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Papa João Paulo I que será beatificado no dia 4 de setembro Papa João Paulo I que será beatificado no dia 4 de setembro 

Card. Parolin sobre o futuro Beato João Paulo I: o mundo precisa de humildade

"Temos grande necessidade de humildade em nosso mundo. É a principal virtude. Certamente esta foi a sua principal característica, sua herança espiritual". Palavras do Cardeal Secretário de Estado em uma entrevista com o vaticanista da RAI - Tg1 Ignazio Ingrao sobre o Magistério da Paz do futuro Beato João Paulo I que será beatificado domingo, 4 de setembro

Ignazio Ingrao *

Entrevista com o cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin para o Telejornal da RAI - TG1 a poucos dias da beatificação do Papa João Paulo I. 

Eminência, o futuro Beato João Paulo I, ainda hoje tem palavras para o mundo devastado pela guerra. "Queremos paz", disse na sua primeira mensagem Urbi et Orbi e no Angelus pediu orações pela paz no Oriente Médio.

Eu também citaria o ponto no início da mensagem Urbi et Orbi, com o qual João Paulo I começou seu pontificado. Ou seja: "Favorecer todas as iniciativas louváveis e valiosas que possam defender e incrementar a paz no mundo conturbado". Esta atenção e esta preocupação pela paz foi um dos pontos centrais de seu curto pontificado, ligado sobretudo aos acontecimentos de Camp David, portanto em busca da paz entre judeus e palestinos, entre Israel e a Palestina. Houve várias iniciativas do Papa Luciani, entre elas sobretudo no Angelus de 10 de setembro de 1978, quando o Papa recordou o que havia acontecido em Camp David e sobretudo o fato de que os líderes tinham convidado a rezar: portanto, não só para trabalhar, mas também para confiar este compromisso ao Senhor pela paz. Foi um dos pontos qualificantes do seu pontificado. E ele já havia falado sobre isso ao Corpo Diplomático alguns dias antes, dizendo que a Igreja não tem soluções concretas para propor, mas tem um espírito que pode transmitir, à luz do qual pode resolver os grandes problemas do mundo de hoje. E gostaria de concluir este ponto citando o Papa Francisco no prefácio que ele escreveu nos documentos do pontificado de Albino Luciani, dizendo que "João Paulo I mostrou o quanto a paz está perto do coração da Igreja".

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João Paulo I foi um pastor próximo ao povo, aos trabalhadores, começando pelos últimos, como o Papa Francisco. Também aqui sua mensagem é muito oportuna: colocar os pobres no centro, em um mundo marcado por crescentes desigualdades.

Lembro-me das palavras do Patriarca de Veneza quando lhe perguntaram se ainda havia uma memória do Patriarca Albino Luciani em Veneza. Também porque aqueles foram anos marcados por muitas tensões: eram os anos do pós-Concílio, da contestação, etc., e Albino Luciani se viu no meio de tudo isso, porém o Patriarca disse: "Os que mais se recordam dele são as pessoas simples". Exprimindo assim uma das principais características do Papa Luciani: ser um pastor próximo do povo e um pastor atento às necessidades concretas das pessoas, talvez também por causa de seu passado, ou por causa de seu ambiente de vida, um ambiente marcado pela pobreza, restrições, emigração. Ele foi um pontífice que dedicou realmente atenção aos pobres e que já queria uma Igreja pobre a serviço dos pobres, não apenas um serviço de caridade pessoal, mas também de caridade planetária. Para isso o Papa Luciani inspirou-se sobretudo no magistério de Paulo VI e em particular pela encíclica "Populorum Progressio".

O Beato João Paulo I é um modelo de humildade para os pastores e todos os cristãos?

Sim, temos grande necessidade de humildade em nosso mundo. É a principal virtude. Ele dizia: qual é a primeira virtude de um pastor? A humildade. E a segunda? A humildade. E a terceira? A humildade. E a quarta novamente a humildade. Certamente esta foi a sua principal característica. De um ponto de vista pessoal, viveu plenamente esta virtude, a escolheu como seu lema. Em seu lema, ele desejava a humilitas de Santo Agostinho e de São Carlos Borromeu. Gostaria de citar duas frases a este respeito: uma do então Cardeal Ratzinger que lembrou que Albino Luciani nunca procurou cargos de destaque na Igreja e quando recebia estes encargos – afirmou também em relação ao pontificado: "Eu não esperava" - sempre os recebeu como um serviço. E depois Bento XVI disse ainda que a humildade é a herança espiritual que João Paulo I deixa ao mundo.

Eminência, o senhor também é do Vêneto como João Paulo I. O senhor tem alguma lembrança pessoal de Albino Luciani?

Eu era jovem, tinha 23 anos, era seminarista e nunca encontrei o Papa Luciani. Porém, recordo-me sobretudo da surpresa: foi assim que vivi sua eleição, porque ninguém esperava que em 26 horas ele fosse eleito Papa quando as previsões diziam que levaria quem sabe quanto tempo e quanto sofrimento. E depois, é claro, surpresa com a notícia de sua morte. Lembro-me de dizer: mas o Papa não morreu há pouco tempo? E ao invés disso, foi João Paulo I que nos deixou.

Falamos de João Paulo I e da paz. Hoje estamos testemunhando a delicada posição da Igreja sobre a guerra na Ucrânia entre a necessidade de invocar a paz e a necessidade de distinguir as responsabilidades. Como Secretário de Estado, como o senhor vê os acontecimentos?

"Vejo com extrema preocupação porque esta guerra se arrasta há muito tempo, já faz seis meses que este conflito começou com todos os horrores que a guerra implica: no recente comunicado da Santa Sé foram usados adjetivos muito fortes para qualificá-la, creio que eles reflitam também a minha posição pessoal e toda a posição e o sentimento da Santa Sé, a começar pelo Santo Padre. Acima de tudo, a preocupação com o fato de que não há perspectivas e possibilidades de uma solução através da negociação. Isto é o que nos deixa mais inquietos e preocupados. Permanecemos sempre disponíveis, no sentido de não fechar a porta a ninguém, tentando oferecer a todos os envolvidos, os protagonistas, a possibilidade de encontrar um terreno neutro para se encontrar e buscar uma solução que seja, como dizia João Paulo I sobre os acordos de Camp David, "uma solução justa e completa". 

* Vaticanista da RAI - Tg1

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02 setembro 2022, 11:12