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Encontro com o Papa no Estádio dos Mártires em Kinshasa (Foto de ALEXIS HUGUET/AFP) Encontro com o Papa no Estádio dos Mártires em Kinshasa (Foto de ALEXIS HUGUET/AFP)  Editorial

RD Congo: o valor do homem na alegria do encontro

O Papa deixa hoje a República Democrática do Congo para ir ao Sudão do Sul. Indescritível a gratidão e a alegria de Kinshasa por este encontro que dilacerou lógicas predatórias e de posse.

MASSIMILIANO MENICHETTI

A África vista da República Democrática do Congo é muito diferente de quando se está fora deste continente. Basta somente um dia e o ângulo de perspectiva sobe incrivelmente, tornando-se possível assim reconhecer aquilo que de muitas outras latitudes, paradoxalmente, escapa e se esquece: aqui o coração humano é capaz de se alegrar por um encontro.

A paz, a concórdia, a fraternidade, com efeito nascem da relação que neste lugar pode ser tocada e vista. Na terra dos diamantes se festeja quando um amigo vai te encontrar, se é honrados pela visita de um parente, de um avô, que compartilha sua história, a sabedoria de uma vida intera. A palavra alegria não foi esvaziada de significado, não é superficial, mas aparece plena, porque não está ligada a um momento efêmero, mas ao homem. É a alegria do encontro que durante a visita do Papa Francisco lotou estradas, viadutos, o aeroporto N'Dolo, o estádio dos Mártires.

Ouça e compartilhe

O desejo era o de ver, ouvir, mas também saudar, homenagear, festejar, partilhar. E esta alegria, na África é cantada, tocada, dançada. Emoções refletidas nos olhos muitas vezes umedecidos pelas lágrimas, nos sorrisos abertos de crianças, adultos e idosos, que se encontraram caminhando juntos com o Sucessor de Pedro, seguindo a consciência da esperança fundada em Cristo.

Neste país, onde um europeu provavelmente não encontraria as "​​comodidades irrenunciáveis" a que está habituado, é possível traçar as raízes vivas de cada coisa, quer no bem como no mau. Talvez isso seja possível, porque o homem não foi anestesiado pela opulência do bem-estar, ou porque aqui o tempo ainda não está completamente marcado pelo frenesi do fazer, mas pela respiração do sol, da natureza.

Kinshasa é uma cidade caótica e desordenada, onde os barracas, em estradas de terra e asfalto, se alternam com montes de lixo, prédios em construção, casas bem conservadas e esqueletos de concreto armado. O trânsito parece não ter regras, se os veículos não estão presos em algum engarrafamento, se deslocam, disparando rapidamente, continuamente para a esquerda e para a direita. A maioria dos carros está amassada, com os espelhos retrovisores amarrados com fios e fita adesiva para evitar que caiam, as portas dos ônibus de transporte público costumam ser abertas para permitir que eles enfiem o máximo de pessoas possível, algumas viagens em pé agarrados na fuselagem do lado de fora. A polícia e os militares patrulham as ruas, têm longos blackjacks que acenam contra quem desrespeita as diretivas. As motos chegam a transportar quatro pessoas. São tantas as crianças que brincam atrás de lençóis coloridos que delimitam espaços vazios, mulheres carregam sacolas de todos os tamanhos na cabeça.

O olhar dos habitantes é sempre o mesmo: te atravessa. Nesta terra onde convivem e se chocam as contradições da riqueza do subsolo e da pobreza, da beleza da natureza e da guerra, o que prevalece é o impulso incansável do povo, todo projetado para frente. “A República Democrática do Congo será um paraíso”. Esta esperança não é uma espera, uma quimera, mas a que é ouvido por toda uma geração, por aqueles que, carregando Cristo, constroem dia após dia entre os escombros, a corrupção, os rejeitados, a violência, os abusos, a exploração e a tribo divisão. Talvez, no entanto, seja precisamente isso que assusta aqueles que depredam, saqueiam e silenciam a África, aqueles que tentam relegá-la a um problema a ser resolvido ou a Estados a ajudar. Todos aqui se lembram das duas visitas de São João Paulo II, mas também daquela recente do cardeal Parolin, que veio em julho para representar Francisco, que adiou a viagem devido a dores no joelho. O secretário de Estado do Vaticano trouxe a promessa de que o Santo Padre viria.

“Passou um ano”, suspirou o Pontífice no avião para Kinshasa. O Papa cumpriu a sua palavra e este povo não o esquece, sente-se honrado, respeitado, amado. Francisco alimentou no país, onde floresce a Igreja, a certeza do horizonte, a consciência do vínculo em Cristo. Este continente está crescendo enormemente, não só em termos de produto interno bruto, mas as oportunidades não virão do coltan, do petróleo, das pedras preciosas - certamente serão instrumentos - mas da memória do homem, do desejo do encontro, da vitalidade, da juventude  do desejo destes povos, o que permitirá a toda a humanidade viver novos desafios, de mudar, de crescer, desenvolver-se. É esta a mudança de perspectiva provocada pelo Papa que indicou a luz de Cristo como um farol a seguir, porque n'Ele se dissolve a lógica colonial ou predatória, permitindo ao homem tornar-se ele mesmo em relação com os outros.

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03 fevereiro 2023, 14:30