Gallagher, diplomacia da Santa Sé: ação de pastores, não funcionários
Beatrice Guarrera – Vatican News
"Desenvolver uma “cultura do encontro”, porque a própria diplomacia traz em si o esforço do encontro." A conferência organizada, na última segunda-feira (19/06), em Roma, no Palazzo San Calisto, pela associação de direito pontifício, Caridade Política, parte desta necessidade fundamental. A diplomacia é um “veículo de diálogo, cooperação e reconciliação” em vez de reivindicações e contraposições fratricidas e é capaz de substituir o uso da força, refere uma nota de Caridade Política.
Isto foi debatido na conferência intitulada "Diplomacia da Santa Sé e cultura do encontro", coordenada por Alfredo Luciani, presidente da associação Caridade Política, que contou com a participação do secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais, dom Paul Richard Gallagher, de Mahmoud Talaat, embaixador da República Árabe do Egito junto à Santa Sé e de Marcus Bergmann, embaixador da Áustria junto à Santa Sé.
"A cultura do encontro", disse dom Gallagher, "sustenta a vocação missionária que os representantes papais, junto com seus colaboradores, vivem em seu ministério nos vários países do mundo". Em seu discurso, o arcebispo destacou alguns episódios bíblicos que podem servir de base para a reflexão sobre a diplomacia papal: desde o encontro entre Abraão e o sacerdote Melquisedeque (Gênesis 14, 17-20) - um exemplo eloquente da amizade entre os povos desde os tempos antigos - até aquele entre o profeta Eliseu e Naamã, o líder do exército do rei de Aram (2 Reis, 5) e entre Dario, rei dos persas, e o profeta Daniel, que foi jogado na cova dos leões por ter transgredido o decreto que proibia súplicas a qualquer divindade que não fosse o próprio monarca persa (Daniel, 6). Há vários encontros com estrangeiros narrados nos Evangelhos, que têm Jesus como protagonista: a cura do servo do centurião romano (Mateus 8, 5-13) e da filha de uma mulher siro-fenícia na região de Tiro e Sidônia (Marcos 7, 24-30), a parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37), a conversa à beira do poço com uma mulher samaritana (João 4, 1-42) e o diálogo com Pôncio Pilatos (João 18, 33-40).
Os encontros com Jesus têm sempre um caráter pessoal, sublinhou dom Gallagher, e assim também devem ser os encontros dos diplomatas da Santa Sé que "não são funcionários, mas pastores, e como arcebispos e sacerdotes falam ao coração das pessoas que recebem". O livro bíblico que melhor exprime a cultura do encontro é o dos Atos dos Apóstolos, onde se encontra a história de Pentecostes, "sobre a qual se fundamenta a certeza cristã de que os seres humanos podem se entender e se unirem" numa comunidade fraterna e solidária. A cultura do encontro também se encontra nos escritos paulinos e no livro do Apocalipse, que narra o último encontro da humanidade diante do divino e recorda a importância do testemunho. “De fato, para promover a cultura do encontro, o diplomata da Santa Sé deve ser também uma autêntica testemunha do Evangelho, um incansável agente de paz e um apóstolo apaixonado da reconciliação”.
Para a Associação Caridade Política, a conferência foi uma ocasião para lançar, em vista do próximo Jubileu, a criação do Polo das Religiões em Roma, "um instrumento para crescer rumo a uma fé cada vez mais madura e consciente". Na origem desta iniciativa está, em primeiro lugar, a crescente tomada de consciência da importância do diálogo entre as culturas e entre as religiões, mas também a crescente presença em Roma de membros das grandes religiões do mundo, numa cidade que é chamada a ser o ponto de partida de referência para a cultura do encontro. O Polo das Religiões está em continuidade com a diplomacia com um objetivo comum: tornar as religiões de fontes de conflito em instrumentos de paz, partilha de vida e solidariedade, a fim de favorecer o encontro na fraternidade humana.
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