O que se pode esperar de uma 'teologia fundamental do sacerdócio' no contexto histórico atual, dominado pelo drama dos abusos sexuais perpetrados pelos clérigos? Não deveríamos nos abster de falar do sacerdócio quando os pecados e crimes de ministros indignos estão nas primeiras páginas da imprensa internacional, seja por trair seu compromisso ou por encobrir vergonhosamente os perpetradores de tal depravação? Não deveríamos ficar em silêncio, arrepender-nos e procurar as causas de tais delitos? ". O Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos, fez estas dolorosas e difíceis perguntas em seu discurso no Simpósio Internacional intitulado “Por uma Teologia Fundamental do Sacerdócio”, que está sendo realizado na Sala Paulo VI no Vaticano e aberto ontem pela manhã (17/02) com uma reflexão do Papa Francisco.
Perguntas que são respondidas
Porém as perguntas do Cardeal Ouellett não estão sem respostas. Antes de tudo, disse o prefeito da Congregação dos Bispos, "estamos todos dilacerados e humilhados por estas questões cruciais, que todos os dias nos perguntamos como membros da Igreja de Jesus Cristo". Em seguida, o cardeal indicou um caminho necessário a ser seguido para que o objetivo seja alcançado: continuar pedindo perdão: "Esta ocasião é propícia para expressar nosso sincero pesar e pedir perdão às vítimas, que sofrem por suas vidas destruídas por comportamentos abusivos e criminosos, o que permaneceu por muito tempo escondido e tratado com leveza, pela vontade de proteger a instituição e os culpados em vez das vítimas".
Duas formas de participação: batismal e ministerial
Em seu discurso, o Cardeal Ouellet também indicou outra prioridade, essencial para toda a Igreja: "Redescobrir o horizonte global do sacerdócio em suas duas formas de participação, batismal e ministerial, no único sacerdócio de Cristo". Um pré-requisito, argumentou o prefeito, "para uma análise teológica completa do drama dos abusos; isto também torna possível abordar a questão do papel da mulher na Igreja de forma mais aberta e mais sensível à dimensão carismática da comunidade; isto também deveria encorajar e apoiar o entusiasmo por todas as vocações através de uma visão atraente da sua comunhão".
Agradecimento ao Papa por sua atenção aos sacerdotes
O Cardeal Ouellet agradeceu ao Papa Francisco pelo estímulo dado na abertura do Simpósio: "Foi uma bela e longa palestra na qual ele expressou preocupação com o sacerdote através de sua doutrina habitual de compartilhar sua experiência pessoal. O Papa nos recordou que, antes de mais nada, o sacerdote deve obter a proximidade de Deus".
Os trabalhos da manhã
Pela manhã, o simpósio concentrou-se em dois temas fundamentais: o estado atual da fé e do sacerdócio e os fundamentos bíblicos da relação entre o sacerdócio do batizado e o ministério apostólico. "Porque o objetivo deste encontro é precisamente recuperar a consciência da Igreja como povo sacerdotal em cujo serviço existem ministros ordenados", explica ao Vatican News o padre Gabriel Richi Alberti, palestrante do evento e reitor da Faculdade de Teologia da Universidade Eclesiástica de San Damaso em Madri. "E os dias de reflexão que estamos vivendo", acrescenta, "assumem ainda maior relevância em nosso momento histórico conturbado".
Segundo o Padre Alberti, para conseguir uma verdadeira renovação sacerdotal, deveríamos voltar a aprofundar melhor o Concílio Vaticano II: "Sinteticamente, podemos dizer que o Concílio nos oferece quatro indicações: partir sempre da unicidade da mediação e do sacerdócio de Cristo. Segundo: perguntar-se como o sacerdócio, a oferta de salvação, continua presente ao longo do caminho da história para ser oferecido à liberdade dos homens. Então, perceber que esta possibilidade de permanência do sacerdócio de Cristo ao longo da história está ligada à permanência da Igreja como o sacramento universal da salvação. Por fim, considerar melhor o sacramento da ordem, que garante o ser sacerdotal de todo o Povo de Deus, para que a Igreja possa permanecer sempre como o sacramento da salvação".
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