Francisco reza hoje com a Igreja presente no Canadá
Silvonei José, Quebec – Vatican News
Quinto dia de Francisco em terras canadenses. O Santo Padre chegou na tarde de ontem, quarta-feira, a Cidade de Quebec, proveniente de Edmonton, primeira parte de sua “peregrinação penitencial” como definiu a sua viagem ao Canadá. A cerimônia de boas-vindas teve lugar na "Cidadela de Quebec”. O primeiro encontro foi com a governadora geral do Canadá, senhora Mary May Simon. Após a visita de cortesia no mesmo local o encontro com o primeiro-ministro canadense senhor Justin Trudeau e com as autoridades civis, representantes das populações indígenas e com o corpo diplomático. Francisco fez então o seu primeiro discurso em Quebec recordando, entre outras coisas, as “políticas de assimilação e alforria, incluindo também o sistema escolar residencial, que prejudicou muitas famílias indígenas, minando a sua língua, cultura e visão de mundo. Naquele deplorável sistema – disse Francisco - promovido pelas autoridades governamentais da época, que separou tantas crianças das suas famílias, estiveram envolvidas várias instituições católicas locais. O Papa então exprimiu vergonha e pesar por isso e, juntamente com os Bispos deste país, renovou o seu pedido de perdão pelo mal cometido por tantos cristãos contra as populações indígenas. É trágico – afirmou - quando crentes, como sucedeu naquele período histórico, se adequam mais às conveniências do mundo do que ao Evangelho”.
Francisco na primeira parte da sua “peregrinação penitencial”, em Edmonton, já no seu primeiro discurso disse: “estou aqui porque o primeiro passo desta peregrinação penitencial entre vós é renovar meu pedido de perdão e dizer-vos, de todo o coração, que estou profundamente entristecido: peço perdão pelas formas como, infelizmente, muitos cristãos apoiaram a mentalidade colonizadora das potências que oprimiram os povos indígenas”.
A Cidade de Quebec (531.902 habitantes), que recebe o Papa é a capital da província de mesmo nome. É a segunda cidade mais populosa do leste do Canadá, depois de Montreal. Foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1985.
Nesta quinta-feira, o primeiro compromisso de Francisco é a celebração da Santa Missa no Santuário de Santa Ana de Beaupré. Cerca de 70% dos fiéis que participarão da celebração no interior da Basílica, e fora dela, são indígenas. A celebração será em francês e latim.
O Santuário se encontra a cerca de 30 Km da Cidade de Quebec, e é o mais antigo lugar de peregrinação da América do Norte. A igreja, declarada Santuário nacional, acolhe quase um milhão de visitantes todos os anos. Dedicada a Santa Ana, patrona da província canadense, a primeira igreja foi construída em 1658 para acolher uma estatua milagrosa da Santa, e depois ampliada e reconstruida várias vezes.
Em 1922, o edifício foi destruído por um incêndio e a construção da atual estrutura teve início nos anos 20 do século passado seguindo um projeto do arquiteto francês Maxime Roisin. Foi oficialmente consagrdo em 1976 pelo cardeal Maurice Roy.
Segundo narra a história, um dos primeiros construtores da igreja, no século 17, ficou gravemente doente. Ao final da construção ficou curado e voltou a caminhar sem muletas. Imeditamente, para os agricultores locais e os indígenas convertidos, a Basílica tornou-se meta de peregrinação e lugar de curas milagrosas. Muitos visitantes hoje comemoram este milagre deixando uma muleta na porta de entrada da igreja.
Segundo o reitor do Santuário o padre redentorista Scott Katzemberger, falando à Rádio Vaticano – Vatican News, foram feitos muitos preparativos nas últimas semanas, acrescantando que tiveram cerca de dois meses para preparar a visita. Estamos muito felizes por acolher o Santo Padre aqui no Santuário, - disse ele -, será uma bênção para nós. A última vez que o Santuário recebeu a visita do Sucessor de Pedro foi em 1984 com o Papa João Paulo II, mas esta será a primeira vez que o Papa celebrará a Missa na Basílica. Quando João Paulo II visitou a Basílica em 1984 ele foi rezar diante da estátua milagrosa de Santa Ana, mas desta vez o Papa Francisco celebrará a missa, e trará uma mensagem de reconciliação para oferecer aos povos indígenas.
Após a celebração da Missa no Santuário de Santa Ana de Beaupré, o Papa Francisco, no final da tarde, às 17h15 (hora local), presidirá a oração das Vésperas junto com os bispos, padres, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais reunidos na Catedral de Quebec. Ali o Pontífice fará uma homilia e se deterá em oração diante do túmulo de São Francisco de Laval, o primeiro bispo da cidade.
Notre-Dame de Quebec situa-se onde se encontrava a primeira capela construída por Champlain em 1633. Foi edificada em 1647, com o nome de “Notre-Dame de la Paix”. Em 1664 tornou-se a primeira igreja paroquial ao norte do México, dedicada a Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Assumiu o título de catedral após a nomeação de São Francisco de Laval como primeiro bispo da nova diocese da Cidade de Quebec. Duzentos anos depois, Pio IX elevou-a a basílica, devido à importância que tinha adquirido nesse território.
Foi aqui que São João Paulo II iniciou a sua visita pastoral ao país em 1984. Na igreja há também um grande relicário de santos e beatos canadenses e uma cripta onde descansam a maioria dos bispos, arcebispos e cardeais da diocese e quatro governadores da Nova França.
Nós conversamos com o reitor da Catedral padre Jimmy Rodrigue que também afirmou que se preparam muito para ouvir o Papa Francisco, “porque a sua presença – disse ele - é um momento forte. Será um passo de comunhão com as Primeiras Nações, maior, mais profundo”.
“Nós queremos ouvi-lo para saber os passos a dar no futuro, a criatividade que podemos colocar nas nossas igrejas, no nosso acolhimento. Pode ser realmente um momento forte para nós estarmos presentes ao seu lado. Um momento forte para adquirir a consciência de ser um corpo visível de acolhimento dessa cultura que tem uma bela dignidade e uma oportunidade para uma busca cada vez maior da verdade. Isto eu vejo, afirmou.
Falando da Igreja em Quebec, disse que é uma Igreja um pouco cansada. Vemos que os jovens estão cada vez menos presentes na Igreja. Vemos pessoas mais idosas... É uma Igreja que necessita de uma profunda renovação. Isto pode vir da escuta da Palavra e das forças para uma nova evangelização. Penso que a visita do Papa – concluiu - irá ajudar-nos a criar mais espaço para acolher a Palavra de Deus.
De Quebec, Canadá, para a Rádio Vaticano, Silvonei José
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui