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Felinto Lúcio Dantas: música sacra nordestina na Basílica de São Pedro

Novena de São Pedro na Basílica Vaticana, em preparação à Solenidade dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, próximo dia 29 de junho, foi ilustrada pela música sacra de um compositor brasileiro.

Vatican News

Motteto para o célebre hino O Salutaris Hostia, composição de Felinto Lúcio Dantas

Por ocasião da Novena de São Pedro, realizada no Altar da Cátedra da Basílica Vaticana, o Coro do Vicariato da Cidade do Vaticano, dirigido pelo Maestro Temistocle Capone, executou uma composição de Felinto Lúcio Dantas, musicista e compositor norte-riograndense, falecido em 1986, autor de um vasto e harmonioso patrimônio de música sacra na região do Seridó potiguar. A peça sacra escolhida e cantada na celebração, de sua autoria,  foi um Motteto para o célebre hino O Salutaris Hostia, atribuído a S. Tomás de Aquino. O acompanhamento no órgão do Altar da Cátedra na tarde de quarta-feira, 21 de junho, foi por conta do Maestro Gianluca Libertucci.

Quem foi o Maestro Felinto Lúcio Dantas

 

Felinto Lúcio foi um autêntico sertanejo,  nascido em Carnaúba dos Dantas (RN), aos 23 de março de 1898, herdeiro do nome e da fama da gente seridoense, tangedora de gado, cavadora de açudes e plantadora de vazantes. Caminhava solfejando mentalmente os seus esboços sacros, indo ou vindo pelas margens do Rio Carnaúba, na paisagem bucólica e altaneira das serras do Seridó potiguar. Tais inspirações eram fruto de sua grande sensibilidade musical, para a qual se consagrou desde os seus dezessete anos. Felinto Lúcio foi um homem profundamente religioso, cristão autêntico e esclarecido. Homem detentor de uma notória simplicidade, mas rico de sentimentos espirituais que se apresentavam através de sua inclinação para o sagrado. Levou a sua vida entre o trabalho na lavoura e a composição musical de suas obras, entre as quais uma vasta produção destinada à música filarmônica. Mas foram sobretudo nas melodias de suas composições religiosas que o músico, de aparência rústica e discreta, revelou a beleza da sua piedade e a legítima sensibilidade religiosa do povo seridoense. A expressão sacra testemunhou a sua fé constante e suplicante, dolente e fervorosa, fiel ao texto e ao conteúdo. Assim é reconhecido em seus novenários, missas, ladainhas, motetos eucarísticos, compondo várias melodias para as orações do Pai Nosso e da Ave Maria, além do Tantum Ergo Sacramentum, bem como as melodias por ele compostas para os hinos de padroeiros de várias paróquias e comunidades. A sua música floresce desde o seu profundo espírito religioso, passando através da sua genialidade, tomando inspiração e decifrando os sons e a beleza da  paisagem e do semiárido nordestino para traduzi-lo na escala musical, tendo como objetivo o louvor de Deus e a prece pública da Igreja. Foi por décadas Maestro da banda de música e do coral e orquestra sacra da cidade de Acari (RN).

Felinto Lúcio nasceu em Carnaúba dos Dantas (RN), em 23 de março de 1898
Felinto Lúcio nasceu em Carnaúba dos Dantas (RN), em 23 de março de 1898

Em 1978, o Centro Cultural Mobral gravou em um LP duplo, algumas de suas obras, contando com a participação do Maestro Radamés Gnattali. Em 1982 gravou depoimento para o programa “Memória viva”, da TV Universitária. Em 1983, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte gravou outras de suas composições em um LP editado naquele ano. Em 1997 teve a música sacra “A quinta novena”, executada em missa na Catedral do Rio de Janeiro, com a presença do Papa João Paulo II.

A obra religiosa do Mestre Felinto Lúcio Dantas se pode classificar como pertencente ao gênero Ceciliano da música sacra, movimento consolidado a partir da reforma do Papa São Pio X, que promoveu uma maior sobriedade e participação dos fiéis através do canto litúrgico na Igreja.

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23 junho 2023, 08:00