A alegria da Igreja em sua missão
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Com estas palavras aos participantes do encontro promovido pelo Departamento Catequético Nacional da Conferência Episcopal Italiana, em 30 de janeiro de 2021, o Papa Francisco foi categórico: o Concílio é o magistério da Igreja!
Ao falar na abertura do Concílio, João XXIII lamentava no início do número VIII - "Promover a unidade na família cristã e humana" -, que a família cristã ainda não havia atingido a plena e perfeita visível unidade na verdade, e que a Igreja Católica deveria empenhar-se para que se realizasse o "grande mistério daquela unidade, que Jesus Cristo pediu com oração ardente ao Pai celeste, pouco antes do seu sacrifício." Mas essa mesma unidade, deveria se manter "exemplarmente firmíssima" também entre os próprios católicos.
O magistério do Papa Francisco tem íntima ligação com as palavras pronunciadas há sessenta anos pelo Papa Roncalli: dar testemunho do rosto de uma Igreja que é "a mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia", isto é, capaz de proximidade e ternura, capaz de acompanhar os que estão na escuridão e na necessidade. Uma Igreja que não confia só em si mesma e não persegue o poder mundano ou o destaque da mídia, mas humildemente se coloca atrás de seu Senhor, confiando somente n’Ele.
E nessa busca e vivência da fé, entra "a alegria da Igreja em sua missão", justamente o tema da reflexão de hoje do padre Gerson Schmdit*, que nestes dias vem aprofundando a homilia do Papa Francisco nos 60 anos de abertura do Concílio Vaticano II:
"O Concilio Vaticano II propôs à Igreja uma volta às fontes originais, à sua idoneidade, identidade genuína, sua vocação primordial, desde sua criação e intenção pela qual foi, pensada, criada e desejada por Jesus Cristo. Cristo a amou e se entregou por ela, como afirma o apóstolo Paulo (Ef 5).
O Papa Francisco, em sua homilia por ocasião do 60 anos da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, na mesma Basílica de S. Pedro, 11 de outubro passado, continuou dizendo assim: “Irmãos, irmãs, voltemos às puras fontes de amor do Concílio. Reencontremos a paixão do Concílio e renovemos a paixão pelo Concílio! Imersos no mistério da Igreja mãe e esposa, digamos também nós com São João XXIII: «gaudet Mater Ecclesia – alegra-se a Mãe Igreja» (Discurso na abertura do Concílio, 11/X/1962). Seja a Igreja habitada pela alegria. Se não se alegra, desdiz-se a si mesma, porque esquece o amor que a criou. E, todavia, quantos de nós não conseguem viver a fé com alegria, sem murmurar nem criticar? Uma Igreja enamorada por Jesus não tem tempo para confrontos, venenos e polêmicas. Deus nos livre de ser críticos e impacientes, duros e irascíveis. Não é só questão de estilo, mas de amor, porque quem ama – como ensina o apóstolo Paulo – faz tudo sem murmurar (cf. Flp 2, 14). Senhor, ensinai-nos o vosso olhar alto, ensinai-nos a olhar a Igreja como a vedes Vós. E quando formos críticos e descontentes, lembrai-nos que ser Igreja é testemunhar a beleza do vosso amor, é viver dando resposta à vossa pergunta: amas-Me? Não é comportar-se como se fôssemos a um velório fúnebre”.
Essas ricas palavras do Papa Francisco recordam de sermos uma Igreja não azeda, amarga, insípida, num criticismo exacerbado, num negativismo sem esperança de dias melhores. Nosso Papa quer uma Igreja otimista, alegre, esperançosa, missionária. Não é por nada que sua primeira exortação apostólica se intitula “Alegria do Evangelho” (Evangelii Gaudium). Nesse documento usa 95 vezes a expressão “alegria”. Na abertura dessa Exortação, Papa Francisco afirma: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos”.
Papa Francisco, que não perde seu senso de humor e quer que a Igreja também não o perca, afirmou ainda nessa sua homilia em 11 de outubro: (Como Pedro…) “Também nós, cada um de nós tem a sua própria Galileia, a Galileia do seu primeiro amor, e seguramente também cada um de nós é convidado hoje a voltar à sua própria Galileia para ouvir a voz do Senhor: «Segue-me». Voltar lá para reencontrar, no olhar do Senhor crucificado e ressuscitado, a alegria perdida, para se concentrar em Jesus. E assim reencontrar a alegria: uma Igreja que perdeu a alegria, perdeu o amor”.
Se perdemos a alegria, diz o Papa Francisco, perdemos o amor. Papa João XXIII recordava, no discurso de inauguração do Concilio Vaticano II, não só as alegrias espirituais da Igreja do Senhor, mas também seu combate: “Mas, ao lado dos motivos de alegria espiritual, é também verdade que sobre esta história se estende ainda, por mais de 19 séculos, uma nuvem de tristeza e de provações. Não é sem motivo que o velho Simeão manifestou a Maria, Mãe de Jesus, aquela profecia, que foi e permanece verdadeira: «Este menino está posto para ruína e para ressurreição de muitos, e será sinal de contradição» (Lc 2, 34)”. Por isso, a Igreja, desde o Concílio, quis olhar para dentro de si mesma, a fim de propor também um exame de consciência. Deve-se olhar com franqueza, e se necessário com penitência e pedido de perdão, para ver se a Igreja durante esses 20 séculos de trabalho apostólico preservou em si mesma a fisionomia de Cristo, se no rosto da Igreja resplandece a face de Cristo, se ela se manteve na perfeição do Evangelho. Sem dúvida que nem tudo foram flores, mas nem tudo deserto seco. Por isso, o Concílio propôs a volta ao primeiro ardor apostólico próprio da Igreja primitiva, que era envolvida na dinâmica da alegria do anúncio do Evangelho às nações."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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