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Paulo VI no Monte das Bem-Aventuranças Paulo VI no Monte das Bem-Aventuranças 

Paulo VI na Terra Santa

“Estamos convencidos de que para obter um bom resultado do Concílio, decidimos nos dirigir como peregrinos àquela terra, pátria do Senhor nosso Jesus Cristo... com a intenção de reevocar, pessoalmente, os principais mistérios de nossa salvação, ou seja, a encarnação e a redenção”, disse Paulo VI aos padres conciliares, ao anunciar sua peregrinação à Terra Santa.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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Paulo VI foi o primeiro Pontífice a realizar peregrinações e Viagens Apostólicas intercontinentais para encontrar povos e Igrejas locais necessitados da presença e da palavra do Sucessor de Pedro. Assim, entre 4 e 6 de janeiro de 1964, o Papa Montini realiza sua peregrinação à Terra onde nasceu e viveu Jesus de Nazaré.  Essa peregrinação durante o Concílio Vaticano II, pretendia ser uma mensagem ao mundo de que a Igreja deveria voltar ao estilo de suas origens

A acolhida das autoridades jordanianas e das populações cristã, muçulmana e judaica em Belém, Nazaré, Monte Tabor, Monte das Bem-aventuranças, em Caná, em Cafarnaum e em Jerusalém, foi de grande entusiasmo. Em Jerusalém, o Papa foi literalmente cercado pela multidão enquanto caminhava da Porta de Damasco até a Basílica do Santo Sepulcro na Jerusalém árabe, então sob a soberania do rei da Jordânia. Em todos os lugares santos, Paulo VI viveu momentos de profunda espiritualidade, desde a pequena igreja do Primado até o Getsêmani.

No programa de hoje deste nosso espaço, padre Gerson Schmidt* volta a falar da peregrinação de Paulo VI à Terra Santa:

 

"No dia 04 de dezembro de 1963, em pleno andamento do Concílio vaticano II, ao terminar a segunda sessão, anunciou algo surpreendente. Pela primeira vez na história da Igreja, um sucessor de Pedro ia visitar como peregrino os lugares santos. Até então somente Pedro, o primeiro Papa, estivera na Palestina. Tratava-se de uma humilde peregrinação, de somente três dias, dando-lhe um estrito sentido evangélico, nos lugares santificados pelo nascimento, pela vida, paixão, morte de Jesus Cristo, e por sua gloriosa ressurreição e ascensão. O papa quer colocar os pés nas pegadas de Jesus, como afirma em seu discurso na chegada a Jerusalém. “É a terra de Jesus Cristo, à qual, após vinte séculos da saída de Pedro, um sucessor seu regressa, em condição de humilde peregrino, com atitude de oração e penitência e para colocar toda a Igreja reunida em concílio em uma união, mais íntima e vital, com os mistérios da redenção”[1].

Papa Paulo VI dizia assim na ocasião, anunciando supreendentemente aos padres conciliares: “Estamos convencidos de que para obter um bom resultado do Concílio, decidimos nos dirigir como peregrinos àquela terra, pátria do Senhor nosso Jesus Cristo... com a intenção de reevocar, pessoalmente, os principais mistérios de nossa salvação, ou seja, a encarnação e a redenção”. “Veremos aquela terra venerada”, acrescentou Paulo VI, “de onde São Pedro partiu e para a qual nenhum de seus sucessores nunca mais voltou. Contudo, nós, muito humildemente e por um tempo muito breve, voltaremos ali em espírito de devota oração, de renovação espiritual, para oferecer a Cristo sua Igreja; para chamar a ela, una e santa, os Irmãos separados; para implorar a divina misericórdia em favor da paz”.

Em sua viagem à Terra Santa, na Basílica da anunciação, Paulo VI expressa assim, com profundidade e singeleza: “Quase insensivelmente, talvez, aqui também se aprende a imitar. Aqui aprendemos o método com o qual podemos entender quem é Jesus Cristo. Aqui entendemos a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os lugares, o templo, os costumes, a língua, a religiosidade que Jesus usou para se revelar ao mundo. Tudo fala. Tudo tem um significado.... Aqui, nesta escola, entende-se a necessidade de ter uma disciplina espiritual, se se quer tornar-se aluno do Evangelho e discípulo de Cristo. Ah, e como gostaríamos de voltar a ser crianças e voltar a esta humilde e sublime escola de Nazaré! Como gostaríamos de repetir, juntamente com Maria, a nossa introdução à verdadeira ciência da vida e à sabedoria superior da verdade divina! ... Aula de silêncio. Silêncio de Nazaré, ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a capacidade de escutar as boas inspirações e palavras dos verdadeiros mestres; ensina-nos a necessidade e o valor da preparação, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que Deus só vê secretamente. Lição de vida doméstica. Que Nazaré ensine o que é a família, sua comunhão de amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; mostre o quão doce e insubstituível é sua pedagogia; ensinar o fundamental e insuperável de sua sociologia. Lição de trabalho. Ó Nazaré, ó casa do "Filho do Carpinteiro", como gostaríamos de entender e celebrar aqui a lei severa, e redentora do cansaço humano; recompor aqui a consciência da dignidade do trabalho; lembre-se aqui como o trabalho não pode ser um fim em si mesmo e como, quanto mais livre e mais alto ele for, tanto mais, além do valor econômico, os valores que ele tem como fim; saudar aqui os trabalhadores do mundo inteiro e indicar-lhes seu grande colega, seu divino irmão, o Profeta de toda justiça para eles, Jesus Cristo Nosso Senhor! Eis que o nosso pensamento deixou assim Nazaré e vagueia por estas montanhas da Galiléia que ofereceram a escola da natureza à voz do Mestre e Senhor. Falta tempo e falta força suficiente para reafirmar sua mensagem divina e imensurável neste momento. Mas não podemos nos privar de olhar para o próximo monte das bem-aventuranças, síntese e ápice da pregação evangélica, e tentar ouvir o eco desse discurso, como se tivesse sido gravado nesta atmosfera misteriosa, que nos chega."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] CAYUELA, Aquilino. Carmen Hernandez, Notas Bibliográfica, Loyola, 2022, 142.

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12 dezembro 2022, 08:07