Rejeitado adiamento do processo vaticano. Solicitada acareação Ciferri-Chaouqui
Salvatore Cernuzio – Vatican News
Um "magistrado idoso", na verdade uma mulher, que manobrava indiretamente um monsenhor e acompanhava as investigações passo a passo. Um confronto público na sala de audiências entre duas mulheres. Jantares interceptados, e-mails recebidos à noite, mensagens ameaçadoras, tais como: "Não me bloqueie, senão me ouvirá das páginas dos jornais". A série de chats entre Francesca Immacolata Chaouqui, já entre os protagonistas do processo Vatileaks 2, e Genoveffa Ciferri, amiga da "super-testemunha" monsenhor Alberto Perlasca, abriu novos cenários no processo vaticano sobre a gestão dos fundos da Santa Sé. As chats foram depositadas no dia 30 de novembro pelo Promotor de Justiça, Alessandro Diddi.
Solidariedade ao Promotor de Justiça
O próprio Promotor, foi apontado em 1º de dezembro na 40ª audiência na Sala dos Museus Vaticanos - durante a qual o cardeal Cantoni e o diretor do Ior Mammì testemunharam -, ficou "envolvido" nas 126 mensagens (das quais 119 continham omissões). Algumas passagens da chat quase insinuavam uma "ascendência" que Chaouqui teria ostentado, como ela mesma afirma em uma mensagem, como para garantir a Perlasca a "salvação processual".
A hipótese de um vínculo entre Chaouqui e o judiciário vaticano foi rejeitada por cada um dos advogados de defesa que expressaram todos solidariedade "verdadeira, não de fachada" a Diddi, reiterando sua estima e total confiança. O próprio Promotor declarou na Sala do Tribunal que nunca havia passado nada a Chaouqui, com quem se encontrou em uma única ocasião em julho passado: "Podem pegar meu celular, se o Tribunal quiser, ele pode ser apreendido e fazer a análise forense".
Hipótese de delito
Além disso, há muitas declarações e revelações fortes que emergiram das trocas de informações WhatsApp que, de fato, desencadearam um novo dossiê, como anunciado no dia 30 de novembro por Diddi, sem, no entanto, especificar hipótese de delito. Embora nesta quadragésima audiência, na Sala do Tribunal, se tenha falado de "despistagem, fraude, ameaças".
Pedido de suspensão do processo
A fim de "permitir a realização de averiguações sobre os fatos descritos", o advogado Cataldo Intrieri, defensor do ex-funcionário vaticano Fabrizio Tirabassi, solicitou que o julgamento fosse suspenso até uma data a ser decidida e que os autos fossem enviados de volta ao Ministério Público de Roma diante de "fatos criminais em território italiano". Estes incluem a suposta interceptação durante o jantar no restaurante Lo Scarpone entre Perlasca e o cardeal Angelo Becciu. Jantar organizado em tudo (até mesmo a reserva da mesa) pelo "magistrado idoso", que Perlasca descobriu na sexta-feira ser Chaouqui. Naquele jantar, ele tinha "a tarefa de fazer o cardeal falar" e possivelmente gravá-lo, fazendo um relatório escrito que - lhe havia sido dito - seria então utilizado pelos magistrados do Vaticano.
Determinação de Pignatone
Alguns advogados se associaram ao pedido da Intrieri. Outros, entretanto, propuseram prosseguir com o processo, pedindo que as chats entre Ciferri e Chaouqui, "das quais conhecemos apenas 3%", fossem tornadas "ostensivas" sem omissões, de modo a "reconstruir todo o percurso" de 29 de abril a 31 de agosto de 2020, data do memorial de Perlasca. Uma memória que, de acordo com o que surgiu, teria sido de alguma forma "instigada" por Ciferri, auto-intitulada agente dos serviços secretos, e pelo "magistrado idoso" que sugeria temas e perguntas a serem incluídas e que controlava os movimentos do monsenhor em território vaticano. Incluindo o percurso de Porta Sant'Anna até sua residência na Casa Santa Marta.
Frente a frente
Antes que o Tribunal, presidido por Giuseppe Pignatone, se reunisse por uma hora e vinte em câmara de conselho, o promotor Diddi reiterou que "o interesse lesado ocorreu dentro do Estado" e que, portanto, não havia "obrigação de apresentar uma queixa à autoridade judicial italiana". Sobre as omissis, Diddi disse que as investigações em andamento deveriam permanecer "em segredo" e propôs ouvir Ciferri e Chaouqui na Sala do Tribunal o mais rápido possível "para evitar que mais tarde sejam gerados ulteriores mecanismos de condicionamento". E talvez "sobre o que não é convergente, ter uma acareação em audiência pública". Um frente a frente que Pignatone - após rejeitar com uma ordem o pedido de suspensão e a remoção dos omissis - anunciado que será possível na primeira audiência em 2023.
Mensagens de Chaouqui para Perlasca
Na expectativa da acareação, monsenhor Perlasca foi interrogado sobre o que descreveu como pressão e ameaças de Francesca Immaculata Chaouqui através de WhatsApp. Cerca de quinze mensagens foram recebidas, a partir da primeira em 12 de maio de 2022 e continuaram "com um tom diferente" após o início das investigações. Chaouqui, relatou a testemunha, acusava o ex-chefe do Escritório Administrativo de ter contribuído para sua prisão em 2015 antes do processo Vatileaks 2. "O véu do silêncio o levou a fazer a vez do ladrão do dinheiro dos pobres", escreveu Chaouqui em uma ocasião ao prelado, incitando-o a denunciar seus superiores. Perlasca disse que nunca havia respondido ou informado os investigadores, mas explicou que só havia contado a Becciu sobre isso, que, porém, o tranquilizou: "Ela está fora do circuito, mesmo na imprensa. É inofensiva". "Deixei o assunto de lado", explicou Perlasca que, no entanto, depositou uma carta na Gendarmaria Vaticana em 1º de março de 2022: "Para minha própria cautela e tranqulidade, eu quis informar".
Interrogatório ao cardeal Cantoni
Antes de Perlasca, o cardeal Oscar Cantoni, bispo de Como, foi interrogado durante 14 minutos. O purpurado foi perguntado sobre o suposto delito de suborno da parte do cardeal Becciu, ou seja, o de fazer pressão sobre Perlasca através de seu bispo para que ele retratasse as acusações. Cantoni explicou que em 14 de outubro de 2020, por ocasião de uma viagem a Roma com os pais do padre Roberto Malgesini, o sacerdote assassinado em Como por um sem-teto, foi contatado por Becciu: "Ele me convidou a ir a sua casa para falar em espírito de fraternidade episcopal sobre uma situação criada entre ele e Perlasca. Falou-me de sua contrariedade. Ele me participou isso não como bispo responsável por Perlasca, mas porque fui seu pai espiritual desde o tempo da formação de Alberto".
"O cardeal - acrescentou Cantoni - disse-me que tinha vindo a descobrir muitas mentiras que, segundo ele, Perlasca poderia ter escrito. Mentiras escritas e anunciadas na mídia impressa. Diante desta realidade, o cardeal me disse que estava pronto para perdoar caso Perlasca se retratasse, caso contrário, seria obrigado a apresentar queixa, dadas as informações errôneas. No encontro eu estava diante de uma pessoa muito amargurada, eu me senti envolvido, dizendo que assim que encontrasse Perlasca iria relatar isso a ele". Cantoni, porém, não conseguiu se encontrar com o monsenhor e não quis falar sobre esses assuntos "tão pessoais" ao telefone. Ele conversou pessoalmente com Perlasca em fevereiro de 2021, de volta a Roma: "Relatei o encontro com Becciu não como um superior a um inferior, foi um encontro confidencial" com Perlasca.
Mammì e a denúncia do Ior
O interrogatório a Mammì pela manhã centrou-se, por sua vez, na queixa apresentada pelo Ior ao Gabinete do Promotor de Justiça em 2 de julho de 2019, a partir da qual teve início a investigação que levou ao processo. Mammì repercorreu o caso desde as primeiras "interlocuções" com o então novo substituto da Secretaria de Estado, Edgar Peña Parra, que acabava de chegar ao Vaticano e tinha que administrar a delicada questão com base nos elementos fornecidos por seus colaboradores do escritório administrativo. O substituto expressou ao diretor do Ior a urgência de "refinanciar uma posição da Secretaria de Estado". Tratava-se do mútuo "oneroso"pertinente ao Prédio de Londres, que a Santa Sé queria renegociar obtendo condições mais vantajosas através de um financiamento do Instituto para as Obras de Religião (Ior) no valor de 180 milhões de euros. "Era um problema muito sério do ponto de vista econômico-financeiro e reputacional. A cooperação do Instituto foi solicitada", lembrou Mammì: "Dada a complexidade das questões e o alto montante, houve necessidade de uma verificação aprimorada". O diretor havia confiado tudo aos escritórios técnicos competentes: "Problemas consideráveis, dúvidas, perplexidades surgiram durante todo o caso, com o risco que houvesse uma série de ilícitos. Isto nos obrigou a recorrer ao judiciário para que ele pudesse verificar nossas perplexidades com seus próprios instrumentos".
Interlocuções com a direção da Aif
Mammì teve numerosas interlocuções com a alta administração da Aif (agora Asif), René Brüllhart e Tommaso Di Ruzza, respectivamente presidente e diretor da Autoridade de Informação Financeira (ambos réus). Após uma fase inicial de colaboração com o Ior, os dois mudaram de atitude: "Tive a impressão de que a atitude não era a de uma instituição terceira que colabororava, mas de uma instituição tendenciosa que, em vez de proteger a instituição supervisionada, estava mais de um lado", disse Mammì. Em particular, esta atitude de "forçar educadamente" foi encontrada em Brüllhart, que em uma ocasião até o exortou a "conceder o mútuo ao Credit Suisse, que nos dá 2%". "Eu fiz um gracejo: ‘René, você perdeu a oportunidade certa de ficar calado. Não é de sua competência dizer o que o Instituto deve fazer’. Devemos considerar isso pressões? Por que não"!
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui