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Entrada de João XXIII na Basílica de São Pedro na abertura do Concílio Vaticano II, em 11 de outubro de 1962 Entrada de João XXIII na Basílica de São Pedro na abertura do Concílio Vaticano II, em 11 de outubro de 1962 

A colaboração de Ratzinger no Concílio

"Joseph Ratzinger, como teólogo, contribuiu para dar forma e acompanhou o Concílio Vaticano II em todas as suas fases. A sua influência já se faz sentir na fase preparatória, antes da abertura oficial do concílio, a 11 de Outubro de 1962. Ele participou em medida relevante na gênese dos textos mais variados, primeiro ao lado do arcebispo de Colônia, cardeal Joseph Frings, e mais tarde como membro autônomo de diversas comissões."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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Deus Caritas estSpe Salvi Caritas in VeritateAlém destas três Encíclicas, o Papa emérito Bento XVI, falecido na manhã do último sábado e considerado um dos maiores teólogos dos tempos modernos, também escreveu 4 Exortações Apostólicas pós-sinodais e 19 motu proprio, entre eles, o Summorum Pontificum sobre a liturgia.

Mas ainda nos anos 60, como teólogo, Joseph Ratzinger contribuiu para dar forma e acompanhar o Concílio Vaticano II em todas as suas fases. O cardeal Gerhard Ludwig Müller em suas "Reflexões sobre os escritos conciliares de Joseph Ratzinger", recorda que das atas conciliares resulta a sua colaboração em duas comissões: antes de tudo, era membro da subcomissão da comissão teológica que tinha a tarefa de elaborar os passos decisivos do esquema da De ecclesia. Ademais, contribuiu para as propostas de melhoramento do esquema De fontibus, e por isso diretamente na Constituição sobre a Revelação divina Dei Verbum."

Em segundo lugar, acrescenta o cardeal, "Ratzinger trabalhou eficazmente na redação do decreto Ad gentes, o qual relaciona de novo de modo forte a actividade missionária da Igreja com a missão do Filho no mundo, que tem na Igreja a sua continuação, tornando assim evidente que a missão pertence à própria natureza da Igreja."

 

Neste nosso espaço dedicado ao Concílio Vaticano II, padre Gerson Schmidt* nos propõe uma reflexão sobre a colaboração de Ratzinger no evento conciliar:

"BENTO XVI escreveu, em outubro passado, uma carta em inglês endereçada ao padre Dave Pivonka, presidente da Franciscan University of Steubenville, em Ohio (EUA), onde foi realizado o X Simpósio Internacional sobre a Eclesiologia de Joseph Ratzinger. Bento XVI recorda, nesta carta, a evolução do conceito de "Corpo de Cristo", cristalizado na Encíclica Mystici Corporis de Pio XII. O Concílio Vaticano II dedicou a imagem da Igreja como corpo de Cristo no número 07 do capítulo I da Constituição Dogmática Lumen Gentium, que trata sobre o mistério da Igreja e sua missão. O conceito da Igreja como Corpo de Cristo é oferecida pelo Papa Pio XII na Encíclica Mystici Corporis em 1943 e depois também na Mediator Dei, de 1947, que apresenta, dentro da Encíclica sobre a Liturgia, a Igreja como Corpo Místico de Cristo.

O Concílio Vaticano I não assumiu essas novas perspectivas teológicas da visão da Igreja como um corpo, um organismo místico e orgânico. Negligenciou esse pensamento da Igreja como Corpo de Cristo, segundo o que haviam pretendido exponentes da Escola Romana[1]. A maioria dos Padres Conciliares do Concílio Vaticano I não viam em tal expressão mais que uma metáfora, não uma definição da Igreja e uma nova perspectiva teológica e, consequentemente, pastoral. No Concilio Vaticano I seguirá dominando o carácter corporativo, sobretudo hierárquico da Igreja.  Será o Concílio Vaticano II que vai recuperar fortemente essa concepção da Igreja como corpo Místico de Cristo, já expressada e construída pelos teólogos da época, sobretudo pelo Papa Pio XII. Embora o Concílio eminentemente queira ser um concílio pastoral e de um agir pastoral, a Lumen Gentium é constituição que vai dar o norte, a doutrina, construindo a concepção da Igreja como um corpo, um corpo com diversos membros, não qualquer corpo, mas um Corpo Místico; mais: um Corpo Místico de Cristo, cabeça, onde todos os batizados são membros, enxertados, ligados a Cristo-cabeça.

O conceito figurado da Igreja como Corpo Místico de Cristo encontra-se nas epístolas de São Paulo, na 1ª Epístola aos Coríntios e na Epístola aos Romanos, bem como nas cartas aos efésios e na carta aos Colossenses. Nem no Antigo Testamento, nem no âmbito da tradição apostólica o apóstolo Paulo encontrou a imagem da Igreja como um organismo. É uma criação dele mesmo. Talvez a imagem da vinha como o Povo de Israel pudesse sugerir uma ligação entre os membros do povo de Deus. Mas foi o próprio Cristo que utilizou essa imagem bíblica da videira como um corpo orgânico, do qual nós somos os ramos, ele a videira; tal qual o corpo, onde somos os membros e ele a cabeça.

O Papa Bento XVI também cita sua dissertação sobre o Povo e Casa de Deus na doutrina agostiniana da Igreja, aprofundada no âmbito no Congresso Agostiniano em Paris em 1954. Ele recorda então a disputa sobre o significado de Civitas Dei (Cidade de Deus) que "parecia definitivamente resolvida" e a dissertação de Heinrich Scholz, que recebeu a aprovação da opinião pública "que atribuía à Igreja e à sua fé um belo lugar, mas também inócuo. "Qualquer um que ousasse destruir esse belo consenso só poderia ser considerado teimoso", escreve ele. E sublinha no texto que "o augustianismo medieval foi realmente um erro fatal, que hoje, felizmente, foi definitivamente superado", completou o Papa Bento na carta ao padre Dave Pivonka para o X Simpósio Internacional sobre a Eclesiologia de Joseph Ratzinger.

Joseph Ratzinger, como teólogo, contribuiu para dar forma e acompanhou o Concílio Vaticano II em todas as suas fases. A sua influência já se faz sentir na fase preparatória, antes da abertura oficial do concílio, a 11 de Outubro de 1962. Ele participou em medida relevante na gênese dos textos mais variados, primeiro ao lado do arcebispo de Colônia, cardeal Joseph Frings, e mais tarde como membro autônomo de diversas comissões."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] A. CHAVASSE, «L'ecclésiologie au Concile du Vatican, L'infaillibilité de l'Église», en M. NEDONCELLE, O.C, 233-234.

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02 janeiro 2023, 08:26