Sínodo: “não se nega a voz do povo de Deus”, diz o padre Paulo Terroso
Rui Saraiva – Portugal
A XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos foi notícia na palavra do Papa no domingo, 16 de outubro. No final da oração mariana do Angelus, Francisco anunciou que o Sínodo será realizado “em duas sessões”, com um ano de intervalo: “a primeira de 4 a 29 de outubro de 2023, a segunda em outubro de 2024”. O Santo Padre reforçou, mais uma vez, que a sinodalidade é “dimensão constitutiva da Igreja”.
Mais tempo para o discernimento
“No dia 10 de outubro do ano passado, foi aberta a primeira fase da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema "Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação, Missão". Desde então, está sendo realizada a primeira fase do Sínodo nas Igrejas particulares, com a escuta e o discernimento. Os frutos do processo sinodal iniciado são muitos, mas para que eles atinjam a maturidade plena é necessário não ter pressa. Portanto, a fim de ter mais tempo para o discernimento, decidi que esta Assembleia Sinodal será realizada em duas sessões. A primeira de 4 a 29 de outubro de 2023 e a segunda em outubro de 2024. Espero que esta decisão possa favorecer a compreensão da sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja e ajude todos a vivê-la como irmãos e irmãs que testemunham a alegria do Evangelho", revelou o Papa.
Em comunicado, a Secretaria Geral do Sínodo informou que “esta decisão decorre do desejo de que o tema da Igreja Sinodal, devido à sua amplitude e importância, possa ser objeto de um discernimento prolongado não só pelos membros da Assembleia Sinodal, mas por toda a Igreja”.
“Esta escolha está em continuidade com o atual percurso sinodal”, pode-se ler na nota da Secretaria Geral do Sínodo, que sublinha que “o Sínodo não é um acontecimento, mas um processo, no qual todo o povo de Deus é chamado a caminhar”.
Escutar o povo de Deus
Sobre o processo sinodal em curso, o padre Paulo Terroso, que é membro da Comissão de Comunicação do Sínodo, destaca em declarações à Agência Ecclesia, a importância de ser ouvida a voz do povo de Deus.
É importante ouvir “os assuntos que o povo de Deus entende que devem ser falados”, porque “não se nega a voz do povo de Deus”, afirma o padre da Arquidiocese de Braga.
“Não se nega a voz do povo de Deus! Não se nega! Todos os assuntos que o povo de Deus entende que devem ser falados e abordados estão lá. O que é que o povo de Deus tem a dizer neste momento? E esta primeira fase já é discernimento e continua esse processo de discernimento e aprofundamento daquilo que se tem vindo a escutar”, salienta o responsável português.
No final deste mês de outubro será publicado o Instrumentum Laboris I que será o primeiro documento de trabalho preparado a partir das sínteses sinodais nacionais que foram enviadas para o Vaticano após a consulta nas dioceses de todo o mundo.
Trata-se de um primeiro texto que foi entregue ao Papa no dia 2 de outubro por um grupo de 50 pessoas que estiveram reunidas em Frascati, perto de Roma, durante 12 dias, trabalhando em ritmo sinodal.
Nesse encontro, no qual também esteve o padre Paulo Terroso, os participantes não estiveram a fazer “análise sociológica”, mas leram os documentos através do método da sinodalidade: partilhando a “experiência pessoal” e a “vivência da fé, à luz da Palavra de Deus e guiados pelo Espírito Santo”, diz o sacerdote à Agência Ecclesia.
“Este não é um processo de análise sociológica. Se assim fosse era muito mais fácil de um ponto de vista operativo. Cada conferência episcopal ou cada diocese pediria a uma universidade ou faculdade para fazer um estudo. Não é disso que se trata. O processo de sinodalidade parte da partilha da nossa experiência pessoal, da vivência da fé, à luz da Palavra de Deus e guiados pela ação do Espírito Santo. E esse foi o processo que foi realizado neste encontro. Com várias sensibilidades, com especialistas e com teólogos. Essa foi a nossa metodologia: oração, encontros de vários grupos, plenários, voltamos a ler os documentos. A conversação espiritual é o coração do processo sinodal”, assinala.
Mudança e reforma na Igreja
Para este processo sinodal podem estar reservadas “muitas surpresas”, diz o padre Paulo Terroso. O sacerdote português afirma que é “notório e claro o desejo de mudança, de reforma na Igreja”, pois “muitos cardeais e bispos” reconhecem “que a forma de governo da Igreja e dela dialogar e de se relacionar com o mundo tem que ser através deste método” da sinodalidade.
“Depois do Concílio Vaticano II este é o grande momento. E acho que nos reserva muitas surpresas. Este processo sinodal que está em curso é também o reconhecimento de muitos cardeais e bispos de que a forma de governo da Igreja e dela dialogar e de se relacionar com o mundo tem que ser através deste método. Ou seja, não pode ficar exclusivamente na mão daquilo que é a hierarquia ou do ministério ordenado, mas que o povo de Deus deve participar. E também sublinhar este aspeto de que é notório e claro o desejo de mudança, de reforma na Igreja”, sublinha o sacerdote.
Como sublinha a Secretaria Geral do Sínodo, o processo de escuta e discernimento continua, agora com uma nova etapa que terá lugar entre os meses de janeiro e março de 2023 com a realização de Assembleias Sinodais Continentais.
Assim, em 2023 será a primeira sessão da XVI Assembleia do Sínodo dos bispos que decorrerá de 4 a 29 de outubro em Roma. Em outubro de 2024 será a segunda sessão.
Nos próximos meses, muitos serão os motivos de informação e reflexão, aqui na Rádio Vaticano e Vatican News, sobre este processo sinodal que está a marcar a vida da Igreja.
Laudetur Iesus Christus
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