Koch na Eslováquia: "o diálogo inter-religioso é o fundamento da paz"
Vatican News
A Manifestação da Vela
O primeiro protesto, organizado em 25 de março de 1988 pelo dissidente católico František Mikloško, foi a primeira expressão pública de resistência ao comunismo na ex-Tchecoslováquia desde a década de 1960, e foi amplamente visto como precursor da Revolução do ano seguinte, que pôs fim aos quarenta e um anos da ditadura no país.
Nesta data, cerca de cinco mil manifestantes se reuniram na Praça Hviezdoslav em Bratislava com velas nas mãos, protestando contra a repressão do governo da Tchecoslováquia à Igreja. A manifestação, que era pacífica, foi violentamente reprimida pela polícia, que primeiro usou canhões de água antes de atacar os manifestantes com cassetetes e paus.
O Cardeak Kurt Koch visitou diversas cidades eslovacas e participou de numerosos encontros ecumênico e de diálogo interreligioso entre os dias 28 e 30 de março.
As palavras do cardeal
A primeira parada do cardeal no país foi a cidade oriental de Košice, onde permaneceu um dia e meio. Enquanto estava lá, ele visitou catedrais ortodoxas, católicas latinas e catedrais greco-católicas, reunindo-se com representantes de cada uma dessas igrejas. Também na agenda estava um encontro com o prefeito de Košice, bem como uma visita ao Santuário de Klokočov e ao Museu das Vítimas do Comunismo.
Em seu discurso, dirigido particularmente ao prefeito, o cardeal fez alusão à religiosidade da cidade através de seus sinos, presentes em todas as igrejas e casas de oração, que convidam a “rezar e abrir seu coração a Deus e ao próximo”. Acrescentou ainda, a respeito da acolhida aos refugiados que “a cidade de Košice, no entanto, não apenas abre regularmente as portas de seus edifícios religiosos, mas também abre os braços para as pessoas que fogem da guerra na Ucrânia. E, graças à colaboração da cidade e das Igrejas, vários milhares de refugiados ucranianos que “encontraram aqui uma segunda casa”. “Aqui, uma das periferias da existência humana, como cita o Papa Francisco, se transformou em um lugar onde somos reconhecidos em nossa humanidade, graças à colaboração das instituições civis e das Igrejas", sublinhou o cardeal.
Ainda na noite do dia 28 de março, o cardeal participou de um Concerto em sua homenagem, oferecido pelos coros das várias igrejas de Košice, onde ficou expresso, nas palavras de Koch, “a esperança de que o dom da concórdia entre as nossas Igrejas e nossos povos nos aproximem cada vez mais e nos façam crescer na amizade.” De fato, a cidade visitada pelo cardeal, e segundo suas palavras, fica na fronteira “entre dois grandes mundos culturais e duas grandes tradições, o local onde convergem o Oriente e o Ocidente da Europa.” Ainda durante o concerto, Koch recordou com gratidão a criação, há quase 30 anos (1994), da Comunidade Ecumênica de Igrejas no território da cidade, destacando que “se é verdade que os sons característicos de cada nota e de cada voz emergem precisamente na harmonia, vamos também rezar para que as Igrejas e as comunidades religiosas testemunhem a vida cristã como um lugar de beleza, porque é um lugar de comunhão.”
A entrevista
“Hoje temos a tendência de dizer: não, religião é coisa privada. Claro, a religião é pessoal, mas não é privada! Se a religião não é pública, uma sociedade não é capaz de ter um diálogo inter-religioso, mas esse diálogo é o fundamento da paz”, disse o cardeal Koch.
Em entrevista reportada por Jozef Bartkovjak SJ, o cardeal Kurt Koch compartilhou suas reflexões com o Vatican News enquanto está em Bratislava, no final de uma visita de três dias (28 a 30 de março) a vários lugares da Eslováquia como prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos e presidente da a Comissão para as relações religiosas com os judeus. O cardeal participou, como último compromisso do programa, no Simpósio da Faculdade de Teologia da Universidade de Trnava, dirigido pelos jesuítas, sobre o tema "Uma síntese dos sete anos de diálogo inter-religioso entre os judeus e os católicos comunidades na Eslováquia".
Eminência, na Eslováquia vivenciou encontros em vários lugares, momentos de ecumenismo, visitas ao memorial da luta pela liberdade. O que você leva no coração ao final desta visita?
Muitas coisas. Em primeiro lugar pude visitar este belo país e depois aprofundar o meu conhecimento das realidades ecuménicas, por exemplo tivemos uma audiência com o Metropolita Rastislav, chefe da Igreja Ortodoxa, um encontro muito cordial para aprofundar esta relação. Eu estava na Faculdade Prešov com um tema muito importante: como podemos alcançar a comunhão sacramental entre ortodoxos e católicos. Houve muitos outros encontros com os Conselhos Ecumênicos, em Košice e aqui em Bratislava. Estou muito impressionado com o grande diálogo entre Igreja e Estado para aprofundar a realidade da liberdade religiosa na sociedade. E isso é muito importante, porque a religião é uma coisa pública.
E hoje também o encontro sobre o diálogo católico-judaico...
Este diálogo é a base de tudo, porque temos uma relação especial com o povo judeu, e é importante aprofundá-la. Acho que o diálogo católico-judaico também ajuda a aprofundar o diálogo ecumênico para todas as igrejas e todas as comunidades que têm raízes no judaísmo.
Você pode dizer que a Eslováquia pode servir de laboratório nesse sentido?
Acho que cada país tem a sua tarefa particular, porque as situações e tendências são muito diferentes e cada um faz o diálogo à sua maneira neste país. Isso pode ajudar os outros também a um diálogo de nível universal que temos que fazer. Sem esses diálogos regionais, nosso trabalho é muito difícil. E neste sentido, também no ecumenismo, é muito importante a contribuição dos diálogos ecumênicos e inter-religiosos. Estou muito feliz com o crescimento desta realidade também na Eslováquia.
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