Igreja como comunidades eclesiais missionárias
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
No programa passado, padre Gerson Schmidt* nos propôs uma reflexão sobre “pistas para uma Igreja em estado permanente de missão”. No programa de hoje, partindo da Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, de 21 de novembro de 1964, e das Diretrizes Gerais dos bispos do Brasil, o sacerdote gaúcho nos fala sobre a formação de pequenas comunidades eclesiais missionárias.
“A Constituição Dogmática Lumen Gentium tem destacado a missão da Igreja como sacramento universal de Salvação. No número 05 da constituição do Concílio sobre a Igreja, antes das imagens e figuras da Igreja que aqui utilizamos exaustivamente, diz assim: “Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra”.
No número 20 da constituição continua assim: “A missão divina confiada por Cristo aos Apóstolos durará até ao fim dos tempos (cfr. Mt. 28,20), uma vez que o Evangelho que eles devem anunciar é em todo o tempo o princípio de toda a vida na Igreja. Pelo que os Apóstolos trataram de estabelecer sucessores, nesta sociedade hierarquicamente constituída”.
A LG aponta a missão da Igreja não somente reservada à hierarquia da Igreja: “Pois eles próprios (bispos, padres...) sabem que não foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós de toda a missão salvadora da Igreja para com o mundo, mas que o seu cargo sublime consiste em pastorear de tal modo os fiéis e de tal modo reconhecer os seus serviços e carismas, que todos, cada um segundo o seu modo próprio, cooperem na obra comum”(LG, 30). Cabe a todo o batizado a missão sacerdotal, profética e régia (LG, 31).
No número 33 da Lumen Gentium diz claramente sobre a missão de todo o Povo de Deus, como partícipe da missão salvadora de Cristo: “O apostolado dos leigos é participação na própria missão salvadora da Igreja, e para ele todos são destinados pelo Senhor, por meio do Batismo e da Confirmação. E os sacramentos, sobretudo a sagrada Eucaristia, comunicam e alimentam aquele amor para com Deus e para com os homens, que é a alma de todo o apostolado” (LG, 33).
No contexto da missão de toda a comunidade e de todo o cristão, as Diretrizes Gerais dos bispos do Brasil propõem a conversão pastoral como um desafio de “formação de pequenas comunidades eclesiais missionárias, nos mais variados ambientes, que sejam casas da Palavra, do Pão, da Caridade e abertas à ação Missionária. Essas comunidades podem oferecer, nesse contexto, meios adequados para o crescimento na fé, para o fortalecimento da comunhão fraterna, para o engajamento de seus integrantes na missão e para a renovação da sociedade” (DGAE, 33). E continua assim a dizer a proposta da CNBB no número 34: “Pequenas comunidades oferecem um ambiente humano de proximidade e confiança que favorece a partilha de experiências, a ajuda mútua e a inserção concreta nas mais variadas situações. O importante é que elas não estejam isoladas e os ministérios, principalmente os de coordenação, com boa formação, ajudem-nas a se manterem em comunhão com a Igreja particular (ou seja, a paróquia e a diocese local). Elas são também lugar onde se desperta a vocação ao ministério ordenado e a vida consagrada”.
A palavra de ordem na caminhada pastoral da Igreja do Brasil atualmente é a formação de pequenas comunidades missionárias vinculadas à comunidade paroquial. São pequenos grupos de vínculos e encontros de fé, que se encontram para construírem a Igreja de Cristo. Segundo reflexão de Dom Joel Portela, oferecida para a Assembleia do Clero da Arquidiocese de Porto Alegre, em meados de ano passado, “as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) apresentam uma única prioridade: as Comunidades Eclesiais Missionárias. Constituídas por um número pequeno de membros, essas comunidades são alimentadas pela Palavra de Deus, a liturgia, a caridade e a missão, pois assim deve ser a vida de qualquer comunidade que deseje realmente viver o cristianismo. Para ajudar a compreender essa única prioridade, as DGAE utilizam imagens bastante conhecidas: casa e pilares. A prioridade é a casa, ou seja, as Comunidades Eclesiais Missionárias (CEM). Os caminhos para a sustentação encontram-se nos pilares”.
Continua assim Dom Joel, secretário Geral da CNBB: “Essa identificação entre o que é a única prioridade e os caminhos para a implantação e sustentação é importante e não pode ser confundida. As DGAE NÃO indicam os pilares como prioridades. Estes vivem em função das comunidades Eclesiais Missionárias e não o contrário. Quando, na tentativa de concretizar as DGAE para a realidade local, preocupamo-nos com os pilares antes de nos preocuparmos com as comunidades Eclesiais Missionárias, corremos o risco de, não compreendendo corretamente as DGAE, deixar a pastoral, como está, sem que alcancemos os resultados necessários e desejados. Por isso é tão importante compreender bem o que as comunidades Eclesiais Missionárias significam para que, a partir delas e somente a partir delas, possamos pensar nos pilares”.
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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