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Eclesiologia mariana na Lumen Gentium

"A memória litúrgica da bem-aventurada Virgem Maria, com o título de Mãe da Igreja, foi instituída no calendário Romano na segunda-feira depois da Solenidade de Pentecostes, para lembrar que Maria, presente no cenáculo, é mãe e cristã que mergulha nas ações da comunidade da Igreja primitiva, na descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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O Concílio Vaticano II constitui o acontecimento mais importante do século XX também para a Mariologia. De fato, é o ponto de chegada do trabalho mariológico pré-conciliar e, ao mesmo tempo, o ponto de partida para uma nova formulação do discurso sobre Maria.

Considerando o laborioso percurso do capítulo VIII da Lumen gentium, Constituição promulgada em 21 de novembro de 1964, parece reconhecer-se nele a micro-história da Marialogia no século XX: os quatro anos de elaboração do texto mariano reproduzem o desenvolvimento do pensamento mariológico realizado entre os anos 1920-1960, quando a perspectiva cristológica dos manuais se alternava com a eclesiológica proposta pelos movimentos de renovação.

Logo após o Concílio, alguns estudiosos católicos tiveram o cuidado de aprofundar as perspectivas deutero-vaticanas sobre Maria e divulgá-las entre o povo de Deus. Assim surgiram cerca de trinta comentários ao capítulo VIII, um trabalho de documentação, informações e explicações que desempenhou o papel de instrumento em vista da passagem da habitual abordagem mariológica àquela inaugurada pelo Concílio.

No novo capítulo deste nosso espaço, padre Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "Eclesiologia mariana na Lumen Gentium":

 

"O teólogo Pe. Geraldo Borges Harckmann, professor da PUC-RS, hoje a serviço pela Arquidiocese de Porto Alegre no Pio Brasileiro em Roma, escrevia um artigo numa importante revista teológica do Rio Grande do Sul¹, apresentando três elementos eclesiológicos presentes nesse importante e rico documento da Lumen Gentium, ou seja, a dimensão eclesiológica, pneumática e mariana. Aqui já aprofundamos as duas primeiras. O terceiro elemento presente na LG é a inserção do capítulo da Mariologia no documento sobre a Igreja, o capítulo oitavo, intitulado “A bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja”. Tal inserção não foi fruto do acaso, mas corresponde à orientação presente na Constituição. A relação entre Maria e a Igreja só é possível de ser compreendida enquanto a Mariologia se insere na eclesiologia, enquanto Maria é a imagem da Igreja. A Igreja é virgem e mãe, concebida sem pecado e carrega o peso da história, e já possui uma dimensão escatológica. A Igreja é antecipada em Maria. Ela é a Igreja já realizada, ou ela é aquilo que a Igreja deverá ser um dia, quando terminar seu percurso na terra. Por essa razão, a Mariologia insere-se na eclesiologia do Vaticano II, para apontar um ideal a ser perseguido pela Igreja. Maria, a Mãe de Deus, é, assim, modelo para a Igreja e mãe da Igreja.

O título atribuído à Nossa Senhora como Mãe da Igreja – Mater Ecclesia - se deve justamente ao teor teológico sintetizado pelo Concilio Vaticano II a partir de expressão utilizada pelo Papa Paulo VI no decorrer do concílio. O título foi utilizado pela primeira vez por Santo Ambrósio de Milão, no Século IV e redescoberto por Hugo Rahner, um jesuíta irmão do grande teólogo Karl Rahner. A Mariologia de Rahner segue a doutrina de Ambrósio, sobre o papel de Maria Santíssima na Igreja. Sua interpretação, fundamentada exclusivamente em Ambrósio, influenciou grandemente o Concílio Vaticano II, sendo que na constituição Dogmática Lumen Gentium declara que Maria é Mãe da Igreja, uma perspectiva continuada pelos próximos Papas, João Paulo II que utiliza o termo em sua encíclica Redemptoris Mater e Bento XVI que credita aos Rahner especificamente essa atribuição.

Maria é vista como mãe da Igreja e de todos os cristãos, membros da Igreja e parte do corpo místico de Cristo. Os membros do Corpo de Cristo compartilham da paternidade de Deus e também da maternidade de Maria. O Catecismo da Igreja católica afirma assim: “A Virgem Maria é reconhecida e honrada como sendo verdadeiramente a Mãe de Deus e do Redentor... Ela é claramente a mãe dos membros de Cristo... Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja”( CIC, 963).

A memória litúrgica da bem-aventurada Virgem Maria, com o título de Mãe da Igreja, foi instituída no calendário Romano na segunda-feira depois da Solenidade de Pentecostes, para lembrar que Maria, presente no cenáculo, é mãe e cristã que mergulha nas ações da comunidade da Igreja primitiva, na descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Foi em 2018 que se afirmou essa data litúrgica que foi firmado pelo Decreto da Congregação para o culto Divino, aparecendo nos livros litúrgicos para a celebração da Missa e da Liturgia das Horas."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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¹ Hackmann, Pe. Geraldo Luiz. A IGREJA DA LUMEN GENTIUM E A IGREJA DA GAUDIUM ET SPES Borges FATEO – PUCRS. Revista Trim. Porto Alegre v. 35 Nº 150 Dez. 2005 p. 657- 676.

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06 março 2023, 08:03