Processo no Vaticano: uma série de chats dá início a um novo dossiê
Salvatore Cernuzio – Vatican News
Realizou nesta quarta-feira (30/11), no Vaticano, uma nova audiência intermitente, a 39ª do processo de gestão dos fundos da Santa Sé, que durou quase 10 horas, com longos intervalos. Na parte da manhã, a sessão, na sala polivalente do Museu do Vaticano, foi interrompida das 11 às 15 horas, devido à ausência de algumas testemunhas. À tarde, durante quase uma hora, o tribunal, presidido por Giuseppe Pignatone, reuniu-se para avaliar uma "novidade", apresentada pelo Promotor de Justiça, Alessandro Diddi, pouco antes de iniciar a terceira parte do interrogatório de mons. Alberto Perlasca, "testemunha-chave". Trata-se de uma chat de WhatsApp entre Francesca Immacolata Chaoqui e Genoveffa Ciferri, mulher citada no julgamento como "amiga" do monsenhor, que havia se apresentado ao cardeal Angelo Becciu (acusado), como ex membro dos Serviços Secretos, e que também o teria ameaçado. O novo material deu início a uma nova investigação e Ciferri será ouvida na audiência desta sexta-feira, 2 de dezembro.
Mais de 126 mensagens
O Promotor de Justiça, Alessandro Diddi, afirmou ter recebido este material, no seu "uso privado", na noite entre sábado e domingo, de um “número de telefone que iniciava com 331". Trata-se de “uma longa série de chats, com mais de 126 mensagens”, nas quais o Promotor extraiu algumas mensagens entre as duas mulheres. “Isso levou-me à abertura de um novo dossiê”, disse, sem formular hipóteses de crime, mas sem descartar possíveis "iniciativas contra Perlasca". Alessandro Diddi também afirmou ter sido “contatado, pessoalmente”, várias vezes, nos últimos dois anos, por “Genoveffa Ciferri, que fazia referência a alguns eventos citados em um relatório de serviço”.
Memorial de Perlasca
As mensagens parecem referir-se a uma questão pendente na última audiência, caracterizada por numerosos "não me lembro" por parte do monsenhor, diante dos quais Giuseppe Pignatone o advertiu sobre o risco de ser indiciado por "falso testemunho". O problema referia-se a quem o havia ajudado a redigir o memorial de 31 de agosto de 2020, no qual, entre outras coisas, também acusava Angelo Becciu. “Nos atos do Promotor – disse o presidente Pignatone – consta uma série de mensagens da senhora Ciferri, que afirma ter sido ela a sugerir o memorial feito por Perlasca, mas que, por sua vez, os temas lhe teriam sido sugeridos por Chaouqui”.
Inicialmente, Perlasca afirmou ter redigido o memorial de forma independente; na última audiência, porém, disse que “não se lembrava” de quem o havia ajudado a escrever estas páginas, impostadas no inédito modo de pergunta-resposta, que também abordava questões alheias ao processo. Hoje declarou na sala: "As respostas são todas minhas e os temas foram formulados pela senhora Ciferri". “Ela – referindo-se a quem havia chamado de “amiga da família”, em outras ocasiões – me disse que seu interlocutor era um consulente jurídico, um magistrado idoso, que se colocou à sua disposição. Na noite de sexta-feira passada, longe da sala de audiência, a primeira coisa que fiz foi ligar para ela, dizendo: “A senhora deve me esclarecer bem as coisas”. Mas, respondeu que era a Chaouqui”, com a qual Perlasca afirmou jamais ter tido encontros ou conversas, pessoalmente.
Terceiro interrogatório
Durante mais de três horas, o ex-chefe do setor Administrativo da Secretaria de Estado foi interrogado pelas defesas, de modo particular, sobre a série de eventos que levaram à compra/venda do palácio de Londres: os acordos estipulados, a sua insistência em denunciar Torzi, as medalhas de ouro e bronze, as interlocuções com vários personagens, que, marginal ou diretamente, foram envolvidos no evento.
Assinatura em branco
Antes de Perlasca, foram ouvidas outras duas testemunhas: Antônio Di Iorio, tabelião da Câmara Apostólica, e Fábio Perugia, ex porta-voz da Comunidade judaica de Roma, consultor financeiro e promotor do fundo “Grupo Valeur”.
Ao senhor Antônio Di Iorio, de modo particular, foi pedido para prestar contas sobre um documento assinado em branco pelo Substituto da Secretaria de Estado, arcebispo Edgar Peña Parra, que o ex-funcionário Fabrizio Tirabassi e mons. Mauro Carlino (ambos acusados) teriam lhe pedido para assinar "com emergência", como tabelião, no verão passado. Antônio Di Iorio assinou sem controlar, ciente de que servia para o Substituto. Outro documento, assinado por Antônio Di Iorio, após um pedido urgente de mons. Perlasca, foi, desta vez, uma carta que parecia estar relacionada às mil ações, com direito a voto, sobre o Palácio, ao corretor Gianluigi Torzi (acusado): aquelas que depois Torzi, supostamente, teria cedido à Santa Sé por 15 milhões, em modo de extorsão, segundo a acusação.
A testemunha Perugia
Sobre as relações com Torzi, também falou Perugia, que, por pouco tempo, foi seu sócio em uma empresa de “cashback”, da qual teria saído logo em seguida, devido ao comportamento do corretor: “Ele não era uma pessoa confiável, pois administrava tudo de modo confuso”. Perugia - o único, até agora, a não jurar sobre o Evangelho, antes de testemunhar, por ser membro da Comunidade judaica – disse: “O Grupo Valeur colocou-se à disposição para resolver a situação de Londres, que colocava a Santa Sé "em perigo". Ele reiterou as informações, obtidas na ocasião, por alguns de seus conhecidos profissionais, sobre uma presumível "ligação" entre Tirabassi e Enrico Crasso, consultor financeiro da Secretaria de Estado (acusado), através da qual Tirabassi teria desviado os investimentos da Santa Sé ao “Credit Suisse” do qual Crasso era gerente. Em troca, Tirabassi obteria fee. A testemunha recordou ainda o que lhe haviam dito: “Algumas dessas recompensas “foram administradas em Santo Domingo”. Ao invés, ele disse não se lembrar a quem se referia quando no interrogado, em 2020, pelo Promotor de Justiça, falou de uma "Banda Bassotti", dentro dos muros do Vaticano.
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