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Crucificação (Crocifissione), pintura de Masaccio, 1426 Crucificação (Crocifissione), pintura de Masaccio, 1426  

Maria na vida pública e na paixão de Cristo

"A presença mais fundamental de Maria na vida pública de Jesus é aos pés da Cruz, onde Maria está de pé, em sinal de confiança, não de derrota e desânimo. associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d'Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (cfr. Jo. 19, 26-27)”.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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«Fazei aquilo que ele vos disser»: a Carta Encíclica Redemptoris Mater, explica que "a Mãe de Cristo apresenta-se diante dos homens como porta-voz da vontade do Filho, como quem indica aquelas exigências que devem ser satisfeitas, para que possa manifestar-se o poder salvífico do Messias." Assim, em Caná, "graças à intercessão de Maria e à obediência dos servos, Jesus dá início à «sua hora». Em Caná, Maria aparece como quem acredita em Jesus: a sua fé provoca da parte dele o primeiro «milagre» e contribui para suscitar a fé dos discípulos."

O Concílio Vaticano II destaca que a «função maternal de Maria para com os homens, de modo algum obscurece ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia», porque «um só é o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus». Ao mesmo tempo, o "evento de Caná da Galileia nos oferece como que um preanúncio da mediação de Maria, toda ela orientada para Cristo e propendente para a revelação do seu poder salvífico."

Se a passagem do Evangelho de São João sobre os acontecimentos em Caná "apresenta a maternidade desvelada de Maria no início da atividade messiânica de Cristo, há uma outra passagem do mesmo Evangelho que confirma esta maternidade na economia salvífica da graça no seu momento culminante, isto é, quando se realiza o sacrifício de Cristo na Cruz, o seu mistério pascal. A descrição de São João é concisa: «Estavam junto à Cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo a mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!». Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!». E a partir daquele momento, o discípulo levou-a para a sua casa» (Jo 19-, 25-27)".

No programa de hoje deste nosso espaço, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "Maria na vida pública e na paixão de Cristo":

 

"Não estamos, em nosso programa Memória histórica 60 anos, fazendo um tratado mariano. A intenção do Concílio, na conclusão da LG, não é apresentar um resgate completo e exaustivo de todas as verdades marianas. Não haveria como falar sobre toda a doutrina Mariológica da Igreja na Lumen Gentium. Poderia ter havido um decreto mariano à parte. Mas os padres conciliares incluíram a Mariologia dentro da Eclesiologia, para indicar que Maria é modela da Igreja.

Falamos aqui de Maria na anunciação e no infância de Jesus. Hoje vemos Maria na vida pública de seu filho. Assim escreve a LG, no número 58: “Na vida pública de Jesus, Sua mãe aparece duma maneira bem marcada logo no princípio, quando, nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seus milagres. Durante a pregação de Seu Filho, acolheu as palavras com que Ele, pondo o reino acima de todas as relações de parentesco, proclamou bem-aventurados todos os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática (cfr. Mc. 3,35 e paral.; Luc. 11, 27-28); coisa que ela fazia fielmente (cfr. Luc. 2, 19 e 51). Assim avançou a Virgem pelo caminho da fé, mantendo fielmente a união com seu Filho até à cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus (cfr. Jo.19,25), padecendo acerbamente com o seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d'Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (cfr. Jo. 19, 26-27)”.

Maria é mencionada por Lucas em Caná na Galileia, exatamente no momento em que Jesus está começando seu ministério público. Conhecemos os fatos. Qual a resposta que Maria ouviu de Jesus ao seu discreto pedido de intervenção? Que temos nós com isso mulher? (Jo 2,4). De qualquer maneira que se expliquem essas palavras elas soam duras, mortificantes, parecem colocar uma distância entre Jesus e sua Mãe. Mas Maria confia e diz aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”, revelando uma extrema confiança de Maria no Seu amado filho.

Todos os três Sinóticos referem-nos este outro episódio acontecido durante a vida pública de Jesus. Um dia enquanto Jesus estava pregando, chegaram sua Mãe e alguns parentes para falar-lhe. Talvez a Mãe estivesse preocupada com a saúde dele, o que é muito natural para uma mãe, pois que logo antes está escrito que Jesus, por causa da multidão, não podia nem comer (cf. Mc 3,20). Percebemos um detalhe. Maria, a Mãe, precisa até mendigar o direito de ver o Filho e de falar-lhe. Ela não abre caminho no meio da multidão, aproveitando o fato de ser mãe. Pelo contrário, ficou esperando fora enquanto os outros foram até Jesus para informá-lo: "Lá fora está tua mãe que te quer falar". Mas, aqui também, o mais importante é a palavra de Jesus que diz: "Quem são minha mãe e irmãos?" (Mc 3,33). A verdadeira família de Cristo é a quem guarda sua Palavra e Maria é guardiã da Palavra. Quem, mais do que ela, cumpriu com a vontade de Seu Senhor? Jesus havia dito em outro momento: “Felizes os que escutam a palavra de Deus e a põe em prática” (Lc 11,27-28). Os padres conciliares destacam essa fidelidade de Maria à Palavra quando expressam: “Durante a pregação de Seu Filho, acolheu as palavras com que Ele, pondo o reino acima de todas as relações de parentesco, proclamou bem-aventurados todos os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática (cfr. Mc. 3,35; Luc. 11, 27-28); coisa que ela fazia fielmente (cf. Lc 2, 19 e 51)”(LG, 57).

Mas a presença mais fundamental de Maria na vida pública de Jesus é aos pés da Cruz, onde Maria está de pé, em sinal de confiança, não de derrota e desânimo. associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d'Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (cfr. Jo. 19, 26-27)”. É na cruz que a humanidade recebe dos lábios de Jesus a Maternidade de Maria. É exatamente no momento derradeiro de Jesus que ele entrega Maria como Mãe nossa, Mãe da Igreja."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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01 maio 2023, 08:07