Processo vaticano, último interrogatório a Tirabassi. Início primeiras testemunhas
Salvatore Cernuzio – Vatican News
Uma longa lista de nomes e sobrenomes de empresários e consultores que se apresentavam na Secretaria de Estado, introduzidos por personagens que gravitavam em torno do Vaticano, buscando uma "bênção" para suas atividades, marcou a 25ª audiência do Processo no Tribunal vaticano por supostos negócios ilícitos com fundos da Santa Sé. Estes nomes e sobrenomes foram dados por Fabrizio Tirabassi, ex-empregado do Escritório administrativo, em seu quarto e último interrogatório. Último por vontade do próprio réu, que foi interrogado na tarde desta quarta-feira, 28 de setembro, por cerca de três horas e meia pelo recentemente nomeado Promotor de Justiça, Alessandro Diddi (a audiência foi aberta com saudações pela nomeação feitas pelo presidente Giuseppe Pignatone e pelos advogados), e que ao final da audiência Tirabassi anunciou que tinha dito tudo o que podia e que não queria responder às perguntas das partes civis e da defesa. Esta declaração foi contestada pela advogada Paola Severino, representante civil da Secretaria de Estado, que ressaltou que "o pacote de perguntas" ainda era conspícuo e que ela não considerava o exame a Tirabassi "exaustivo". O réu foi questionado, entre outras coisas, sobre as moedas antigas no valor de um milhão de euros e os 200 mil euros em dinheiro apreendidos pela Polícia Fiscal em uma casa de campo nos Abruços no dia 6 de novembro de 2020.
Primeiras testemunhas nas próximas audiências
A audiência desta quarta-feira, a primeira após as férias de verão, teve início na Sala multifuncional dos Museus Vaticanos às 14h30 e terminou às 18h (locais). Como mencionado, ela se concentrou inteiramente no interrogatório ao ex-funcionário vaticano, acusado de peculato, corrupção, extorsão, fraude e abuso de poder. Esta quinta-feira, 29 de setembro, conclui-se, por sua vez, o interrogatório ao advogado Nicola Squillace, já ouvido no Tribunal no início de julho passado. Na sexta-feira, dia 30, se iniciará com as testemunhas: as primeiras deverão ser Alessandro Cassinis Righini, revisor geral; Gian Franco Mammì, diretor geral do Ior; Roberto Lolato della Deloitte (este último já poderá ser ouvido esta quinta-feira). A propósito de testemunhas, são 27 apresentadas pelo Escritório do Promotor de Justiça; entre elas não se encontra monsenhor Alberto Perlasca, ex-chefe do Escritório administrativo da Secretaria de Estado, considerado a "testemunha-chave" de todo o julgamento, que também se juntou à ação civil.
Uma rede densa
O nome de Perlasca foi mencionado várias vezes por Tirabassi em suas respostas, sempre para reiterar que toda ação, investimento, contato, passou sob sua supervisão e autorização. Em vez disso, Tirabassi era autônomo em tecer uma rede de relacionamentos com várias figuras que, explicou, apresentavam projetos e pedidos de apoio e contribuições à Secretaria de Estado. "Era feita uma avaliação e o superior analisava e decidia com base na eficácia econômica e social", explicou o réu. Com algumas dessas pessoas, Tirabassi esteve prestes inclusive a estipular acordos que depois não se concluíram. A rede era tão densa que foi perguntado ao ex-funcionário vaticano se ele conseguia conciliar estas atividades com seu trabalho dentro do Dicastério.
Renda pessoal
Durante boa parte da audiência, Tirabassi foi questionado sobre sua renda pessoal, bem como sobre a renda de sua esposa, demonstradas "estáveis" ao longo dos anos. De fato, as investigações revelaram que o funcionário do Escritório administrativo nunca havia movimentado sua conta no Ior (Instituto para as Obras de Religião). Por quê? Embora o considerasse "embaraçoso", Tirabassi explicou que até 2010 ele havia recebido seu salário em dinheiro, assim como a renda proveniente de cinco conselhos de auditoria, para "entidades dentro do Vaticano" como a Fundação Santa Marta ou a Domus Sacerdotalis, "sempre atribuídos pelo escritório, cuja remuneração me era paga anualmente". Cifras em torno de oito a dez mil euros anualmente. A estes foram acrescentados os prêmios que o chefe do escritório pagava no Natal ou na Páscoa aos funcionários merecedores. Em resumo, "uma série de extras me permitiu não ter que tirar do meu salário básico", explicou Tirabassi.
Contas suíças
Um documento dos Bancos suíços de 2015 foi projetado na parede da Sala, mencionando uma conta Ubs em nome de Tirabassi que ultrapassou um milhão e 360 mil euros. Tirabassi explicou que em 2004 ele havia expressado sua intenção de demitir-se de seu cargo no Vaticano. O então chefe do Escritório administrativo, monsenhor Gianfranco Piovano, concedeu-lhe então uma procuração administrativa para duas contas suíças. "Retrocessões" dos fundos confluíam para a conta de Tirabassi, levando-o a ganhar cerca de 200 mil euros por ano até um total de um milhão e 360 mil euros. A procuração foi suspensa em 2009, com a chegada de monsenhor Perlasca ao escritório.
"Desculpe-me - perguntou o juiz associado, Carlo Bonzano -, em troca de sua permanência, Piovano lhe ofereceu esta procuração?" "Sim, eu nem sequer sabia as somas que seriam reconhecidas", respondeu Tirabassi. Quase um "salto no escuro"? "Havia um encargo, foi uma surpresa positiva." "E era absolutamente normal para Piovano que o senhor recebesse 200-300 mil euros por ano para fazer seu trabalho?", perguntou o presidente Pignatone. "Não deve surpreender", respondeu o réu, explicando que tratava de relatórios bancários, trabalho que "aumentava" ano após ano.
As moedas e o dinheiro apreendidos em Celano
Várias vezes durante o interrogatório, o advogado de defesa Cataldo Intrieri interveio para se opor a perguntas que, a seu ver, iam além das acusações. Em particular, o advogado se opôs às perguntas do Promotor de Justiça sobre as moedas preciosas no valor de cerca de um milhão e os 200 mil euros em dinheiro apreendidos na casa de Tirabassi em Celano, na província de L'Aquila. A apreensão foi anulada pelo Tribunal de Reexame em Roma, que ordenou a restituição desses bens, disse Intrieri, enfatizando que a restituição "nunca foi feita" passado um ano e que as Autoridades vaticanas não estavam cumprindo um ato do judiciário italiano. Além disso, acrescentou o defensor, "há, na origem, um procedimento ilegítimo, de modo que, como fonte probatória, essas medidas não existem". Em outras palavras, nenhuma pergunta pode ser feita sobre esses bens.
As atividades do pai Onofrio
Durante quinze minutos, os juízes se retiraram para a Câmara do Conselho a fim de decidir sobre a oposição. Em uma ordem, Pignatone rejeitou a petição da defesa, afirmando que, em vez disso, poderiam ser feitas perguntas, já que aquela apreensão ainda era, em todo caso, "um fato histórico" que havia ocorrido e que o réu poderia valer-se do direito de não responder. Tirabassi, ao invés, explicou que as moedas e o dinheiro pertenciam a seu pai Onofrio - como reivindicado pelo próprio - um ex-funcionário vaticano apaixonado por numismática e filatelia, que, uma vez aposentado nos anos 60, dedicou-se a colecionar, colaborando também com o Governatorato. Esses bens eram "suas economias e sua vida". "Meu pai - disse Tirabassi - era relutante a depositar dinheiro no banco, porque tinha sido sujeito a assalto à mão armada, roubos, furtos. Ele considerava mais prudente manter esses bens e diferenciar a custódia de modo mais seguro. Eu não tinha nada a ver com estes bens."
Em vez disso, Tirabassi colaborou com seu pai - que neste espaço de tempo veio a falecer - para sua empresa Interfinum: "Na maioria das vezes, eu agia como intermediário para levar a documentação ao contador que estava longe, lia para ele procedimentos e e-mails'. Meu pai reconhecia aquele trabalho "e me faturava pequenas somas de forma transparente". Faturas para a empresa: "Cerca de cinco a dez mil euros por ano, no máximo".
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