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O processo na Sala dos Museus Vaticanos por supostos negócios ilícitos com fundos da Santa Sé (Vatican Media) O processo na Sala dos Museus Vaticanos por supostos negócios ilícitos com fundos da Santa Sé (Vatican Media)

Novas testemunhas no processo no Vaticano

As testemunhas convocadas pelo Gabinete do Promotor de Justiça ofereceram novos detalhes circunscritos no processo sobre os eventos de Londres. Esta sexta-feira, a oitiva com Federico Antellini Russo, vice-diretor da Autoridade de Informação Financeira

Barbara Castelli – Vatican News

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Quatro novas testemunhas e uma ordem. Esta foi a substância da trigésima terceira audiência do processo sobre os investimentos financeiros da Secretaria de Estado em Londres. A audiência desta quinta-feira, 27 de outubro, que durou cerca de quatro horas, incluindo uma longa pausa para a Câmara do Conselho, realizou-se da maneira recentemente solicitada pelo presidente do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano, Giuseppe Pignatone, com perguntas voltadas a "contestar um fato específico", sem "fazer as testemunhas repetirem o que já está registrado". Na sala multifuncional dos Museus Vaticanos, entre os réus encontravam-se presentes o cardeal Angelo Becciu e Fabrizio Tirabassi.

O "guardião das medalhas"

O primeiro a prestar testemunho foi Fulvio Cesaretti, do Escritório Administrativo da Secretaria de Estado. O homem, definido nos documentos preliminares por uma testemunha como o "guardião das medalhas", confirmou, em primeiro lugar, as declarações feitas ao Gabinete do Promotor de Justiça em 13 de fevereiro de 2020. Em seguida, instado por perguntas do advogado Massimo Bassi, em defesa de Fabrizio Tirabassi, esclareceu que o Escritório Óbolo era distinto dos demais, com vários funcionários e "coordenado por monsenhor Alberto Perlasca". "As medalhas ou as moedas - relatou Fulvio Cesaretti - eram normalmente guardadas em um armazém no escritório administrativo. As medalhas de ouro, por sua vez, eram guardadas na sala de monsenhor Perlasca, em um armário trancado". No decorrer do interrogatório, surgiu então como a testemunha nunca havia "feito nenhuma denúncia sobre moedas ou medalhas em falta", embora não houvesse, de fato, um "inventário real". Por fim, Cesaretti falou da chamada prática da "fundição": as medalhas excedentes, disse ele, "especialmente as de ouro", "eram usadas para fazer outras medalhas ou anéis" e eram enviadas à Casa da Moeda do Estado Italiano ou a empresas externas, às vezes sem "documentação de acompanhamento".

Objeções das defesas pelas "perguntas nocivas"

O assessor financeiro Michele Mifsud validou o testemunho de 12 de abril de 2021, embora querendo esclarecer que havia conhecido Dario Micheli (sócio fundador da Valori Asset Management, e colaborador na criação da Divisão Private Banking para Azimut) em Roma, no restaurante Le Vele, e não em Milão, como erroneamente lembrou num primeiro momento. O encontro tinha sido organizado por Fabrizio Tirabassi, que ele conheceu - fez questão de ressaltar - através de seu pároco. As perguntas do advogado Calipari, representando a parte civil Ior (Instituto para as Obras de Religião), no contexto das relações entre a testemunha e Fabrizio Tirabassi, suscitaram uma reação do advogado Luigi Panella, em defesa de Enrico Crasso. "Hoje está surgindo de forma plástica que muitas perguntas nocivas foram feitas nas investigações - disse ele -, e por isso temos que levantar uma questão de nulidade em ordem geral". O problema, segundo ele, na esteira dos artigos 193, 245 e 246 do Código de Processo Penal do Estado da Cidade do Vaticano, seria o sistema "adr" (a pergunta responde) das transcrições das atas, nas quais as perguntas não são relatadas, tanto que se pode levantar a hipótese de uma violação da "sinceridade da resposta". O presidente do Tribunal, Giuseppe Pignatone, depois de ler a ordem, rejeitou as objeções, especificando - entre outras coisas - que a "capacidade fisiológica das defesas" para realizar suas atividades é assegurada no julgamento.

O Óbolo de São Pedro e a Fundação Enasarco

Fabrizio Giachetta, funcionário da Secretaria de Estado, já ouvido pelo Corpo de Gendarmaria em 4 de fevereiro de 2020, informou que as "competências financeiras" do escritório foram modificadas após a chegada do cardeal Angelo Becciu como substituto da Seção para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado, deixando tudo nas mãos do chefe do escritório, monsenhor Alberto Perlasca, e de Fabrizio Tirabassi. Entre as perguntas esteve ainda a questão do Óbolo de São Pedro, utilizado, segundo informações, "para cobrir perdas orçamentárias". Autorizado por seus superiores, Giachetta disse, "o Óbolo foi usado como cobertura, mas não se tratava de cifras extraordinárias". Carlo Bravi, ex-diretor geral delegado da Enasarco, falou, por sua vez, sobre os fundos Athena. A Enasarco, um fundo de pensão complementar obrigatório para profissionais da corretagem comercial e financeira, foi ressaltado, de acordo com o que já havia sido declarado em 11 de janeiro de 2021, queria sair do investimento devido à "criticidade dos gestores".

Próximas audiências e novas testemunhas

Esta sexta-feira, entre outros, Federico Antellini Russo, vice-diretor da Autoridade de Informação Financeira, será ouvido. Além disso, o presidente do Tribunal informou que o cardeal Oscar Cantoni, bispo de Como (Itália), estará no tribunal em 1º de dezembro para depor sobre a acusação de suborno de testemunhas feita ao cardeal Angelo Becciu, contra Perlasca.

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28 outubro 2022, 12:00