Cardeal Tagle: corremos o risco de desenvolver "uma geração sem empatia"
Irmã Bernadette Mary Reis - Bangcoc
A importância da leitura para o desenvolvimento dos jovens, com foco nas redes sociais e inteligência artificial e a sua "influência" na evangelização, foram os temas que estiveram no centro do discurso do cardeal Luis Antonio Tagle aos participantes da FABC. O cardeal filipino, legado papal à Conferência Geral da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas, falou na manhã deste sábado (29/10) à assembleia de mais de 200 bispos participantes de todo o continente. Em particular, Tagle insistiu no papel das redes sociais, que ele descreveu como "uma bênção no mundo", já que elas tornaram possível que a informação cruzasse as fronteiras dos "grupos elitistas". Não só isso, as redes sociais", lembrou o cardeal, "nos permitiram manter contato durante a pandemia e muitos pais começaram a perceber que eles também são "professores e catequistas".
Os seres humanos estão mudando
Entretanto, "temos que ter cuidado, porque o uso das mídias sociais também muda nossa visão da pessoa humana de uma forma muito sutil", alertou o cardeal Tagle. Isto afeta nossas relações e "o envolvimento na transformação da sociedade". O mesmo vale para a IA, inteligência artificial, que "faz o trabalho de um ser humano", tornando obsoletos alguns aspectos do trabalho das pessoas. O cardeal citou exemplos concretos: a verificação ortográfica substituiu a arte da ortografia e da sintaxe; as calculadoras fazem nossas somas; a digitação levou a caligrafia a tornar-se menos legível e talvez a desaparecer por completo. Há quase "uma nova forma de analfabetismo" que leva ao "subdesenvolvimento", com a possibilidade do desaparecimento do pensamento crítico, por exemplo, disse Tagle.
O "eu", o "nós" e o "eles"
Ainda sobre a relação entre os jovens e as redes sociais, o cardeal compartilhou algumas informações de uma pesquisa realizada pela Gravissimum educationis. A primeira pergunta era sobre como os jovens se veem a si mesmos, como eles veem "nós" e como veem "eles", ou seja, os outros. Em relação ao "eu", "a identidade que surgiu [no estudo] foi a ilusão de autossuficiência". Ilusão decorrente das confirmações recebidas nas fotos publicadas. "É uma forma de exposição: você tem que se anunciar", disse Tagle, a ponto de até mesmo colocar fotos provocantes, tudo para ver "quantas pessoas vão gostar delas", para receber “likes” "constantemente dos seus amigos". Isto leva à compulsão, observou o cardeal. "As mídias sociais se tornam uma ferramenta para esta chamada autossuficiência ilusória". Então os jovens constroem seu mundo com aqueles que "gostam" deles, eliminando aqueles que não "gostam" deles.
Uma assembleia sem interioridade
Desta forma, multidões se reúnem, mas não estão totalmente presentes: 'Uma assembleia significa interioridade, e uma multidão pode ser reunida sem interioridade'. O que falta', disse Tagle, citando a pesquisa, 'é um 'nós' que nos torne capazes de ação coletiva'. Em vez disso, permanecemos "indivíduos isolados", mesmo na presença de outros. Não é mais a multidão que caracteriza a sociedade de hoje, mas a solidão.
O cardeal filipino continuou a explicar que o estudo também descobriu que as pessoas estão mais conectadas, mas "paradoxalmente, nós nos importamos cada vez menos com os outros". "Não nos comunicamos mais" e isto leva a uma falta de empatia para com os outros, para com aqueles que não conhecemos, para com "eles". Em contraste, as mídias sociais alimentam a busca de lealdade em um pequeno grupo de amigos. Em essência, se outros não gostam de mim, eu não me importo: "Só me importarei com eles se eles se juntarem ao meu círculo". Aqueles que não fazem parte dele "perturbam minha autossuficiência". "Este é o mundo que eles aprenderam a habitar".
Educação, o ponto de contato da Igreja com os jovens
Daí, uma reflexão sobre o papel da Igreja envolvida no ministério da educação. É precisamente a educação o ponto de contato com os jovens, observou o cardeal Tagle, observando que muitos jovens de hoje não têm pensamento crítico e empatia devido ao uso da tecnologia atual. Psicólogos e neurologistas também demonstraram que, como resultado, muitos jovens não sabem mais ler: "Podemos pensar na tecnologia como uma ferramenta externa, mas ela muda a consciência".
Evangelizar as redes sociais
A advertência do delegado papal é que se não compreendermos o que está acontecendo no desenvolvimento de nossos jovens, o resultado será um futuro de pessoas que não saberão pensar criticamente: "Uma geração sem empatia". "Estamos desenvolvendo cidadãos que desenvolverão inteligência crítica unida à empatia por aqueles que não conhecem?" perguntou o cardeal aos participantes da FABC. Para eles, o convite a "evangelizar" as mídias sociais, já que elas são onipresentes em todo o mundo.
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