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O Papa emérito Bento XVI, no dia de sua eleição (Vatican Media) O Papa emérito Bento XVI, no dia de sua eleição (Vatican Media)

Schönborn: o Catecismo entre os grandes legados de Joseph Ratzinger

O cardeal arcebispo de Viena Christoph Schönborn recorda o projeto do Catecismo da Igreja Católica realizado em 1992 graças à inspiração e orientação de Ratzinger: uma obra destinada a se tornar um ponto de referência seguro para a fé em nosso tempo

Christoph Schönborn *

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Entre os grandes legados do Papa Bento XVI está certamente o Catecismo da Igreja Católica. Nesta sede, eu me lembro com gratidão de suas recordações pessoais. É bem conhecido que o Vaticano II, diferentemente do Concílio de Trento, não tinha decidido publicar um Catecismo próprio do Concílio. Os documentos do Concílio, de certa forma, foram eles mesmos a grande catequese da Igreja. Vinte anos após o Concílio, muitos começaram a ver as coisas de maneira diferente. O Sínodo dos Bispos de 1985, entre suas propositiones, formulou uma que exortava o Papa a redigir um Catecismo do Vaticano II. Falava-se então de um compêndio, a expressão catecismo era evitada, não era bem recebida. A desorientação que foi sentida de muitas partes no período pós-conciliar foi decisiva para a formulação dos desiderata dos padres sinodais. Nesse sentido, uma conferência que o cardeal Ratzinger havia dado em Lyon e Paris sobre a "crise da catequese" havia desempenhado um papel importante. Esta explanação teve uma ressonância mundial.

 

O cardeal Ratzinger não somente abordou o tema da crise na proclamação da fé, mas também apresentou um programa para a renovação da catequese da Igreja. Sua referência tinha sido o Catecismo Romano de 1566 e sua preocupação era apresentar a fé da Igreja em toda sua beleza e de uma maneira não polêmica. De fato, é surpreendente que em um tempo repleto de controvérsia teológica, a Igreja tenha apresentado uma exposição da fé que renunciou totalmente à polêmica, confiando plenamente no poder irradiante da representação positiva da fé.

As conferências de Ratzinger em Lyon e Paris foram sem dúvida um forte impulso que encorajou os padres sinodais a pedir ao Papa João Paulo II que considerasse algo semelhante para o nosso tempo.

Em 1986, o Papa João Paulo II começou a realizar o pedido do Sínodo. Ninguém se surpreendeu que ele tenha confiado ao cardeal Ratzinger a liderança deste projeto. Certamente não preciso me lembrar das etapas deste percurso de seis anos. Foi formada uma comissão de 12 cardeais e bispos, com o cardeal Ratzinger na condução. Foi criado um comitê de redação, composto por sete bispos diocesanos; como professor em Friburgo, tive a honra de ser seu secretário.

Parece-me importante enfatizar o papel do cardeal Ratzinger na realização desta obra. Sua orientação, seu espírito, sua inspiração foram decisivos. A primeira e mais importante coisa é que ele acreditava neste projeto. Desde o primeiro dia, houve grande controvérsia quanto à razoabilidade, até mesmo quanto à viabilidade de um compêndio de fé válido para o mundo inteiro. A pluralidade de culturas e crenças religiosas parecia falar radicalmente contra ela. Ao invés disso, ele acreditava nesta possibilidade, com confiança e coragem, de que a unidade na fé também torna possível a expressão comum desta unidade. Com esta premissa orientadora, o trabalho começou. Um segundo ponto de partida que ele ofereceu para a realização do projeto foi a convicção de que os quatro pilares da catequese também eram fundamentais para os dias de hoje. Ele também indicou a ordem de sucessão: o Credo é o fundamento, desde os primeiros tempos da Igreja; os sacramentos são as portas pelas quais a graça entra em nossas vidas; os Dez Mandamentos são os pontos de referência seguros de uma vida feliz; o Pai-Nosso representa a medida e a forma original de todas as nossas orações. Eis aí a estrutura do livro da fé.

A terceira indicação foi decisiva para o estilo da obra. De fato, não devia repropor os debates teológicos, nem continuar as discussões. Sua tarefa era apresentar a doutrina da fé da maneira mais simples e clara possível. O Catecismo não era para tomar partido entre escolas teológicas, mas para oferecer tudo o que precede toda teologia e que é a base de toda teologia: o depositum fidei. Foi uma preocupação particular do cardeal Ratzinger ver a doutrina da fé como um todo orgânico, prestar atenção ao nexus mysteriorum, a conexão interna de toda doutrina da fé, sua sinfonia. O Catecismo não deveria se tornar uma estrutura doutrinária seca, abstrata, mas deveria revelar algo da beleza da fé. Sob sua orientação, constante encorajamento e paternidade espiritual, a obra cresceu para se tornar o que mais tarde se tornou com sua promulgação pelo Papa João Paulo II: um critério e um ponto de referência seguro para a fé em nosso tempo. O Catecismo continua sendo um grande testemunho do poder formativo do teólogo Joseph Ratzinger/Papa Bento.

* Cardeal arcebispo de Viena

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