Maria na Anunciação
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Maria é introduzida no mistério de Cristo definitivamente mediante a Anunciação do Anjo, em Nazaré, "em circunstâncias bem precisas da história de Israel, o povo que foi o primeiro destinatário das promessas de Deus. O mensageiro divino diz à Virgem: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor é contigo»".
Na Carta Encíclica Redemptoris Mater, São João Paulo II recorda que a Anunciação "é a revelação do mistério da Incarnação exatamente no início da sua realização na terra. A doação salvífica que Deus faz de si mesmo e da sua vida, de alguma maneira a toda a criação e, diretamente, ao homem, atinge no mistério da Incarnação um dos seus pontos culminantes", o que constitui "um vértice de todas as doações de graça na história do homem e do cosmos. Maria é a «cheia de graça», porque a Incarnação do Verbo, a união hipostática do Filho de Deus com a natureza humana, se realiza e se consuma precisamente nela. Como afirma o Concílio, Maria é «Mãe do Filho de Deus e, por isso, filha predilecta do Pai e templo do Espírito Santo; e, por este insigne dom de graça, leva vantagem a todas as demais criaturas do céu e da terra»".
Depois de "Maria na história salvífica", Pe Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "Maria na anunciação":
"A intenção do Concílio, na conclusão da LG, não é apresentar um tratado completo e exaustivo de todas as verdades marianas. Não haveria espaço e tempo para falar sobre toda a doutrina Mariológica da Igreja. Mas o intento dos padres conciliares foi de inserir Maria no seu papel fundamental dentro da Igreja, na história da salvação dos homens. Igreja é virgem e mãe, concebida sem pecado e carrega o peso da história, e já possui uma dimensão escatológica. A Igreja é antecipada em Maria. Ela é a Igreja já realizada, ou ela é aquilo que a Igreja deverá ser um dia, quando terminar seu percurso na terra. Por essa razão, a Mariologia insere-se na eclesiologia do Vaticano II, para apontar um ideal a ser perseguido pela Igreja. Maria, a Mãe de Deus, é, assim, modelo para a Igreja e mãe da Igreja.
Estamos dissecando os pontos mariológicos abordados na LG. No número 56 da Lumen Gentium afirma assim sobre Maria e a anunciação: “Mas o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma tão grande missão; e, por isso, não é de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe de Deus «toda santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio Espírito Santo a modelou e d'Ela fez uma nova criatura (175). Enriquecida, desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça» (cf. Lc 1,28); e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).
Deste modo, Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção. Por isso, consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens.
Como diz S. Ireneu, «obedecendo, ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o gênero humano» (176). Eis porque não poucos, Padres afirmam com ele, nas suas pregações, que «o no da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé» (177); e, por comparação com Eva, chamam Maria a «mãe dos vivos»(178) e afirmam muitas vezes: «a morte veio por Eva, a vida veio por Maria»”
Muitos santos Padres e Doutores da Igreja veem na mulher, anunciada no proto-Evangelho, a Mãe de Cristo, Maria, como «nova Eva» (Catecismo da Igreja Católica, 411; 511;726; 975). Os antigos notaram que a saudação de Gabriel, Ave, era o contrário de Eva, nome latino da esposa perfeita que Deus criou para Adão. Mas, essa imagem de Nova Eva, é também atribuída à Igreja, nascida na cruz de Cristo. Como diz o Catecismo: “A Igreja nasceu primeiramente do dom total de Cristo para nossa salvação, antecipado na Eucaristia e realizado na cruz” (CIC, 766).
Podemos afirmar esse trocadilho de letras, apontadas em muitos enunciados: EVA se tornou AVE. A negativa de Eva, é corrigida pelo SIM de Maria. O Papa Bento XVI na festa da Assunção de 2011 disse assim: “ (...) Os nossos progenitores (Adão e Eva) foram derrotados pelo maligno; na plenitude dos tempos, Jesus, novo Adão, e Maria, nova Eva, vencem definitivamente o inimigo, e esta é a alegria deste dia! (...)”. Do mesmo modo que Jesus teria reabilitado o pecado de Adão, assim também Maria teria reabilitado a desobediência de Eva. Santa Maria, Eva da Nova Criação e Mãe dos viventes, rogai por nós”. O Catecismo da Igreja Católica aponta assim: “No termo desta missão do Espírito, Maria torna-se a «Mulher», a nova Eva «mãe dos vivos», Mãe do «Cristo total». É como tal que Ela está presente com os Doze, «num só coração, assíduos na oração», no alvorecer dos «últimos tempos», que o Espírito vai inaugurar na manhã do Pentecostes, com a manifestação da Igreja." (CIC 726)."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui