Pilar da caridade e Papa Francisco
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“A caridade – diz o Catecismo da Igreja Católica no número 1822 - é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus”. Ao mesmo tempo, “quanto mais o homem fizer o bem, mais livre se torna. Não há verdadeira liberdade senão no serviço do bem e da justiça (1733 CIC).
Padre Gerson Schmidt* tem nos proposto uma série se reflexões a partir da imagem da Igreja como construção, edifício de Deus, casa com fundamento apostólico, construída a partir de quatro pilares: pilar da Palavra, pilar do Pão, pilar da Caridade e pilar da Missão. No programa de hoje, o sacerdote aprofunda em particular o pilar da caridade, relacionando-o com o Pontificado do Papa Francisco, que completou nove anos no último sábado, 19 de março:
"Estamos aprofundando o pilar da Caridade, uma das bases na qual se ergue a Igreja de Cristo. Em seu pontificado, o Papa Francisco tem acentuado esse pilar da caridade. As novas Diretrizes da CNBB, válidas até 2023, no número 108 aponta que o Papa Francisco insiste em dizer que deseja uma Igreja pobre para os pobres (EG, n.198). Por isso, o Papa Francisco instituiu o dia do Pobre, como prerrogativa também de sinalizar a importância de nossa fé mais concreta, para coloca-los – como afirma o Papa – “no centro do caminho da Igreja” (EG, 198).
“O Papa Francisco diz no número 199 da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: Quando amado, o pobre «é estimado como de alto valor»,[168] e isto diferencia a autêntica opção pelos pobres de qualquer ideologia, de qualquer tentativa de utilizar os pobres ao serviço de interesses pessoais ou políticos. Unicamente a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de libertação. Só isto tornará possível que «os pobres se sintam, em cada comunidade cristã, como ‘em casa’”(EG, 199). O Papa aqui retoma o tema da Igreja como casa, onde o pobre se sinta acolhido na comunidade da família dos filhos de Deus.
Na Quaresma do ano passado, o Papa afirmou que a partir do “amor social” é possível avançar para uma civilização do amor. “Com o seu dinamismo universal, a caridade pode construir um mundo novo, porque não é um sentimento estéril, mas o modo melhor de alcançar vias eficazes de desenvolvimento para todos”. O Pontífice salientou que a caridade é um dom “que dá sentido à nossa vida e graças ao qual consideramos quem se encontra na privação como membro da nossa própria família, um amigo, um irmão”. O Santo Padre destaca que viver uma Quaresma de caridade é cuidar de quem está em condições de sofrimento ou abandono devido à crise que a Covid-19 provocou.
O Papa tem afirmado que a caridade é o maior antídoto contra as tendências de nosso tempo, que “a caridade é sempre a via mestra do caminho de fé. Mas a caridade não é simples filantropia, mas, por um lado, é olhar o outro com os mesmos olhos de Jesus e, por outro lado, é ver Cristo no rosto dos necessitados”.
Numa entrevista com Domenico Agasso, especialista em Vaticano, em março de 2021, o Papa lembrou o saudoso Dom Helder Câmara nessas Palavras: “Lembro-me de um santo bispo brasileiro, dom Hélder Câmara, que disse: 'Quando cuido dos pobres, dizem que sou um santo; quando pergunto a todos sobre as causas de tanta pobreza no mundo, dizem que sou um comunista'”.
Na Quaresma desse ano, Papa Francisco relembrou suas palavras da Encíclica Fratelli Tutti falando que a quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados (cf. FT, 193). “Praticando o amor fraterno para com todos, estamos unidos a Cristo, que deu a sua vida por nós (cf. 2 Cor 5, 14-15), e saboreamos desde já a alegria do Reino dos Céus, quando Deus for «tudo em todos» (1 Cor 15, 28)”[1].
Papa Francisco não fala somente da caridade, mas tem iniciativas de caridade como uma luz também para todos. São ações simples, mas com grandes significados, foram tomadas pelo Papa, mostrando que nos pequenos gestos também se encontram solidariedade, fraternidade e caridade, essência do Evangelho.
Em abril de 2017, Papa Francisco inaugurou uma lavanderia para que os indigentes e sem teto de Roma, que já contavam com chuveiros para banhos, cabeleireiro, vestuário, centro médico e ponto de distribuição de gêneros de primeira necessidade. O cardeal Konrad Krajewski, responsável por distribuir os fundos de caridade do pontífice, foi até um prédio de propriedade do Estado italiano em Roma, ocupado desde 2013 por italianos que perderam suas casas e imigrantes, por 450 pessoas incluindo 100 crianças. O “Robin Hood” do Papa, como ficou conhecido, rompeu o lacre policial e religou a energia elétrica desligada. Krajewski assumiu toda responsabilidade pelo ato praticado.[2]
O Papa demonstra sua simplicidade e caridade em andar num carro simples, em residir na Casa Santa Marta e ali fazer suas refeições com as pessoas. Desde o início de seu Pontificado não quis assumir ares de pomposidade. A caridade demonstrada do Papa supera suas palavras, demonstrando que a Igreja precisa ser uma verdadeira casa de caridade."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Papa Francisco, Roma, em São João de Latrão, na Memória litúrgica do bispo São Martinho, 11 de novembro de 2021, publicado em 02 de março de 2022. o
[2] www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/com-acoes-simples-papa-francisco-mostra-a-grandeza-da-fraternidade/.
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