60º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Quatro Constituições Apostólicas, três declarações e nove decretos. Esses foram os documentos resultantes das 4 sessões do Concílio Vaticano II, aberto em 11 de outubro de 1962 por São João XXIII e concluído em 8 de dezembro de 1965 por São Paulo VI.
Na última terça-feira, 11 de outubro, memória litúrgica de São João XXIII, o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Pedro a Missa que recordou os 60 anos de abertura do histórico evento conciliar. Como afirmou em sua homilia, “foi para reavivar o seu amor que a Igreja, pela primeira vez na história, dedicou um Concílio a interrogar-se sobre si mesma, a refletir sobre a sua própria natureza e missão.”
Padre Gerson Schmidt*, que tem nos acompanhado na exposição dos documentos conciliares, passa a dedicar alguns programas deste nosso espaço ao “60º aniversário da abertura do Concílio”:
"Completou-se por esses dias, os 60 anos de abertura do Concilio Vaticano II, que foi marco fundamental para a Igreja Católica, que concedeu a ela inúmeros frutos de renovação, diálogo e abertura, não deixando de lado a tradição apostólica e o grande tesouro da Igreja durante tantos séculos. No dia 11 de outubro de 1962, Papa João XXIII, conhecido como Papa Bom e agora proclamado santo, trazia esse resgate histórico na mensagem de abertura do Concílio, na Basílica de São Pedro: “É bem natural que, inaugurando o Concílio Ecumênico, nos apraza contemplar o passado, para ir recolher, por assim dizer, as vozes, cujo eco animador queremos tornar a ouvir na recordação e nos méritos, tanto dos mais antigos, como também dos mais recentes Pontífices, nossos predecessores: vozes solenes e venerandas, elevadas no Oriente e no Ocidente, desde o século IV até à Idade Média, e desde então até aos nossos dias, que transmitiram desde aqueles Concílios o seu testemunho; vozes a aclamarem em perenidade de fervor o triunfo da instituição divina e humana, a Igreja de Cristo, que recebe dele o nome, a graça e o significado”.
Queremos aqui refletir em alguns programas essa passagem do aniversário sexagenário da abertura do Concílio, sobretudo salientando as palavras atuais do Papa Francisco com aqueles desejadas pelos padres conciliares. Passados 60 aos de aplicação e concretização dos ideais do Concilio, o Papa Francisco em sua homilia na Eucaristia no 60º aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, na mesma Basílica de S. Pedro, 11 de outubro passado, disse o seguinte: «Amas-Me?» é a primeira frase que Jesus dirige a Pedro, no Evangelho que ouvimos (Jo 21, 15), ao passo que a última será «apascenta as minhas ovelhas» (21, 17). No aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, sentimos dirigidas também a nós, a nós como Igreja, estas palavras do Senhor: Amas-Me? Apascenta as minhas ovelhas. Em primeiro lugar, amas-Me? É uma interpelação, porque o estilo de Jesus não é tanto o de dar respostas, mas de fazer perguntas, perguntas que provocam a vida. E o Senhor, que «na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos e convive com eles» (Dei Verbum, 2), pergunta ainda, pergunta sempre à Igreja, sua esposa: «Amas-Me?» O Concílio Vaticano II foi uma grande resposta a esta pergunta: foi para reavivar o seu amor que a Igreja, pela primeira vez na história, dedicou um Concílio a interrogar-se sobre si mesma, a refletir sobre a sua própria natureza e missão. E descobriu-se mistério de graça gerado pelo amor: descobriu-se povo de Deus, corpo de Cristo, templo vivo do Espírito Santo!”. São palavras do Papa Francisco na homilia no último dia 11 de outubro desde ano.
É interessante que até então nenhum Concílio havia se debruçado sobre a Identidade da Igreja, olhando para si mesma, sua missão, natureza e identidade, seu papel diante do mundo e da salvação do ser humano. A Constituição Dogmática Lumen Gentium, portanto, traduz essa preocupação e é uma resposta à pergunta: o que somos como Igreja e o que deveriamos ser. O próprio memorável Papa Paulo VI dizia quando buscou levar o Concílio avante: “A Igreja deve aprofundar a consciência de si mesma, meditar sobre o seu próprio mistério (...). Desta consciência esclarecida e operante deriva espontaneamente um desejo de comparar a imagem ideal da Igreja, tal como Cristo a viu, quis e amou, ou seja, como sua Esposa santa e imaculada (Ef 5, 27), com o rosto real que a Igreja apresenta hoje. (…)”. Portanto, há sempre necessidade da Igreja retornar e voltar as fontes originais da vontade de Cristo, como quis e amou sua Igreja.
Como aqui já dissemos, não devemos entender a renovação proposta pelo Concílio como uma reforma total, partindo do zero, mas como um restauro, devolvendo à Igreja sua originalidade, sua real identidade, naquilo que realmente é ou deveria ser pela vontade de Jesus Cristo. O Concílio tem como tema central a Igreja. Quer clarear sua natureza e identidade. A Lumen Gentium é a Constituição Dogmática que elabora a visão da Igreja, mostrando o que ela pensa de si mesma. Passados 60 anos, lembremos que ainda não alcançamos plenamente os objetivos de atualização do Concílio. “Estamos sempre a caminho. Os objetivos continuam sempre vigorosos para o tríplice diálogo da Igreja consigo mesma, da Igreja com as confissões religiosas e da Igreja com o mundo secular”[1].
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] GRINGS, Dadeus. Os desafios do Concilio Vaticano II, Ed. Padre Reus, 2013, p. 21.
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