Nossa Senhora Peregrina - Parte I
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
No Angelus que precede a 42ª Viagem Apostólica de seu Pontificado, o Papa Francisco confiou a Virgem Maria os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude e todos os jovens do mundo. De fato, ao lado de cada um desses jovens peregrinos, estará Nossa Senhora Peregrina, que é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt:
"A Igreja Católica no mundo vive uma grande festa e peregrinação dos Jovens com a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa neste período com pré-Jornada, Jornada e pós-jornada. Milhões de jovens peregrinos para ouvir a Palavra do Papa Francisco, para mostrar o rosto e dinamismo jovem da Igreja. Achamos por bem, em nossa abordagem Mariana, aprofundar uma das faces de Nossa Senhora como peregrina, unindo-nos à essa caminhada juvenil da JMJ.
Depois do anuncio do Anjo Gabriel, Maria poderia ter se acomodado em sua casa, pois carregava em seu ventre o Verbo da Vida. Mas, logo ela se põe a caminho para visitar sua prima Santa Isabel. Maria, portanto, também faz sua jornada, sua peregrinação, sua caminhada à longínqua casa de Isabel. Ela é mãe peregrina. Ela é protótipo também da Igreja que peregrina, nesse vale de lágrimas, a caminho da casa Paterna.
São João Paulo II, iniciador das JMJ, em sua Carta Encíclica Redemptoris Mater, escreve assim, sobre esse episódio da Visita de Maria à sua prima Santa Isabel: “Logo depois de ter narrado a Anunciação, o Evangelista São Lucas faz-nos de guia, seguindo os passos da Virgem em direção a «uma cidade de Judá» (Lc 1, 39). Segundo os estudiosos, esta cidade devia ser a «Ain-Karim» de hoje, situada entre as montanhas, não distante de Jerusalém. Maria dirigiu-se para lá «apressadamente», para visitar Isabel, sua parente. O motivo desta visita há-de ser procurado também no fato de Gabriel, durante a Anunciação, ter nomeado de maneira significativa Isabel, que em idade avançada tinha concebido do marido Zacarias um filho, pelo poder de Deus: «Isabel, tua parente, concebeu um filho, na sua velhice; e está já no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus» (Lc 1, 36-37). O mensageiro divino tinha feito recurso ao evento, que se realizara em Isabel, para responder à pergunta de Maria: «Como se realizará isso, pois eu não conheço homem?» (Lc 1, 34). Sim, será possível exatamente pelo «poder do Altíssimo», como e ainda mais do que no caso de Isabel.
Maria dirige-se, pois, impelida pela caridade, a casa da sua parente. Quando aí entrou, Isabel, ao responder à sua saudação, tendo sentido o menino estremecer de alegria no próprio seio, «cheia do Espírito Santo», saúda por sua vez Maria em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre» (cf. Lc 1, 40-42). Esta proclamação e aclamação de Isabel deveria vir a entrar na Ave Maria, como continuação da saudação do Anjo, tornando-se assim uma das orações mais frequentes da Igreja. Mas são ainda mais significativas as palavras de Isabel, na pergunta que se segue: «E donde me é dada a dita que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?» (Lc 1, 43). Isabel dá testemunho acerca de Maria: reconhece e proclama que diante de si está a Mãe do Senhor, a Mãe do Messias. Neste testemunho participa também o filho que Isabel traz no seio: «estremeceu de alegria o menino no meu seio» (Lc 1, 44). O menino é o futuro João Batista, que, nas margens do Jordão, indicará em Jesus o Messias.
Todas as palavras, nesta saudação de Isabel, são densas de significado; no entanto, parece ser algo de importância fundamental o que ela diz no final: «Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor» (Lc 1, 45). [28] Estas palavras podem ser postas ao lado do apelativo «cheia de graça» da saudação do Anjo. Em ambos os textos se revela um conteúdo mariológico essencial, isto é, a verdade acerca de Maria, cuja presença se tornou real no mistério de Cristo, precisamente porque ela «acreditou». A plenitude de graça, anunciada pelo Anjo, significa o dom de Deus mesmo; a fé de Maria, proclamada por Isabel aquando da Visitação, mostra como a Virgem de Nazaré tinha correspondido a este dom” (RM, 12).
A LG número 58 nos aponta Maria no “caminho da fé”. Toda sua vida é um caminho, uma peregrinação da fé. Escreve assim, Ir. Maria Ko Ha Fong, da congregação salesiana, num aprofundamento teológico[1]: “A imagem de Maria a caminho emerge com nitidez nos evangelhos e foi sempre rica de reflexão ao longo da história da Igreja. Maria encontra-se com frequência a caminho: sai, caminha, desloca-se mais do que as mulheres do seu tempo. As suas viagens entre Nazaré, Ain Karim, Belém, Jerusalém, Egito são acompanhadas de um dinamismo interior muito intenso. Toda a sua vida é um caminho, uma «peregrinação da fé» (cf. Lumen Gentium, 58). A mariologia conciliar realça esta «peregrinação» de Maria, vendo nela um modelo permanente para toda a Igreja. Não só. Maria mesma é caminho, caminho que conduz a Cristo, caminho que conduz «ao Caminho»”. Jesus diz: Eu sou O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] https://donboscosalesianportal.org/wp-content/uploads/GFS_2016_MariaKo_pt.pdf
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