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Papa Francisco com delegações de Povos Indígenas canadenses (01/04/2022) Papa Francisco com delegações de Povos Indígenas canadenses (01/04/2022)  Editorial

Andrea Monda: ao Canadá uma viagem distante, ao fundo do coração

Ir lá, onde a ferida ainda sangra. O editor do L'Osservatore Romano, em seu editorial, faz esta leitura da "peregrinação penitencial" que Francisco realiza de 24 a 30 de julho. Uma viagem "delicada, cansativa, dolorosa, de cura e purificação".

Por Andrea Monda

Papa Francesco parte per il suo 37° viaggio apostolico internazionale alla volta del Canada, 56° Paese visitato dall’inizio del pontificato. Sarà uno dei viaggi più lunghi che lo porterà nei luoghi più lontani da lui raggiunti: è prevista la visita a quattro località, Edmonton e la vicina Maskwacis nell’Ovest del Paese, Québec City e poi Iqaluit, vicino al circolo polare artico.

O Papa Francisco inicia sua 37ª Viagem Apostólica, desta vez ao Canadá, o 56º país que visita desde o início de seu Pontificado. Será uma das viagens mais longas que o levará aos lugares mais distantes que já alcançou: ele visitará quatro localidades, Edmonton e a vizinha Maskwacis no oeste do país, Québec City e depois Iqaluit, perto do Círculo Polar Ártico.

Uma viagem que começa de longe e vai longe, não só do ponto de vista geográfico. De fato, como afirmou o Papa no Angelus de domingo, 17 de julho, “uma peregrinação penitencial” que o levará aos lugares escuros do erro e da dor. "Gostaria de lhes dizer, de todo o coração: estou muito triste", havia dito no Vaticano o Papa em 1º de abril, falando às delegações dos grupos indígenas que visitará no Canadá: os grupos das Primeiras Nações ("First Nations"), dos Métis ("mestiços") e dos Inuit, aos quais havia expresso "dor e vergonha pelo papel que vários católicos, particularmente com responsabilidades educativas, desempenharam em tudo o que vos feriu, nos abusos e na falta de respeito pela vossa identidade, pela vossa cultura e até pelos vossos valores espirituais", acrescentando: "E uno-me aos meus Irmãos Bispos do Canadá no pedido de perdão. É evidente que não se pode transmitir o conteúdo da fé de forma alheia à própria fé".

Mais uma vez o Papa apresenta o rosto da Igreja como um "hospital de campanha", como sujeito capaz de estar diante das feridas da humanidade e de agir para curá-las. Mesmo quando, e é o caso, essas feridas tenham sido causadas pela ação de católicos. Uma viagem portanto delicada, cansativa, dolorosa, de cura e de purificação. Uma cura que começa antes de tudo com a presença, com a proximidade.

O Papa sentiu a necessidade de se deslocar e ir até lá, onde a ferida ainda sangra. Com sua presença, Francisco levará o olhar evangélico que se abre sobre o mundo inteiro e junto com o pedido de perdão haverá também a oração por todas as feridas que hoje afligem o mundo inteiro, desde a pandemia até as tantas guerras que estão devastando os cinco continentes. Tudo está conectado, recorda o Papa com frequência, e as feridas de uma parte do organismo afetam todo o resto. É do estilo do Papa Francisco permanecer, em silêncio orante, diante das feridas, do mal (cometido e recebido), da escuridão, da crise, com a confiança de que precisamente passando a crise se pode retornar à luz, para uma humanidade mais plena e completa.

Exatamente trinta anos atrás o poeta e compositor canadense Leonard Cohen compôs uma de suas mais belas canções, Anthem (Hino) cujo famoso refrão é assim: "Toque os sinos que ainda podem tocar / Esqueça sua oferenda perfeita / Há uma falha em tudo / É assim que a luz entra". Esta "falha" (crack) é o sinal da natureza humana, é aquela fraqueza e fragilidade que pode revelar-se o lugar da redenção e do resgate. O próprio Cohen, comentando este verso, afirmou que a situação humana “não admite solução ou perfeição. Este não é o lugar onde as coisas se tornam perfeitas, nem no casamento, nem no trabalho, nem em nada, nem no amor a Deus, nem no amor pela família ou pelo país. As coisas são imperfeitas. E pior, há uma rachadura em tudo aquilo que se pode colocar junto, objetos físicos, objetos mentais, construções de qualquer tipo. Mas é aí que entra a luz, é aí que existe a ressurreição, é aí que está o retorno, é aí que está o arrependimento. É com o confronto, com a quebra das coisas”. Este "hino" à fragilidade e à necessidade de misericórdia será também o hino que acompanhará a viagem do Papa Francisco, uma viagem distante, dentro do coração de cada ser humano.

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24 julho 2022, 07:37